Sergio Díaz-Granados
Rebecca Bill Chavez
Este artigo foi publicado no América Futura
Em um mundo cheio de desafios existenciais que aumentam a um ritmo acelerado – polarização e colapso da confiança social, deslocamento humano descontrolado, crise climática, insegurança cidadã e alimentar, desigualdade econômica, racial e de gênero – as fontes de esperança são escassas.
Na América Latina e no Caribe, há a tendência de ver os países não como o que eles são – fontes de soluções para esses desafios–, mas como oprimidos por esses desafios. A realidade é que a região é fundamental para a construção de um futuro melhor, sobretudo quando se observa a região a partir das experiências de suas cidades e seus líderes subnacionais políticos, sociais, cívicos e do setor privado.
Com mais de 80% da população vivendo em cidades, a América Latina e o Caribe estão entre as regiões mais urbanizadas do mundo, enquanto suas cidades, grandes e pequenas, são motores indispensáveis de inovação e fundamentais para a integração regional. As vitórias políticas da região, quando são compreendidas, reproduzidas e dimensionadas de maneira efetiva, possuem as soluções para enfrentar alguns dos desafios mais prementes que o planeta enfrenta na atualidade.
É por isso que as nossas duas organizações, o Diálogo Interamericano e o CAF, se uniram no ano passado durante a IX Cúpula das Américas em Los Angeles para convocar a primeira Cúpula das Cidades das Américas desta semana em Denver, nos EUA. Também é por isso que o CAF agora ampliou seu mandato para melhorar os empréstimos aos atores subnacionais e o Diálogo lançou sua Iniciativa Cidades.
A democracia vem sendo pressionada no mundo todo pelo colapso da confiança social e pelo aumento do ceticismo sobre a sua capacidade de cumprir e satisfazer as necessidades básicas dos cidadãos. Os líderes locais estão na linha de frente para combater esse ceticismo e garantir que políticas públicas inclusivas sejam implementadas de maneiras que gerem melhorias no mundo real para segmentos cada vez mais amplos da população.
Durante um debate sobre migração no ano passado em Los Angeles, testemunhamos em primeira mão como os prefeitos podem encontrar um terreno comum nos desafios e nas oportunidades inerentes à inclusão de um grande número de novos residentes. Os prefeitos de Bogotá, na Colômbia, de Upala, na Costa Rica, e de Chattanooga, nos EUA, estiveram no debate e compartilharam melhores práticas. De fato, as cidades estão na vanguarda da gestão eficaz e humana da migração. À medida que o nosso hemisfério apresenta níveis históricos de mobilidade humana, há muito a aprender com as cidades e outros atores sub-regionais que podem e estão lutando com dinâmicas complexas, ao mesmo tempo em que impulsionam o tipo de inclusão efetiva que, segundo um estudo recente do FMI, beneficia comunidades que acolhem migrantes.
Da mesma forma, as cidades são atores indispensáveis em questões climáticas. A infraestrutura de transporte urbano sustentável deve fazer parte de qualquer conjunto de políticas para enfrentar a crise climática e garantir que o nosso planeta seja habitável. Mais uma vez, as cidades da América Latina e do Caribe estão na vanguarda em matéria de soluções políticas inovadoras. A Cidade do México vem direcionando investimentos em transporte público com foco sustentável e já tem uma das maiores frotas de ônibus elétricos do mundo. As cidades também desempenham um papel único na preservação da biodiversidade, uma tarefa particularmente importante na América Latina e no Caribe, que abrigam mais de 60% da biodiversidade do mundo. Considerando que muitas das megacidades da América Latina são definidas por seus rios, o CAF está, por exemplo, financiando esforços pela criação de espaços públicos verdes, sustentáveis e resilientes ao longo do rio Rimac, no Peru, a fim de restaurar sua centralidade histórica em Lima e consolidá-lo como um corredor ecológico vibrante.
As cidades são fundamentais para a redução das desigualdades raciais e de gênero predominantes nas Américas. Prefeitos e outros líderes cívicos locais mostraram que estão em uma posição única para transformar uma estrutura de discriminação e exclusão em uma estrutura que empodere mulheres e outros grupos tradicionalmente marginalizados. Em cidades como Long Beach, nos EUA, e Recife, no Brasil, o governo local, a sociedade civil e os líderes do setor privado estão impulsionando a transformação digital, cuja estimativa é gerar 70% da criação de novo valor na economia global com um foco mais inclusivo. O trabalho de empoderamento econômico das mulheres do Diálogo Interamericano mostra como os atores subnacionais estão liderando programas de capacitação digital para aumentar a comercialização da força de trabalho das mulheres e de outras comunidades marginalizadas e criar uma base para um empreendedorismo on-line mais inclusivo.
Como demonstramos em Los Angeles e demonstraremos esta semana em Denver, temos o compromisso de trabalhar com parceiros subnacionais para garantir que as lições aprendidas com prefeitos e outros líderes cívicos subnacionais sejam amplamente compartilhadas. Somente com foco em ações concretas que melhorem a qualidade de vida, podemos construir o tipo de sociedades inclusivas, justas, democráticas e resilientes nas quais todo o nosso povo possa prosperar.