Como avançar com a agenda de infraestrutura?

Data do artigo: 16 de novembro de 2021

Autor del post - Jorge Arbache

Vicepresidente de Sector Privado, CAF -banco de desarrollo de América Latina y el Caribe-

A infraestrutura é uma das opções mais potentes para alavancar a recuperação e promover um padrão de crescimento mais sustentável e sustentado na região. Razões para isto não faltam e incluem o elevado multiplicador do investimento, a redução dos custos de produção, os impulsos à produtividade e à competitividade, sobretudo para micro, pequenas e médias empresas, o fomento à economia circular e à descarbonização e o combate à pobreza.

Mas, se os benefícios são assim tão flagrantes, então por que a nossa região registra elevado e crescente déficit de investimentos no setor? As explicações são muitas e uma das mais imediatas está associada às dificuldades fiscais por que já passavam vários governos, mas que foram exacerbadas pela pandemia, o que deverá constranger ainda mais a capacidade de investimento público no setor ao longo dos próximos anos. Neste contexto, a participação da iniciativa privada em projetos se torna ainda mais necessária e até crítica.

Embora com participação crescente, a presença privada e internacional em projetos de infraestrutura na região ainda é modesta, o que se deve, ao menos em parte, à ainda incipiente indústria de project finance (PF) e de PPP, modalidades que ainda estão por realizar o seu potencial e preencher muitas das lacunas da nossa ampla agenda de investimentos.

As baixas taxas de juros em países avançados e a elevada liquidez nesses mercados, combinados com a busca por diversificação de cadeias globais de valor e aproveitamento de oportunidades derivadas da necessidade de redução de hiatos de investimento em infraestrutura têm incentivado fundos e investidores internacionais a considerarem com mais atenção mercados como os da América Latina.

Após o choque causado pela pandemia, quando os números de novos negócios em PF encolheram significativamente, os ventos começaram a mudar e, ao final deste ano, os negócios deverão superar aqueles de 2019, ano pré-pandemia, com um salto de 32% em nível global. As estatísticas também são alentadoras para a região e estima-se que os recursos envolvidos em operações de PF neste ano superarão os US$ 20 bilhões, valor bem superior ao observado no ano anterior.

Embora já haja experiências e resultados satisfatórios de participação privada em projetos na região, será preciso fazer muito mais se quisermos escalar e elevar a agenda da infraestrutura à condição de vetor de transformação e crescimento. Afinal, PF e PPP requerem condições adequadas e apropriadas para a identificação e mitigação de riscos e para que os projetos estejam alinhados com os princípios orientadores de muitos dos investidores e fundos estrangeiros.

A boa notícia é que governos da região estão cada vez mais atentos à necessidade de terem uma política clara para o setor, aos benefícios de uma arquitetura jurídica e regulatória moderna, bem como à necessidade de promoverem programas de estímulo à infraestrutura para atrair o setor privado. Também estão atentos à temas como a incorporação dos SDG nos programas e projetos e à importância do controle da pandemia e do aumento do ritmo de vacinação como fatores atratores de investimentos.

Neste sentido, países como Brasil e Colômbia estão reformando e modernizando as suas normativas e reforçando as autoridades correspondentes, enquanto outros, como Panamá, República Dominicana, Paraguai e Costa Rica, estão introduzindo marcos legais e desenvolvendo os sistemas pertinentes.

O que mais os países da região poderiam fazer para acelerar a participação do setor privado na infraestrutura? As experiências internacionais sugerem alguns temas e, dentre eles, está uma governança sólida, o que passa pela criação ou fortalecimento de uma entidade reguladora forte e bem preparada e de uma unidade central de planejamento, coordenação e tomada de decisões e com o encargo de desenvolver estratégias. Também será útil que esta unidade promova a padronização de processos, procedimentos e documentos e que garanta a transparência e a accountability.

Outros temas são garantir que se incorporem desde o início aos projetos os princípios de ESG e as melhores práticas internacionais em assuntos ambientais e sociais; que haja um pipeline contínuo de projetos bem estruturados e financiáveis para ir a mercado; legislações descomplicadas e fáceis de entender, de forma a proteger investidores, projetos e consumidores; e a incorporação de novas tecnologias e digitalização. Medidas como estas ajudarão a trazer mais confiança a todos os envolvidos na indústria.

A atração de investidores estrangeiros também é convergente com as necessidades de promover e compartilhar na região conhecimentos sobre PF e PPP, formar capacidades profissionais especializadas e atrair financiamento e o mercado de capital globais, já que os mercados locais ainda não atendem a todas as expectativas de financiamento e soluções financeiras requeridas, em especial para projetos grandes e complexos.

As instituições financeiras multilaterais também podem contribuir para a formação e o fortalecimento da indústria por meio da capacitação, cooperação técnica para o desenvolvimento institucional, assessoramento financeiro e modelagens de PPP, atração de fundos não reembolsáveis para a preparação de projetos e instrumentos de mitigação de riscos políticos, bem como por meio de instrumentos financeiros como dívida e fundos de dívida, garantias, apoio em emissão de títulos, operações em moeda local, dentre outros instrumentos financeiros e não financeiros que podem ajudar a aumentar a qualidade e o rating dos projetos e abaixar os seus custos.

Só com boa infraestrutura não se vai longe, mas sem ela não se vai a lugar algum. O desenvolvimento do setor requer novos modelos de negócio e novos players e a incorporação de ideias com visão de futuro.

Jorge Arbache

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Jorge Arbache

Vicepresidente de Sector Privado, CAF -banco de desarrollo de América Latina y el Caribe-

Antes de su ingreso a CAF fue Secretario de Asuntos Internacionales del Ministerio de Planificación, Desarrollo y Gestión de Brasil y Secretario Ejecutivo del Fondo de Inversión Brasil-China. También fue economista jefe en el Ministerio de Planificación en Brasil; Asesor económico principal de la Presidencia de BNDES y Economista Principal del Banco Mundial en Washington, DC. También es profesor de economía en la Universidad de Brasilia. Arbache tiene más de 28 años de experiencia en las áreas de gobierno, academia, organizaciones internacionales y sector privado. Su interés radica en agendas de crecimiento económico y políticas sectoriales que incluyen comercio internacional, inversión, productividad, competitividad, innovación, economía digital, industria y servicios. Es autor de cuatro libros y docenas de artículos científicos publicados en revistas académicas internacionales. Es licenciado en Economía y en Derecho y Doctor en Economía por la Universidad de Kent (Reino Unido).

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