Alta tecnologia com baixa produtividade

Data do artigo: 15 de agosto de 2022

Autor del post - Jorge Arbache

Vicepresidente de Sector Privado, CAF -banco de desarrollo de América Latina y el Caribe-

Como explicar a persistente pobreza e o atraso econômico da América Latina e do Caribe? As explicações são, claro, muitas, mas diversos analistas destacariam a falta de reformas econômicas. Quando olhamos mais de perto, no entanto, vemos que a região vem passando por sucessivas reformas desde, pelo menos, a década de 1990. De fato, a região promoveu a abertura econômica e assinou acordos comerciais e de investimento, flexibilizou leis em diferentes áreas da economia, adotou novas políticas monetárias e fiscais, entre muitas outras medidas. Por que, então, a pobreza ainda é alta e o crescimento econômico, frustrante?

Para ajudar a desvendar a questão, considere uma variável importante: a produtividade. A produtividade da região representava 40% da americana em 1980, mas, hoje, corresponde a apenas 26%. Algo semelhante acontece na comparação com países europeus. Definitivamente, há algo de errado com essa variável muito importante. Existem várias explicações para a baixa produtividade, mas avaliemos uma delas em particular. A evidência empírica sugere que há uma defasagem no uso e aplicação de tecnologias de ponta, o que ajudaria a explicar uma parte importante do diferencial de produtividade entre os países.

Como exemplo, pense em um caso muito simples e familiar: o celular. Além da comunicação convencional e em redes sociais, o celular democratizou o acesso a uma gigantesca lista de informações e bancos de dados, aplicativos sofisticados para fins profissionais e acesso ao mercado, aplicativos acadêmicos, de conhecimento, aprendizado e treinamento, entre muitos outros serviços com potencial impacto na produtividade. Não obstante, e apesar de tantas pessoas na região terem telefones celulares (em 2020, eram 102 linhas de telefonia móvel habilitadas para cada 100 pessoas), as evidências mostram que o uso e a exploração dessa tecnologia para fins profissionais foi bastante discrepante entre pessoas da região e de países avançados. Algo semelhante é observado no uso de computadores, robôs, equipamentos de transporte, construção civil e outras tecnologias. Como desvendar esse enigma da relação entre alta tecnologia e baixa produtividade?

A explicação mais poderosa está associada às deficiências de capital humano, desde a baixa escolaridade até indicadores relevantes para a adoção e uso de tecnologias, como desenvolvimento cognitivo, habilidades específicas em áreas tecnológicas, disponibilidade de engenheiros e cientistas e disponibilidade de universidades e centros de pesquisa. As evidências mostram que o enorme atraso da região nesses indicadores tem implicações como resistência à adoção e uso de novas tecnologias e métodos de trabalho, incapacidade de gerenciar novas tecnologias, baixa qualidade de produtos e serviços, baixa pontualidade com os clientes, além do desenvolvimento insignificante de novas tecnologias, mesmo em áreas onde os países da região já têm uma presença produtiva significativa, como mineração e agricultura.

Na verdade, a história mostra que, quando a tecnologia é pobre ou mal utilizada, pode ser punitiva. Tomemos o caso do Chile, no fim do século XIX e início do século XX. Na virada do século, o país detinha cerca de 40% do mercado mundial de cobre, mas, em 1911, essa participação caiu para menos de 4%, devido a práticas de produção primitivas e pouco conhecimento de geologia e métodos avançados de processamento, o que levou o país experimentar uma queda significativa na produção. Somente com a aquisição das minas chilenas por empresas estrangeiras que manejam tecnologias avançadas, o país recuperaria um papel de liderança no setor. Um caso semelhante viveu o México no mesmo período. Em contraponto, o desenvolvimento da indústria mineira norte-americana, no século XIX, foi acompanhado por pesados ​​investimentos em capital humano e em desenvolvimento científico e tecnológico, que dariam origem a uma vasta gama de atividades derivadas diversificadas e sofisticadas e a uma crescente liderança em vários setores, fabricantes da cadeia de valor correspondente. A questão, portanto, é sobre como e não apenas sobre o que é produzido.

As experiências do Brasil são reveladoras. Até por volta da década de 1990, o país era importador líquido de alimentos, mas os grandes investimentos em conhecimento, ciência e tecnologia, treinamento e extensão iniciados na década de 1970 levariam o país a incorporar, adaptar e desenvolver tecnologias e aumentar a produtividade, para se tornar um dos maiores exportadores agrícolas do mundo. Outra experiência foram os pesados investimentos iniciados décadas atrás na formação de engenheiros, técnicos e cientistas da área petrolífera, o que levaria o país não só a incorporar, mas também a desenvolver tecnologias em áreas avançadas, como a produção em águas superprofundas e pré-sal e pós-sal e se tornaria um dos maiores produtores de petróleo do mundo.

Uma terceira experiência é o setor aeroespacial. Uma determinada política de formação de engenheiros e técnicos, também iniciada há décadas, levaria o país a incorporar inicialmente e, em seguida, desenvolver tecnologias que o levariam a assumir uma posição relevante na indústria aeronáutica mundial e outras tecnologias avançadas. Embora experiências como essas sejam bastante importantes, também revelam a necessidade de fundamentar a agenda do capital humano em prol de toda a economia e não de forma localizada, de modo que se promova o aumento amplo e generalizado da produtividade, que é a receita mais importante e perene para romper com o atraso econômico e social.

Investir em capital humano, gestão, ciência, tecnologia e inovação será essencial para que a região realize seu potencial inigualável de negócios em mudanças climáticas, bioeconomia, agricultura e mineração sustentáveis, segmentos industriais e muitos outros setores e desenvolva soluções adequadas ao contexto local. Afinal, já aprendemos que simplesmente importar tecnologias não nos leva muito longe. Só assim será possível crescer a taxas mais elevadas, gerar empregos de qualidade e promover uma qualidade de vida digna para toda a população.

Jorge Arbache

Fechar modal
Jorge Arbache

Vicepresidente de Sector Privado, CAF -banco de desarrollo de América Latina y el Caribe-

Antes de su ingreso a CAF fue Secretario de Asuntos Internacionales del Ministerio de Planificación, Desarrollo y Gestión de Brasil y Secretario Ejecutivo del Fondo de Inversión Brasil-China. También fue economista jefe en el Ministerio de Planificación en Brasil; Asesor económico principal de la Presidencia de BNDES y Economista Principal del Banco Mundial en Washington, DC. También es profesor de economía en la Universidad de Brasilia. Arbache tiene más de 28 años de experiencia en las áreas de gobierno, academia, organizaciones internacionales y sector privado. Su interés radica en agendas de crecimiento económico y políticas sectoriales que incluyen comercio internacional, inversión, productividad, competitividad, innovación, economía digital, industria y servicios. Es autor de cuatro libros y docenas de artículos científicos publicados en revistas académicas internacionales. Es licenciado en Economía y en Derecho y Doctor en Economía por la Universidad de Kent (Reino Unido).

Assine nossa newsletter