Comércio de bens ou serviços?

Data do artigo: 15 de abril de 2019

Autor del post - Jorge Arbache

Vicepresidente de Sector Privado, CAF -banco de desarrollo de América Latina y el Caribe-

Nestes dias de polêmicas comerciais internacionais acaloradas, ouvimos frequentemente discursos do tipo: o país A tem um déficit com o país B; ou que o país C é menos competitivo que o país D. Infelizmente, essas afirmações são normalmente baseadas em análises parciais, uma vez que quase nunca levam em consideração o comércio de serviços.

As causas disso são diversas e implicam, além da conveniência, um tipo de inércia associada à antiga visão de que os países compram e vendem principalmente bens. Essa inércia também está presente na academia, que continua a ver os bens como um objeto central de ensino e pesquisa no comércio internacional.

O problema é que o setor de serviços se tornou central na economia moderna. De fato, os serviços já compõem a maior parte de praticamente todas as economias do mundo: nove das 10 empresas mais valiosas do mercado de ações americano são do setor de serviços, e novas métricas e bancos de dados mostram que os serviços já predominam nos fluxos comerciais.

Os serviços são exportados principalmente “embarcados”, ou em complemento a um bem, e cerca de 75% do comércio internacional de serviços consiste em insumos intermediários. Devido a novos modelos de negócios e novas tecnologias de produção e gestão, os bens e serviços se tornaram altamente interdependentes, de modo que a suposta dicotomia entre comércio de bens e de serviços já perdeu significado.

No entanto, há outras razões para não ignorar os serviços; entre elas, evidências de que o comércio de serviços está crescendo mais e é substancialmente menos volátil do que o de bens. Modelos de negócios de serviços tendem a ser muito mais sofisticados e dinâmicos que os de bens. Empresas de serviços se tornaram os principais promotores de novas tecnologias. A exportação de serviços estimula a adoção de padrões técnicos e regulatórios que levam a um processo involuntário de fidelização de clientes, e o setor vive um momento de concentração global sem precedentes. Os serviços já são a parte da economia que mais agrega valor às cadeias produtivas globais - basta pensar no tratamento do câncer por imunoterapia, cujo custo por ampola atinge dezenas de milhares de dólares devido à propriedade intelectual.

Aproximadamente 70% do comércio global de serviços é originário de países avançados, mas estima-se que essa participação seja subestimada, porque muitos serviços e operações digitais entre empresas não são contabilizados adequadamente. Os países avançados operam com um superávit de serviços de bilhões de dólares, e a tendência é que esse desequilíbrio aumente.

Considere os casos dos Estados Unidos e do Reino Unido, que têm um superávit anual no setor doméstico de cerca de US$ 300 bilhões e US$ 150 bilhões, respectivamente. Isso ajuda a explicar por que o setor se tornou o principal destino para o investimento direto estrangeiro e das operações de fusão e aquisição no mundo. Também explica a prioridade das economias avançadas para a área de serviços e seu ativismo em favor da liberalização total do setor. Exemplos disso são as discussões recentes sobre a reforma da OMC e as acirradas disputas comerciais contemporâneas.

Estamos testemunhando uma dicotomia crescente entre, por um lado, produtores, gestores e distribuidores de serviços e, por outro lado, consumidores desses serviços, inclusive os digitais, o que ajudaria a explicar as diferenças nas perspectivas de geração de emprego e crescimento econômico entre países.

Robert Lucas, da Universidade de Chicago, um dos economistas vivos mais influentes atualmente, afirmou: “Quando começamos a pensar em desenvolvimento econômico, é difícil pensar em qualquer outra coisa”. Mas, tendo em vista as características, a evolução e as implicações do setor de serviços, não parece exagerado dizer que, uma vez que começamos a pensar na economia do intangível, é difícil pensar em qualquer outra coisa.

Para a América Latina, que precisa encontrar um modelo de crescimento mais sustentado, a questão dos serviços é fundamental e não pode nem deve ser vista como uma agenda secundária. Embora a participação do setor no PIB da região seja maior do que nas outras regiões em desenvolvimento, a participação da região no comércio global de serviços é desproporcionalmente baixa, e o comércio é muito deficiente, o que é insustentável.

Isso se explica, em parte, por que os serviços tendem a ser principalmente orientados para o consumidor, devido à falta de uma estratégia, e por que a produtividade de um trabalhador latino-americano no setor de serviços é equivalente a apenas 18% da de um norte-americano. Portanto, há uma enorme necessidade de investimento e modernização do setor.

Costa Rica, Panamá e Uruguai estão entre os países com as melhores ofertas de serviços comerciais. No entanto, é preciso ter em mente que os avanços tecnológicos já estão começando a substituir os serviços intensivos em mão de obra, os mais exportados pelos países emergentes. Com o advento da tecnologia 5G e a expansão das fronteiras de prestação de serviços remotos para áreas como educação, saúde, finanças, produção e manutenção, os desafios para os países latino-americanos se tornam ainda maiores.

A região precisa colocar o setor de serviços na agenda de suas políticas públicas, para evitar perder o trem que está passando por nossa porta. A tarefa não será nada fácil, mas podemos nos inspirar em alguns negócios bem-sucedidos de empresas de serviços locais e experiências de outros países emergentes. Para avançar, será necessário ter ambição, pragmatismo e um profuso olhar sobre as fontes do dinamismo econômico no século XXI.

Jorge Arbache

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Jorge Arbache

Vicepresidente de Sector Privado, CAF -banco de desarrollo de América Latina y el Caribe-

Antes de su ingreso a CAF fue Secretario de Asuntos Internacionales del Ministerio de Planificación, Desarrollo y Gestión de Brasil y Secretario Ejecutivo del Fondo de Inversión Brasil-China. También fue economista jefe en el Ministerio de Planificación en Brasil; Asesor económico principal de la Presidencia de BNDES y Economista Principal del Banco Mundial en Washington, DC. También es profesor de economía en la Universidad de Brasilia. Arbache tiene más de 28 años de experiencia en las áreas de gobierno, academia, organizaciones internacionales y sector privado. Su interés radica en agendas de crecimiento económico y políticas sectoriales que incluyen comercio internacional, inversión, productividad, competitividad, innovación, economía digital, industria y servicios. Es autor de cuatro libros y docenas de artículos científicos publicados en revistas académicas internacionales. Es licenciado en Economía y en Derecho y Doctor en Economía por la Universidad de Kent (Reino Unido).

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