Christian Asinelli
Vicepresidente Corporativo de Programación Estratégica, CAF -banco de desarrollo de América Latina y el Caribe-
Argentina
Este artigo foi publicado no Infobae
As cidades desempenham um papel cada vez mais importante no combate às mudanças climáticas. Globalmente, concentram mais da metade da população e são responsáveis por 70% das emissões de gases de efeito estufa no mundo. Como resultado dessa realidade, na América Latina precisamos de uma mudança de foco no modelo de desenvolvimento econômico e urbano que avance na construção de comunidades mais sustentáveis. Embora a melhoria da produtividade seja uma das defasagens mais importantes da região, as cidades da América Latina e do Caribe não podem continuar se desenvolvendo sob modelos que se mostraram obsoletos em termos de proteção da natureza e consumo racional de recursos.
É por isso que o CAF -banco de desenvolvimento da América Latina- tem como objetivo promover uma visão de desenvolvimento urbano sustentável que coloque os cidadãos no centro e repense o vínculo das sociedades com a natureza. Queremos nos tornar o banco banco verde da América Latina e do Caribe até o fim da década e almejamos pelo menos 40% de nossas aprovações em 2026 para financiar projetos de adaptação e mitigação que aumentem a resiliência climática em nossa região.
Neste quadro, trabalhamos para a preservação da biodiversidade, a construção de habitats sustentáveis e a melhoria da gestão urbana, em consonância com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), especificamente o ODS 11, “Cidades e Comunidades Sustentáveis”. Por exemplo, desenvolvemos a Rede de BiodiverCidades que já convocou a adesão de 94 governos locais em toda a América Latina, para o estabelecimento de espaços de troca de conhecimentos, experiências e boas práticas que permitam promover o crescimento econômico em harmonia com a natureza.
Também financiamos mega projetos de infraestrutura que contribuem para a melhoria da qualidade de vida dos habitantes da região. Entre eles, destaca-se o Paseo del Bajo, em Buenos Aires, no qual contribuímos com USD 400 milhões para melhorar exponencialmente a mobilidade urbana e fornecer uma solução estrutural para problemas como congestionamentos e poluição ambiental. Além disso, concedemos três empréstimos, em um total de USD 332 milhões, para promover uma transformação abrangente da cidade brasileira de Fortaleza, ajudando a impulsionar os espaços de lazer, promover a atividade comercial e executar diversas obras viárias. Também, por meio de recursos não reembolsáveis, colaboramos com a estruturação de planos com foco ambiental, como o Projeto Especial de Recuperação do Rio Rimac, que melhorará a qualidade ambiental dos ambientes do curso d'água onde residem as famílias que vivem no Centro Histórico de Lima.
Mais ainda, esta semana, participamos da Cúpula Mundial de Prefeitos C40, em Buenos Aires, que reuniu mais de 100 líderes comunitários de cidades de todo o mundo, os quais refletiram, trocaram ideias e boas práticas em torno da redução de emissões, a transformação e criação de empregos verdes e o acesso ao financiamento para enfrentar a transição energética. No painel de encerramento do encontro, que também reuniu representantes de organizações internacionais, bancos regionais e outras autoridades locais, tive a oportunidade de levantar três questões que, para o CAF, são centrais para a colaboração entre instituições financeiras para promover ações climáticas nas cidades.
Primeiro, a coordenação como pilar fundamental para estabelecer o trabalho multilateral na América Latina e no Caribe. A capacidade de financiamento das organizações regionais (CAF, Banco Mundial, BID, FONPLATA, Banco Centro-Americano, entre outras) gira em torno de USD 65 bilhões, e sabemos que, para eliminar as lacunas em infraestrutura e desenvolvimento que ainda existem na América Latina e no Caribe, são necessários aproximadamente USD 600 bilhões, anualmente. Portanto, é necessário garantir um trabalho coordenado que gere o maior impacto possível, não permita a sobreposição de programas e tenda a aumentar a eficiência.
Em segundo lugar, a importância de uma mudança de paradigma que promova sistemas de proteção e cuidado da natureza e, ao mesmo tempo, atenda ao consumo racional de recursos. Atualmente, mais de 2 bilhões de pessoas no mundo não têm acesso a serviços básicos de água e saneamento; por isso, é essencial promover transformações e mudanças de hábitos para enfrentar a crise climática. No caso do uso dos recursos hídricos, por exemplo, é importante passar de uma visão de abundância para uma visão de eficiência em torno da gestão da água.
E, finalmente, a importância de trabalhar em conjunto com os governos locais para cuidar da gestão urbana sustentável na América Latina e no Caribe. Os governos locais são aqueles que estão mais próximos das pessoas, que recebem suas reivindicações, suas reclamações, propostas e que podem melhor canalizar as preocupações que recebem para transformá-las em políticas reais que promovam mudanças reais.
É importante notar que não há desenvolvimento urbano sustentável sem desenvolvimento social. O planejamento do uso do solo nas cidades deve sempre incluir uma abordagem de justiça espacial que promova maior equilíbrio e, acima de tudo, gerar modelos de desenvolvimento urbano mais justos, resilientes e inclusivos.