Jorge Arbache
Vicepresidente de Sector Privado, CAF -banco de desarrollo de América Latina y el Caribe-
Recentemente, os países latino-americanos fizeram progressos significativos em relação à política econômica, especialmente na gestão e supervisão dos sistemas financeiros. Por um lado, os sistemas tornaram-se mais sofisticados com novos instrumentos financeiros e do mercado de capitais. Por outro lado, a capitalização, a liquidez, o descumprimento e outros indicadores mostram que os bancos em geral estão confortáveis com os limites prudenciais, o que reflete a resistência e a segurança do sistema para lidar com as crises.
No entanto, os benefícios dessa maior sofisticação e força ainda não chegaram a todos, já que a região continua a ter sérias deficiências no acesso ao crédito e a outros serviços financeiros. Na verdade, o crédito interno ao setor privado é de apenas 50% do PIB, substancialmente abaixo do de outras regiões emergentes, e o acesso aos serviços é muito desigual, dependendo do tamanho da empresa.
O acesso e o custo do crédito estão entre os principais obstáculos para que as PMEs façam negócios, compitam e cresçam. No caso da Argentina, do Brasil e do México, que representam 65% do PIB da região, apenas 40% das pequenas empresas formais têm acesso a uma linha de crédito, enquanto mais de 95% das grandes empresas são beneficiados por este e outros serviços financeiros.
Considerando que as PMEs têm uma participação desproporcionadamente elevada entre as empresas formais na região, que fazem parte de praticamente todas as cadeias de produção e que contribuem significativamente para a cesta de consumo das famílias, a falta de acesso ao crédito dificulta e cria obstáculos para a geração de emprego e renda. A falta de acesso aos serviços financeiros tem implicações prejudiciais para o investimento, a produtividade e a competitividade dessas empresas, que "intoxicam" praticamente toda a economia.
Curiosamente, pesquisas realizadas pela Federação Latino-americana de Bancos indicam que as instituições financeiras teriam um grande interesse no mercado de empréstimos para as PMEs e que 90% dos bancos teriam políticas financeiras ativas e atendimento especializado para essas empresas. Se há interesse dos bancos, por que as PMEs declaram ser tão ignoradas?
Há muitas explicações e, entre as principais, haveria limitações em garantias e informações, incluindo financeiras, contábeis e operacionais, o que dificultaria a análise de crédito convencional. Essas limitações ajudariam a explicar um conhecido ciclo vicioso do histórico ruim de crédito, altas taxas de juros e prazos de crédito curtos. Os regulamentos bancários internacionais, que forçam os bancos a transferir suas carteiras para ativos de menor risco, juntamente com a alta concentração bancária da região, favoreceriam o fortalecimento desse ciclo vicioso. Por outro lado, o alto custo fixo de análise e monitoramento de crédito, combinado com uma alta heterogeneidade entre as PMEs, levaria a outro padrão, também conhecido, de rejeição de crédito para empresas com potencial de inovação e crescimento.
Este quadro leva à adoção de novas soluções e opções de acesso a serviços financeiros. Estas soluções já existem e estão disponíveis para os responsáveis políticos. Uma delas é incentivar os novos atores, incluindo as fintech, a utilizar tecnologias de análise de crédito mais ágeis, mais rápidas e menos dispendiosas do que as convencionais, a abordar melhor a heterogeneidade das PMEs e a conceber estratégias diferenciadas. Além disso, as fintech oferecem serviços não financeiros de baixo custo às PMEs, como gestão de clientes, contabilidade e inventário, que ajudam a melhorar a qualidade das informações de gestão empresarial.
O open banking, que é a troca de dados de clientes, também favorece a análise de crédito e a concorrência. A experiência do Brasil com o Cadastro Positivo, que agora é implementado com informações individuais de dezenas de milhões de clientes de empresas financeiras e não financeiras, será um laboratório valioso para testar soluções de análise de risco e condições de crédito diferenciadas.
Outra solução é a expansão dos fundos de garantia para carteiras de crédito. Os fundos de garantia e as operações visam compartilhar riscos, reduzir a exposição ao capital e incentivar os bancos a expandir suas carteiras de empréstimos, melhorar as condições de financiamento e criar oportunidades para novos clientes. Os fundos de garantia para as PMEs ainda estão subdesenvolvidos na região, têm baixa capitalização e são muito heterogêneos, o que indica que haveria bastante espaço para o crescimento. O México e a Colômbia têm os fundos de garantia mais desenvolvidos, mas mesmo lá a cobertura continua sendo bastante limitada. Além de promover a expansão do crédito nos bons tempos, este instrumento pode ser especialmente relevante em tempos de contração de crédito.