Sergio Díaz-Granados
Presidente Ejecutivo, CAF -banco de desarrollo de América Latina y el Caribe-
Colombia
Este artigo também foi publicado no El País
A aventura do café até se transformar em uma commodity global remonta à Etiópia, um dos berços da civilização, onde durante séculos as primeiras cepas de um fruto ainda desconhecido eram cultivadas com zelo. Desde então, espalhou-se pacientemente por todo o continente africano e chegou à Ásia pelo porto de Moca, no Iêmen, no século XV e, menos de dois séculos depois, os mercadores de Veneza levaram-no com uma rapidez vertiginosa para toda a Europa.
Foi só em 1720 que o café desembarcou na Martinica e encontrou seu lugar na América Latina e no Caribe. Com o tempo, Também seria seu novo lugar no mundo. Desde então, o café marcou nossa história e cultura e nos uniu além de fronteiras e idiomas. Atualmente, a região contribui com cerca de 60% da produção mundial, com países líderes como Colômbia, Brasil, Peru, México, Honduras ou Guatemala, e o café gera mais de 14 milhões de empregos diretos.
Poucos setores nidificam em tantas partes do mundo e reúnem tantas dimensões importantes para o desenvolvimento. O café agrega o agro, os aparatos produtivos nacionais e as estruturas sociais das regiões produtoras. Como evidenciado pela experiência africana, especialmente a de Ruanda, que recentemente sediou o Fórum Mundial de Produtores, o café também é um elemento valioso de projeção internacional das marcas dos países, um motor de parcerias público-privadas e um espaço de crescente interesse para a ciência e a academia.
A aventura histórica do café está em lua de mel na América Latina e no Caribe, onde se tornou um dos setores mais vibrantes, competitivos e promissores. Nos próximos anos, precisaremos dar visibilidade a uma liderança cafeeira latino-americana que promova práticas inovadoras e sustentáveis capazes de serem replicadas em outros setores da região e no mundo todo, tonando-se uma marca do crescimento verde.
Para isso, precisamos encontrar respostas efetivas para as principais ameaças ao setor: as mudanças climáticas e a sustentabilidade dos cafeicultores. Os produtores de café estão sofrendo cada vez mais os impactos das mudanças climáticas que se manifestam reduzindo a qualidade do grão e aumentando o risco de doenças como a broca. Alguns estudos indicam que, até 2050, as mudanças climáticas podem afetar 75% das terras adequadas para a produção de café Arábica e 63% do Robusta.
Paralelamente às ameaças climáticas, muitos consumidores estão dispostos a pagar preços altos pelo café, mas os cafeicultores recebem apenas uma pequena fração desse valor. Com preços baixos no início da cadeia, a produção de café não parece economicamente viável para muitos cafeicultores.
Diante dessa situação, países como a Colômbia, um dos mais conhecidos em termos de produção e exportação de café, estão promovendo uma cafeicultura sustentável, de baixo carbono, resiliente e próspera. Nesse sentido, a Federação Nacional dos Cafeicultores e o CAF estão trabalhando para construir uma visão global e uma perspectiva local que nos permita entender as necessidades das comunidades e que consiga aplicar critérios de sustentabilidade em toda a cadeia produtiva.
A produção do café tem uma característica muito especial: suas raízes estão na tradição, mas sua versatilidade converte essa produção em um espaço ideal para inovação. É este ponto que queremos enfatizar: a formação, geração e transferência de conhecimento. A iniciativa, que também é apoiada pela Universidade de Columbia, pela ONU, pela Universidade de Oxford e pelo Fórum Mundial de Produtores de Café, desenvolverá um guia para promover planos governamentais de sustentabilidade e também realizará três simulações – no Brasil, na Colômbia e na Costa Rica – que caracterizarão a diversidade de condições dos países cafeeiros da região.
O setor cafeeiro é um dos mais bem posicionados para divulgar os avanços que fazemos todos os dias nas pequenas comunidades rurais. Através de suas artérias comerciais de alcance global, podemos definir tendências e nos tornar uma referência para desafios globais como sustentabilidade, adaptação às mudanças climáticas ou empoderamento de comunidades agrícolas.
A América Latina e o Caribe estão prontos para escrever uma nova página na jornada histórica do café ao redor do mundo. Uma página verde e inovadora capaz de gerar crescimento sustentável e inclusivo e mais oportunidades para os protagonistas da cadeia produtiva do café.