Diana Mejía
Especialista Senior en Inclusión Financiera CAF - banco de desarrollo de América Latina y el Caribe
Como é amplamente sabido, a inclusão financeira é um conceito que abarca, por um lado, a oferta de produtos financeiros por diferentes organizações e, por outro, a procura de produtos pelos cidadãos. A maioria dos países possui ferramentas para medir o acesso, o uso e a qualidade dos produtos e serviços financeiros, mas poucos avaliam seu impacto no bem-estar das pessoas.
Para remediar esta situação, CAF, Finagro, Superintendência Financeira da Colômbia e Universidade dos Andes estão trabalhando em um estudo que fornece uma primeira medida do bem-estar financeiro na América Latina, com base em uma pesquisa realizada pelo Consumer Financial Protection Bureau (CFPB) e nos resultados das sondagens de capacidades financeiras realizadas pelo CAF na Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai e Peru.
O CFPB define o bem-estar financeiro como o estado em que um indivíduo pode cumprir plenamente suas obrigações financeiras atuais e contínuas, sentir-se confiante em seu futuro financeiro e capaz de tomar decisões que lhe permitam desfrutar da vida.
Por sua vez, as sondagens do CAF investigam as capacidades financeiras das pessoas, entendidas como conhecimentos, habilidades, atitudes e comportamentos em relação às questões financeiras. Embora não sejam exatamente as mesmas questões propostas pelo CFPB, identificamos as perguntas nas sondagens de medição de capacidades financeiras do CAF que melhor se ajustam aos elementos de bem-estar financeiro apresentados pelo CFPB.
A tabela a seguir mostra os elementos de bem-estar financeiro propostos pelo CFPB e as questões das sondagens CAF associadas à definição de bem-estar financeiro proposta por esta instituição.
Componente do índice do CFPB |
Pergunta da sondagem CAF |
Controle diário e mensal das finanças |
*Antes de comprar algo, considero cuidadosamente se posso pagar
*Eu pago minhas contas em dia |
Capacidade de absorver um baque financeiro |
*Às vezes, a renda não é suficiente para cobrir as despesas. Nos últimos 12 meses, isso aconteceu com você?
*Caso você perdesse sua principal fonte de renda, por quanto tempo poderia seguir arcando com suas despesas sem ter de recorrer a um empréstimo? |
Liberdade financeira para tomar decisões que permitem aproveitar a vida |
*Prefiro gastar dinheiro do que economizar para o futuro
*Considerando todas as suas fontes mensais de proventos domésticos, você diria que sua renda familiar é regular e estável ou não? |
Cumprimento de metas financeiras |
*Com que frequência você se mantém dentro de seu orçamento? – Sempre
*Eu defino metas de economia de longo prazo e me esforço para alcançá-las |
A análise por país mostra que as maiores pontuações foram encontradas no Chile (66) e na Colômbia (63), seguidos pela Bolívia (59) e Peru (58), e finalmente Equador (57), Paraguai (56) e Argentina (55).
Nossos principais resultados mostram que, primeiro, o índice de bem-estar financeiro fornece informações além das medidas financeiras tradicionais. Ou seja, mesmo quando um indivíduo faz parte de um grupo relativamente desfavorecido, podem existir fatores ou estratégias de compensação que oferecem oportunidades para essas pessoas ampliarem seu bem-estar financeiro.
Em segundo lugar, as diferenças no bem-estar financeiro médio mostram-se mais amplas em função do comportamento de poupança ou economia do que do comportamento de endividamento. Essa descoberta sugere que não ter ou não usar produtos formais para economizar pode ser mais prejudicial ao bem-estar financeiro do que não ter acesso a crédito formal.
Terceiro, os indivíduos com níveis mais altos de conhecimento e habilidades financeiras têm, em média, maior bem-estar financeiro.
Em quarto lugar, existem variáveis-chave que explicam o bem-estar financeiro, como experiência anterior com o setor financeiro, comparação entre diferentes instituições financeiras antes de adquirir um novo produto financeiro e envolvimento pessoal nas decisões financeiras domésticas.
Nossas descobertas sugerem algumas oportunidades para melhorar o bem-estar financeiro, por meio de programas de inclusão e educação financeira:
- Se atitudes e comportamentos como poupança, comparação entre diferentes instituições financeiras antes de adquirir um novo produto financeiro e envolvimento pessoal ou participação nas decisões financeiras familiares forem incluídos de forma adequada nesses programas, podem ter um impacto significativo no bem-estar financeiro das pessoas.
- Nossas descobertas mostram que o conhecimento financeiro é importante para o bem-estar financeiro. Portanto, é imprescindível que as instituições públicas e privadas implementem programas que promovam as capacidades financeiras de forma eficaz, por meio de intervenções que visem à mudança de comportamentos como momentos propícios para o ensino, aprender fazendo, estímulos e lembretes, heurísticas, ferramentas de entretenimento educativo, personalização e socialização.
Por fim, mais pesquisas são necessárias para entender o que impulsiona o bem-estar financeiro, a fim de melhor projetar programas de inclusão financeira e educação em diferentes países latino-americanos.