Bancos ou fintechs?

Data do artigo: 11 de dezembro de 2020

Autor del post - Jorge Arbache

Vicepresidente de Sector Privado, CAF -banco de desarrollo de América Latina y el Caribe-

O crescimento do número e alcance das fintechs tem sido amplamente celebrado. Isto porque essas startups oferecem serviços financeiros e não financeiros inovadores e disruptivos, brindam os clientes com maior conveniência por meio do uso intensivo de tecnologias digitais e têm modelos de negócios ágeis, versáteis e flexíveis. Os resultados positivos já estão aí, com aumento da competição, diversificação de serviços e inclusão financeira. Não por acaso, autoridades de vários países têm estimulado a agenda de fintechs, inclusive com instrumentos e regimes normativos especiais, como o sandbox e o open banking.

O crescimento das fintechs tem levado muitos observadores a concluírem que haveria um “novo normal” no ecossistema do mercado financeiro e que aquelas startups seriam uma ameaça à dominância dos bancos. De fato, diferentemente das fintechs, os bancos são altamente regulados e têm custos elevados, têm modelos de negócios tradicionais e estão distanciados das novas necessidades e demandas dos clientes. A pandemia veio a acentuar a percepção da necessidade de acelerar transformações no setor financeiro.

Mas será mesmo que bancos e fintechs estariam num jogo de soma zero? Talvez não, e há motivos para se acreditar que haveria interesses comuns entre eles.

Muitas fintechs enfrentam dificuldades para seguir crescendo e ganhando escala e ainda estão por demonstrar que são capazes de gerar lucros de forma sustentada. Com efeito, enfrentam desafios para levantar capitais de risco, atrair investidores e acessar funding a custos atrativos. Outra inquietude é que muitas fintechs ainda precisam “desmamar” dos regimes normativos especiais e não está claro o que passará em seguida, notadamente naquilo que se refere a serviços financeiros que requerem vigilância e normativas mais estritas.

Não há como ignorar que, cedo ou tarde, as fintechs também estarão sujeitas à práticas e normas de compliance, governança corporativa, auditoria, contabilidade, proteção dos consumidores e investidores e outros temas pertinentes à governança do mercado financeiro, o que elevará custos e reduzirá a sua flexibilidade e agilidade. Além disso, as fintechs em geral ainda precisam ganhar mais confiança dos consumidores e maior experiência em temas como gestão de riscos e supervisão bancária. Muitos acreditam que os bancos seriam os parceiros ideais para as fintechs enfrentarem aqueles e outros desafios.

Os bancos, por sua vez, necessitam adotar modelos de negócios mais inovadores, uma cultura de transformação para além da digital e ampliar o rol de produtos e serviços e as fintechs estariam bem posicionadas para ajudar-lhes nessa missão. É razoável considerar que haveria, portanto, uma agenda de colaboração e mútuo interesse.

De fato, já se observam muitos esforços naquela direção. Alguns bancos estão tentando se reinventar se inspirando em fintechs; outros estão criando bancos digitais ou fintechs; outros estão investindo em fintechs já existentes; outros estão adquirindo fintechs; e outros estão explorando e experimentando modelos diversos de integração com fintechs. O que efetivamente já se vê é uma convergência de interesses em torno de uma agenda de coexistência e de busca de sinergias e complementariedades que otimizem e potencializem as capacidades e oportunidades de cada um.

Mas, afinal, qual daqueles modelos prevalecerá? Ainda é cedo para responder, mas é razoável presumir que, no final das contas, se sairão melhor os bancos e as fintechs que lograrem parcerias que mais ampliem mercados e aumentem os lucros de ambos.

Bancos e fintechs enfrentam uma ameaça comum, que é a presença cada vez mais agressiva das bigtechs em mercados de serviços financeiros tecnológicos. Distintamente dos bancos e das fintechs, as bigtechs têm uma inigualável base de dados e de conhecimento dos mercados e consumidores, seus serviços financeiros já nascem globais, têm condições únicas para desenvolverem e oferecerem serviços financeiros altamente personalizados e para identificarem grandes espaços, mas, também, nichos de mercados desassistidos. Além disso, as bigtechs estão menos sujeitas à vigilância e supervisão por parte dos reguladores nacionais.

Com o provável aumento da regulação tanto nos Estados Unidos como na União Europeia, promessas de grandes IPOs, crescente ativismo nos mercados de criptomoedas e maior ativismo das bigtechs em torno de produtos e serviços financeiros, o próximo ano se prenuncia como de importantes mudanças no setor de produtos financeiros tecnológicos.

Nesse contexto tão dinâmico, aos reguladores e supervisores caberá, sobretudo, zelar pela integridade do sistema financeiro e dos mercados, reduzir espaços de arbitragem, fomentar a competição, proteger os direitos e os dados dos consumidores, seguir buscando formas de encorajar e acolher inovações financeiras e fomentar a diversificação e a inclusão financeira. Também será útil que os supervisores tenham maior conhecimento das novas tecnologias e modelos de negócios das fintechs e bigtechs e coordenem mais e melhor com outras autoridades com mandatos naquela agenda. Por fim, também serão bem-vindas medidas que contribuam para popularizar as fintechs, como convocá-las para ajudar a canalizar serviços públicos, tais como benefícios sociais e microcrédito, por exemplo.

As fintechs já têm feito muito na nossa região, mas é preciso ainda mais. Para nós da América Latina, a celebração em torno das fintechs será ainda maior quanto mais elas contribuírem para aumentar a competição e as alternativas de produtos e serviços financeiros e não financeiros, em especial aqueles mais adequados às características e necessidades das nossas economias, empresas e cidadãos.

Jorge Arbache

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Jorge Arbache

Vicepresidente de Sector Privado, CAF -banco de desarrollo de América Latina y el Caribe-

Antes de su ingreso a CAF fue Secretario de Asuntos Internacionales del Ministerio de Planificación, Desarrollo y Gestión de Brasil y Secretario Ejecutivo del Fondo de Inversión Brasil-China. También fue economista jefe en el Ministerio de Planificación en Brasil; Asesor económico principal de la Presidencia de BNDES y Economista Principal del Banco Mundial en Washington, DC. También es profesor de economía en la Universidad de Brasilia. Arbache tiene más de 28 años de experiencia en las áreas de gobierno, academia, organizaciones internacionales y sector privado. Su interés radica en agendas de crecimiento económico y políticas sectoriales que incluyen comercio internacional, inversión, productividad, competitividad, innovación, economía digital, industria y servicios. Es autor de cuatro libros y docenas de artículos científicos publicados en revistas académicas internacionales. Es licenciado en Economía y en Derecho y Doctor en Economía por la Universidad de Kent (Reino Unido).

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Produtividade Inclusão e educação financeira Capacidades financeiras

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