A urgência de fortalecer nossa resiliência digital

Data do artigo: 22 de abril de 2020

Autor del post - Carlos Santiso

Director de Innovación Digital del Estado, CAF -banco de desarrollo de América Latina-

Este artigo também foi publicado no Cinco Días

A covid-19 colocou à prova a capacidade digital das sociedades, economias e governos e se tornou uma espécie de auditoria global sobre a nossa resiliência digital. Nossas vidas mudarão drasticamente quando a crise passar, e, embora ainda não saibamos como, precisamos acelerar a transformação digital em todos os aspectos das nossas vidas, e isso também envolve os Estados.

Não é mais possível adiar a necessidade de serviços públicos digitais, procedimentos burocráticos online, infraestruturas eficientes de conectividade e pessoal preparado para o trabalho remoto e com as habilidades necessárias para o mundo digital. Nas últimas semanas, temos visto governos nacionais e locais preocupados em desenvolver aplicativos, bots e outras respostas tecnológicas que podem ser muito valiosas para mitigar os efeitos da covid-19.

No curto prazo, as soluções digitais devem ajudar a garantir a transparência dos processos de compra dos programas de emergência que estão sendo implementados. Não podemos esquecer que a corrupção e a ineficiência nos gastos públicos podem significar um aumento da letalidade durante a pandemia. Há exemplos de inovações digitais que, combinadas com dados abertos, não só ajudam a manter a integridade no processo de enfrentamento à crise, mas também o tornam mais eficiente.

Por exemplo, na Colômbia, a agência de contratação públicaColombia Compra Eficiente (CCE) está inovando ao estabelecer regulamentações extraordinárias de contratação. O Sistema Eletrônico de Contratação permite que as empresas se cadastrem para contratações e para a firma de acordos de preços para enfrentamento à emergência. A CCE realizará audiências públicas de licitação, e os contratos serão anunciados por meios digitais. Enquanto esta situação durar, as entidades públicas poderão adquirir os bens por meio da virtual store, e, em caso de descumprimento, serão impostas sanções eletronicamente.

Além disso, o Ministério de Tecnologias da Informação e Comunicação do Paraguai, por meio da lei de declaração de emergência, colocou à disposição dos órgãos estatais, sob a forma de dados abertos, um portal para acessar informações relevantes sobre os gastos com a emergência. Isso facilita o trabalho colaborativo entre órgãos de controle, executores dos gastos e a sociedade civil.

Na Europa, na Ucrânia, o sistema digital de compra pública Dozorro monitora as compras de produtos médicos e os gastos com a emergência, tornando possível rastrear as diferenças de preços para os testes de covid-19 e verificar o preço dos insumos para os hospitais. No Reino Unido, como a demanda por respiradores para UTIs estava maior do que a oferta, foi aberto um edital para outro tipo de indústria - como a automotiva - para que desenvolvam inovações tecnológicas com o objetivo de atender à emergência. Esse processo se tornou mais fácil graças ao sistema de compras públicas online.

Esses exemplos mostram que a crise está acelerando a transformação digital dos serviços públicos. Em tempos de coronavírus, a administração pública está se vendo forçada a interagir com a população completamente por meios digitais, e com muita inovação. O Panamá, por exemplo, desenvolveu a plataforma ROSA (Resposta Operacional de Saúde Automática), um assistente virtual via WhatsApp que orienta as pessoas usando algoritmos de inteligência artificial para determinar as características do paciente. Dependendo do resultado, encaminha o paciente para um consultório virtual, onde é avaliado por médicos, que podem enviar uma ambulância para um exame físico e atendimento domiciliar, ou ainda encaminhá-lo para um hospital. A Colômbia desenvolveu CoronApp, um aplicativo para reportar sintomas e que oferece informações centralizadas sobre as medidas do governo, recomendações de prevenção, localização de serviços de saúde e canais de atendimento.

As startups digitais também contribuem para os esforços com novas soluções. Nenhum governo, muito menos municipal, pode lidar sozinho com a emergência sanitária nem com as consequências que surgirão no médio e no longo prazos. Para gerir informações em tempo real, o aplicativo City Listener de OS City na América Latina permite identificar as necessidades da população, georreferenciar violações de quarentena e saber o estado de abastecimento de diversos insumos nos centros de saúde.

Para melhorar a traçabilidade do contágio, o aplicativo TraceTogether de Govtech Singapur usa tecnologia de criptografia e o Bluetooth dos celulares para detectar encontros entre cidadãos. As informações ficam registradas por 21 dias, em virtude da possível duração do vírus. Para acompanhar os pacientes contagiados, Taiwan criou uma 'barreira digital' usando grandes quantidades de dados e tecnologia móvel para monitorar a localização dos infectados e enviar mensagens de alerta quando estiverem fora de um raio determinado e possam colocar outros em risco.

A crise atinge as cidades em particular, e todos nós nos perguntamos como será a vida após o confinamento. Não restam dúvidas de que os dados se tornarão cada vez mais importantes. Na América Latina, região em desenvolvimento mais urbanizada do planeta, o desafio é monumental, especialmente devido à baixa qualidade da infraestrutura urbana, à alta densidade populacional e à informalidade social.

Esta crise deve servir para repensar a reforma do Estado, restaurar sua capacidade, fortalecer sua agilidade e acelerar sua transformação digital por meio das novas tecnologias e da inteligência de dados.

Carlos Santiso

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Carlos Santiso

Director de Innovación Digital del Estado, CAF -banco de desarrollo de América Latina-

Carlos Santiso es Director de Innovación Digital del Estado en CAF desde 2018. En las últimas dos décadas, ha trabajado en más de dos docenas de países en diversas capacidades en bancos multilaterales de desarrollo, agencias gubernamentales, e organismos internacionales. Antes de unirse a CAF dirigió la división de Innovación para los Servicios Ciudadanos del Banco Interamericano de Desarrollo, que integro en 2011 para liderar la División de Capacidad Institucional del Estado. Anteriormente, se desempeñó como gerente sectorial de gobernabilidad en el Banco Africano de Desarrollo entre 2007 y 2011, como asesor de gobernabilidad del ministerio británico para el desarrollo internacional entre 2002 y 2007 y como oficial principal en el Instituto Internacional para la Democracia y la Asistencia Electoral entre 1996 y 2000. Comenzó su carrera como asesor en la Oficina del Primer Ministro francés entre 1995 y 1996. Es miembro fundador de la junta asesora del Centro para la Gobernabilidad Democrática en Burkina Faso. Carlos tiene un doctorado. en economía política comparada de la Universidad Johns Hopkins (2006), un máster en política económica internacional de la Universidad de Columbia (1995) y un máster en política pública del Institut d’Etudes Politiques de Paris (1993). 

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