Desafios do transporte público em tempos de coronavírus

Data do artigo: 27 de abril de 2020

Autor del post - Guillermo Alves

Economista Principal, Dirección de Investigaciones Socioeconómicas, CAF -banco de desarrollo de América Latina-

A COVID-19 deixou as grandes cidades sob os holofotes. A primeira etapa da expansão do vírus ocorreu em Wuhan, uma cidade de 11 milhões de habitantes, e atualmente Nova York possui o maior número de contágios e uma das maiores taxas de letalidade. Na América Latina, o coronavírus também tem nas cidades -onde mora 80% da população- suas principais fontes de contágio.

Aproximadamente sete em cada dez viagens nas cidades da América Latina são feitas por transporte público ou coletivo. No contexto atual, a operação de metrôs, ônibus e trens, devido à sua característica de transporte de massa e proximidade física que há entre os passageiros, está entre as principais fontes de contágio e, portanto, de preocupação para as estratégias epidemiológicas dos países. Até agora, três grandes medidas importantes foram implementadas para evitar a disseminação no transporte público nas cidades. A primeira consiste na limitação do número de passageiros por veículo, o que reduz o número de contatos e, portanto, de contágios. Em um ambiente com menos passageiros, isso pode ser controlado relativamente bem, mas, quando as cidades voltarem a certa normalidade, será necessário aumentar o número de unidades em circulação em determinados horários e rotas. A gestão da oferta de viagens deve ser feita de forma inteligente para adaptá-la às mudanças na demanda, mas também precisamos ser conservadores, já que eventuais erros de cálculo que gerem concentrações excessivas de passageiros podem custar muito caro em termos de contágio.

A segunda são as medidas que reduzem o número de contatos entre pessoas e entre pessoas e áreas comuns. Por exemplo, um grande número de cidades dos Estados Unidos suspenderam a cobrança da passagem e obrigaram os passageiros a subir pela porta de trás dos ônibus. Essa medida elimina a interação entre motorista e passageiros, seja para cobrar a passagem ou para indicar o tipo de viagem. Nos sistemas em que estão disponíveis pagamentos em dinheiro e por meios eletrônicos, pode ser adotada a suspensão do pagamento em dinheiro.

A terceira medida para limitar o contágio é alterar o número de passageiros e contatos por meio de medidas como o uso obrigatório de máscaras, como é o caso em Santiago do Chile e Buenos Aires, a desinfecção frequente dos veículos, estações e paradas e o fornecimento de desinfetantes para passageiros e funcionários do transporte.

Além dessa frente epidemiológica, as reduções drásticas decorrentes do distanciamento social deixam o setor de transportes em números vermelhos, introduzindo uma frente econômica e financeira na gestão dos sistemas de transporte. Em cidades como Bogotá, Buenos Aires o Montevideo, o número de passageiros caiu mais de 80%. Diante dessa situação, uma possível solução é reduzir as frequências para economizar em custos variáveis, como combustível e desgaste das unidades. Embora isso possa reduzir o déficit, está longe de eliminá-lo, devido aos custos fixos, como pagamentos por amortização de veículos e salários.

Reduzir as frequências de forma proporcional à demanda também é problemático, pois, especialmente nos horários de pico, o número de passageiros por unidade aumenta e, dessa forma, também a possibilidade de contágio. Além disso, deve ser garantido o transporte de profissionais que realizam trabalhos essenciais, como de saúde, transporte, abastecimento de alimentos e segurança. Portanto, o transporte público deve continuar a operar com frequência de acordo com as necessidades de cada cidade, o que significa que será necessária assistência financeira por parte dos governos. Em contextos em que as finanças dos governos locais também estão prejudicadas, os governos nacionais precisarão incluir a assistência ao transporte público dentro de seus pacotes de medidas fiscais.

Essas medidas deverão ser ajustadas às diferentes etapas de distanciamento social das cidades e dos países. Tanto a natureza das medidas quanto sua natureza dinâmica fazem com que a coordenação dos esforços entre os governos locais e nacionais deva ser muito próxima. O retorno à atividade de importantes grupos de trabalhadores pode ser catastrófico em termos epidemiológicos, se, no âmbito local, a oferta de transporte público não for ampliada, o que não será possível, na maioria dos casos, sem a ajuda financeira do governo nacional. Os esforços de coordenação também incluem o papel dos governos nacionais na garantia da disponibilidade de insumos no âmbito local, como máscaras e desinfetantes, bem como dos governos locais, no fornecimento de informações sobre o funcionamento do transporte público e seus níveis de ocupação para evitar o contágio em massa.

Guillermo Alves

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Guillermo Alves

Economista Principal, Dirección de Investigaciones Socioeconómicas, CAF -banco de desarrollo de América Latina-

Economista Principal, Dirección de Investigaciones Socioeconómicas, CAF -banco de desarrollo de América Latina-

Ph.D. en Economía en Brown University (EE.UU.). Máster en Economía en la misma universidad. Licenciado en Economía en la Universidad de la República (Uruguay). Sus intereses de investigación se centran en las áreas de economía urbana, desarrollo y microeconomía aplicada.

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Cidades Pesquisa Transporte COVID19

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