Cidades e crescimento econômico

Data do artigo: 10 de junho de 2022

Autor del post - Jorge Arbache

Vicepresidente de Sector Privado, CAF -banco de desarrollo de América Latina y el Caribe-

A América Latina e Caribe (ALC) está entre as regiões mais urbanizadas do mundo, com nada menos que 8,1 em cada 10 pessoas vivendo em cidades. Para referência, nos países da União Europeia são 7,4 e no mundo são 5,5 em cada 10 pessoas. Projeções indicam que a urbanização na região seguirá avançando e, até 2050, cerca de 90% da população estará em áreas urbanas.

A região também se destaca pela elevada proporção da população vivendo em aglomerações com mais de 1 milhão de habitantes. São 40% da população, nível muito superior à média mundial de 24%, e cerca de ¼ da população vive na maior cidade do respectivo país.

As razões da elevada urbanização são muitas e incluem a busca de melhores oportunidades econômicas, acesso a serviços públicos e migrações muitas vezes forçadas associadas à exposição a desastres naturais, conflitos internos e outros temas de segurança.

Em princípio, a urbanização traz muitos benefícios econômicos, como especialização, economias de aglomeração e de escala e sinergias e complementariedades que, ao fim e ao cabo, aumentariam as oportunidades de negócios e empregos e impulsionariam a produtividade e a competitividade do setor privado. Mas nem sempre é o que se observa.

De fato, muitas das nossas grandes cidades, como Bogotá, Buenos Aires, Cidade do México, Lima, Quito, Rio de Janeiro e São Paulo, para citar algumas, embora sejam o domicílio de parcela substancial do PIB de seus países, registram altas taxas de informalidade da mão de obra, elevada parcela da população vivendo em moradias irregulares, transporte público informal, níveis elevados de violência e serviços públicos de saúde, educação, água e saneamento precários.

Ainda que sejam elevados para o padrão do próprio país, o estoque per capita de capital em infraestrutura e o PIB per capita são substancialmente menores que os de cidades de porte similar em países avançados. Em vários casos, o PIB per capita de cidades grandes têm crescido menos que o do próprio país e, em outros, observa-se até queda em anos recentes, o que implica dizer que muitas de nossas cidades perderam ou não têm o dinamismo esperado. Desta forma, as cidades da região não estariam realizando o potencial de produtividade e competitividade. Tudo isto limita a qualidade de vida e prejudica as aspirações dos nossos países de alcançar padrões mais elevados de desenvolvimento.

Para que sejam motores de crescimento, o futuro das cidades depende, primeiro, de como elas são geridas e de como enfrentam os muitos desafios a que estão expostas. E, segundo, de suas capacidades de fomentar e explorar economias de aglomeração, atrair e reter investimentos e talentos e fomentar a formação de clusters de negócios geradores de riqueza.

Quanto ao primeiro ponto, é preciso um compromisso da gestão pública com cidades mais acessíveis e digitais, melhoria da infraestrutura, provisão de serviços públicos de qualidade e mais segurança e inclusão social. Neste sentido, atacar a informalidade e melhorar a qualidade de vida deveriam estar entre principais objetivos dos gestores. Afinal, sem resolver a elevada informalidade, será mais difícil aumentar a produtividade e alcançar um padrão de crescimento mais sustentável.

Mas o sucesso das intervenções depende de governança, o que requer instituições que promovam políticas públicas eficientes com transparência e participação. Neste sentido, é importante fortalecer as capacidades dos governos locais para coordenar e implementar as políticas públicas e levar as cidades para um novo equilíbrio baseado no bem-estar dos cidadãos.

O setor de transportes é ilustrativo dos impactos das deficiências de política na competitividade. Com infraestrutura de mobilidade escassa e inadequada, de um lado, as pessoas têm dificuldades de acesso a melhores empregos e, de outro, as empresas têm menos acesso à mão de obra mais preparada. Em cidades como Bogotá, Cidade do México, Lima e São Paulo, ao menos 1/3 da população usa pelo menos uma hora por dia apenas para chegar no trabalho.

Quanto ao segundo ponto, é fundamental que as cidades cresçam mais e que possam gerar mais recursos para financiar serviços públicos de qualidade, investimentos em infraestruturas e uma gestão pública mais moderna. Mas os desafios para tanto são grandes. Considere a demografia das empresas. Os serviços são, de longe, as atividades predominantes nas nossas cidades. O problema é que aqueles serviços são, majoritariamente, voltados para o consumo pessoal e para o pequeno comércio, os quais são providos em boa medida por pequenas empresas que pouco utilizam de tecnologias, empregam modelos de negócios defasados e, não raro, são informais. Desta forma, geram poucos excedentes, o que leva muitas cidades a um círculo vicioso de baixo crescimento e informalidade.

A demografia das empresas de cidades globais se caracteriza por negócios associados à geração de conhecimento, tecnologia e inovação e por serviços voltados para cadeias de valor locais e internacionais, contribuindo para atrair investimentos, gerar elevados excedentes e promover um círculo virtuoso de alto crescimento.

Como romper o círculo vicioso? A esta altura da geopolítica e da geografia econômica internacional e do nosso atraso tecnológico, as saídas já não são muitas. Mas caminhos existem e são promissores. Pense, por exemplo, nas vantagens comparativas e competitivas associadas ao enorme potencial das commodities, que se tornaram o centro de gravidade econômica de vários dos nossos países, e na rica biodiversidade que nos rodeia.

Neste sentido, um caminho promissor é encorajar a formação nas cidades de clusters de negócios associados às commodities, desenvolver cadeias de valor locais e promover a inovação, tecnologias, conhecimento e instrumentos financeiros e de mercado de capitais associados àquelas atividades, estimulando, assim, uma parceria vencedora entre campo e cidade.

Pense, também, nas imensas oportunidades de projetos, conhecimento, tecnologias e modelos de negócios associados à rica biodiversidade e à sustentabilidade, o que também pode gerar uma potente parceria vendedora entre campo, minas e cidades.

Para fazer das nossas cidades parte da solução e não do problema do desenvolvimento, será preciso estratégia, coordenação entre os setores público e privado e muito pragmatismo.

Jorge Arbache

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Jorge Arbache

Vicepresidente de Sector Privado, CAF -banco de desarrollo de América Latina y el Caribe-

Antes de su ingreso a CAF fue Secretario de Asuntos Internacionales del Ministerio de Planificación, Desarrollo y Gestión de Brasil y Secretario Ejecutivo del Fondo de Inversión Brasil-China. También fue economista jefe en el Ministerio de Planificación en Brasil; Asesor económico principal de la Presidencia de BNDES y Economista Principal del Banco Mundial en Washington, DC. También es profesor de economía en la Universidad de Brasilia. Arbache tiene más de 28 años de experiencia en las áreas de gobierno, academia, organizaciones internacionales y sector privado. Su interés radica en agendas de crecimiento económico y políticas sectoriales que incluyen comercio internacional, inversión, productividad, competitividad, innovación, economía digital, industria y servicios. Es autor de cuatro libros y docenas de artículos científicos publicados en revistas académicas internacionales. Es licenciado en Economía y en Derecho y Doctor en Economía por la Universidad de Kent (Reino Unido).

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