Combatendo duas pandemias

Data do artigo: 13 de agosto de 2020

Autor del post - Jorge Arbache

Vicepresidente de Sector Privado, CAF -banco de desarrollo de América Latina y el Caribe-

A pandemia do Covid-19 custará queda recorde do PIB da América Latina, o que terá consequências sociais e econômicas dramáticas. Mas os países da região já conviviam com outra “pandemia” que há muito já vinha causando danos também dramáticos: a baixa produtividade do trabalho.

De fato, a produtividade média do trabalhador da região é uma fração daquela observada em países avançados – algo em torno de 20%. Mas, ainda mais preocupante, é que a produtividade não apenas está estagnada há tempos, mas está até mesmo declinando em alguns países.

Produtividade resulta de vários fatores e um deles é especialmente relevante para a região: as empresas. Estima-se que 99,5% das nossas empresas formais sejam micro, pequenas e médias, estão concentradas na produção de serviços convencionais, são majoritariamente descapitalizadas, têm deficiências de gestão, investem pouco e têm pouco acesso a tecnologias.

O problema é que aquelas empresas não apenas são muitas, mas, também, respondem por parcela predominante do emprego formal, algo em torno de 65%. Assim que produtividade baixa está associada a salários baixos, empregos de baixa qualidade e à informalidade e está umbilicalmente ligada a duas das nossas maiores chagas: a pobreza e a desigualdade.

Outro problema é que produtividade baixa é “contagiosa” e se propaga como um vírus a partir do mercado de insumos e serviços para produção. A produtividade das pequenas e médias empresas corresponde a apenas 24% e 46%, respectivamente, da das grandes e empresas com cadeias de produção mais descentralizadas e longas estão mais expostas à “contaminação”. É o caso das empresas manufatureiras e de outras atividades urbanas. De outro lado, empresas com cadeias de produção relativamente mais curtas, como as da agricultura e da mineração para exportação, estão menos expostas. Mercados em que as opções de provedores de insumos são limitadas e as empresas locais são pouco competitivas ou protegidas estão mais propensos ao contágio.

Um outro problema é que produtividade baixa se autoperpetua, pois desincentiva investimentos, compromete a competitividade internacional e está associada à armadilha do baixo crescimento.

Portanto, produtividade não é tema de interesse apenas individual da empresa, mas, também, de interesse coletivo e o desafio é romper com aquele círculo vicioso.

Embora seja um problema grave, produtividade baixa também pode ser oportunidade para crescimento econômico rápido. Pense no caso da pandemia do Covid-19, que poderá ter efeitos não intencionais positivos na produtividade em razão de ao menos quatro fatores.

O primeiro, é que as empresas estão sendo forçadas a repensar os seus modelos de negócios, adotar novas tecnologias e reduzir custos. O segundo, é que empresas mais obsoletas ou que já se encontravam em situação de fragilidade estão mais expostas à crise e deverão sair do mercado em maior proporção. O terceiro, é que a pandemia do Covid acelerou os tempos e identificou oportunidades de novos negócios em setores emergentes mais promissores e mais ajustados à nova realidade do consumo e das cadeias de produção. E, quarto, é que é razoável supor que as empresas que entrarão no mercado no futuro próximo adotarão modelos de negócios e tecnologias mais atualizados.

Assim que também parece razoável supor que a empresa “representativa” do período pós-Covid será mais produtiva que a empresa representativa do período pré-Covid.

A pandemia do Covid-19 também brinda governos com oportunidades únicas para intervirem e implementarem políticas mais eficientes e eficazes de promoção da produtividade das empresas. As políticas públicas poderiam considerar ao menos três frentes.

A primeira, combinar políticas de maior acesso a crédito com medidas que ampliem a adoção da transformação digital, acesso a ferramentas de gestão e a mercados, difusão de inovações tecnológicas, internacionalização e incentivo a arranjos produtivos em torno de empresas-âncora que difundam conhecimento e tecnologias para empresas menores. Enfim, medidas que contribuam não apenas para que as empresas menores produzam mais do mesmo de forma mais eficiente, mas, também, produzam bens e serviços com mais alto valor adicionado e sejam, desta forma, mais úteis para os consumidores, para as cadeias de produção e para as suas comunidades.

Segundo, colaborar com empresas e o sistema educacional formal e profissional para restaurar o capital humano e fortalecer as habilidades e competências das pessoas num contexto de desemprego elevado e uso crescente de novas tecnologias. Os ecossistemas regionais e locais de inovação também poderão ajudar a desenvolver e trazer novas soluções mais rapidamente para o mercado e tornar as empresas e as pessoas mais produtivas e a economia mais competitiva.

E, terceiro, fomentar condições horizontais que impactem a produtividade das empresas. Neste sentido, os governos poderiam desempenhar papel relevante na coordenação de padrões, como os de saúde e segurança, promover a concorrência e impulsionar demandas sociais importantes.

A pandemia da produtividade baixa não mata como a pandemia do Covid-19, mas “aleija” ao condenar à estagnação econômica e à pobreza. A região tem, portanto, o desafio de combater as duas pandemias. A tarefa é urgente e requer determinação, senso de oportunidade, focalização de políticas, planejamento e muita coordenação entre os setores público e privado.

Jorge Arbache

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Jorge Arbache

Vicepresidente de Sector Privado, CAF -banco de desarrollo de América Latina y el Caribe-

Antes de su ingreso a CAF fue Secretario de Asuntos Internacionales del Ministerio de Planificación, Desarrollo y Gestión de Brasil y Secretario Ejecutivo del Fondo de Inversión Brasil-China. También fue economista jefe en el Ministerio de Planificación en Brasil; Asesor económico principal de la Presidencia de BNDES y Economista Principal del Banco Mundial en Washington, DC. También es profesor de economía en la Universidad de Brasilia. Arbache tiene más de 28 años de experiencia en las áreas de gobierno, academia, organizaciones internacionales y sector privado. Su interés radica en agendas de crecimiento económico y políticas sectoriales que incluyen comercio internacional, inversión, productividad, competitividad, innovación, economía digital, industria y servicios. Es autor de cuatro libros y docenas de artículos científicos publicados en revistas académicas internacionales. Es licenciado en Economía y en Derecho y Doctor en Economía por la Universidad de Kent (Reino Unido).

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