A metamorfose da política industrial

Data do artigo: 18 de julho de 2019

Autor del post - Jorge Arbache

Vicepresidente de Sector Privado, CAF -banco de desarrollo de América Latina y el Caribe-

As políticas industriais estão entre as áreas mais significativas, mas também mais controversas, da política econômica. E não faltam razões para isso, incluindo evidências de que podem minar a livre concorrência e o livre comércio, ajudar a proteger grupos de interesse e estimular a concentração de renda. Os governos de países de diferentes níveis de desenvolvimento e orientação ideológica têm justificado o uso de políticas industriais – algumas delas controversas – como forma de apoiar setores e empresas domésticos, incluindo a geração de emprego e renda, o desenvolvimento tecnológico e a segurança nacional.

Os defensores das políticas industriais, especialmente nos países mais avançados, seriam pragmáticos ao incorporar as recentes transformações econômicas em suas agendas de trabalho. Considere-se o apoio de empresas multinacionais e a priorização de setores com rendas monopolistas no comércio internacional. Exemplos notáveis disso foram a promoção das indústrias aeroespacial, automotiva e farmacêutica. A agenda continuou a se adaptar e incorporou questões de interesse nas cadeias de valor globais, bem como assuntos estratégicos para empresas multinacionais, tais como operações globais unificadas e fusões e aquisições, o que ajudou a estimular um processo de concentração de mercados internacionais sem precedentes.

No entanto, as políticas industriais passariam por novas ondas de mudança com o crescente protagonismo dos serviços de valor agregado, o que alterou o eixo dessas políticas para sempre. Com a abordagem original na produção de bens tangíveis, a política industrial daria prioridade aos bens intangíveis; e, com a abordagem original nas linhas de produção de bens, a política passou a priorizar o desenvolvimento, a gestão e a distribuição de serviços. Temas como patentes, licenças, serviços digitais, serviços profissionais e financeiros, convergência e liberalização de serviços, contratação pública, entre outros, chamaram a atenção dos defensores da política industrial.

As políticas industriais passaram por mudanças ainda mais dramáticas com o surgimento de plataformas digitais e de grandes empresas de tecnologia, que se tornaram objeto de desejo dos defensores dessas políticas. O rápido e crescente poder e a concentração dos mercados digitais, bem como a disputa entre umas poucas grandes empresas pelo domínio, levaram a conflitos internacionais tensos no que diz respeito a políticas industriais. Questões relacionadas a dados privados seriam combinadas com denúncias de abuso de domínio de mercado e com manobras das empresas para evadir impostos e escapar de jurisdições nacionais, o que abriu outra frente de tensão. Entretanto, o apoio às grandes empresas de tecnologia não foi o ponto culminante das políticas industriais contemporâneas.

De fato, o incentivo e o apoio ao desenvolvimento, a disseminação e a adoção de certificações, protocolos e normas técnicas e regulatórias administrados por organizações privadas são, provavelmente, as políticas públicas mais efetivas para defender interesses comerciais. Afinal de contas, essas normas são monopólios, demarcaram o campo de jogo e, praticamente, determinam a participação de empresas e, até mesmo, de países em mercados globais. Trata-se de sistemas operacionais e de telecomunicações, protocolos técnicos para a produção e operação de robôs e máquinas, protocolos de produção industrial e de comércio eletrônico, de sistemas de pagamento, normas e protocolos técnicos para o transporte, comercialização de bens e serviços, protocolos financeiros e de mercado de capitais, protocolos de avaliação de empresas e bancos, normas fitossanitárias, entre outros.

Dessa forma, as políticas industriais passaram por uma profunda metamorfose e foram muito além das medidas protecionistas e mercantilistas convencionais. Apesar da sofisticação das novas agendas, no entanto, seus objetivos finais seriam, basicamente, os mesmos que no passado, embora, agora, com impactos muito mais fortes sobre a concorrência e o livre comércio, a defesa de interesses setoriais e a distribuição de renda. Não seria exagero concluir que, em suas variadas nomenclaturas e manifestações, as políticas industriais contemporâneas são as políticas econômicas mais influentes do início do século XXI.

#Produtividade O caminho a seguir exigirá a colaboração entre os setores público e privado para identificar, planejar, elaborar e implementar políticas que promovam atividades que acelerem o crescimento sustentado

E o que acontece na América Latina? As políticas industriais de proteção do mercado têm sido amplamente utilizadas nas últimas décadas, mas sua contribuição para a região é controversa. Dada a nossa defasagem no desenvolvimento no contexto de forte ativismo internacional das políticas industriais, é preciso reconhecer que as políticas horizontais, como as baseadas em infraestruturas, não serão suficientes para superar os desafios do futuro. O caminho a seguir exigirá a colaboração entre os setores público e privado para identificar, planejar, elaborar e implementar políticas que promovam atividades que acelerem o crescimento sustentado e a competitividade internacional, dentro um quadro de transparência e governança.

Um caminho promissor é explorar o imenso potencial para agregar valor e internacionalizar os setores em que a região já possui reconhecidas vantagens comparativas e empreendedores experientes, instituições especializadas e conhecimento acumulado. Esses setores incluem segmentos de agronegócio, água, bioeconomia, silvicultura, mineração e de indústrias e serviços. Para avançar, será preciso incentivar o desenvolvimento de capacidades, o desenvolvimento científico e tecnológico, a criação de parcerias comerciais, parcerias estratégicas e a produção, gestão e distribuição de serviços avançados associados a esses setores. O potencial dos lucros com o aumento da produtividade das pequenas e médias empresas e a integração do mercado regional também deveria fazer parte de uma agenda que permita nos colocar em uma posição melhor na economia global.

Jorge Arbache

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Jorge Arbache

Vicepresidente de Sector Privado, CAF -banco de desarrollo de América Latina y el Caribe-

Antes de su ingreso a CAF fue Secretario de Asuntos Internacionales del Ministerio de Planificación, Desarrollo y Gestión de Brasil y Secretario Ejecutivo del Fondo de Inversión Brasil-China. También fue economista jefe en el Ministerio de Planificación en Brasil; Asesor económico principal de la Presidencia de BNDES y Economista Principal del Banco Mundial en Washington, DC. También es profesor de economía en la Universidad de Brasilia. Arbache tiene más de 28 años de experiencia en las áreas de gobierno, academia, organizaciones internacionales y sector privado. Su interés radica en agendas de crecimiento económico y políticas sectoriales que incluyen comercio internacional, inversión, productividad, competitividad, innovación, economía digital, industria y servicios. Es autor de cuatro libros y docenas de artículos científicos publicados en revistas académicas internacionales. Es licenciado en Economía y en Derecho y Doctor en Economía por la Universidad de Kent (Reino Unido).

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