Desigualdades laborais e oportunidades de mobilidade intergeracional

Data do artigo: 01 de maio de 2023

Esses gradientes socioeconômicos, aliás, não são os mesmos para homens e mulheres. Por exemplo, mulheres de famílias de alto nível socioeconômico têm uma taxa de participação no trabalho 17 pontos percentuais maior do que aquelas de famílias de baixo nível socioeconômico. Em uma região onde a participação feminina no trabalho ainda é muito limitada, essa diferença é substancial.

As lacunas no desempenho no trabalho entre pessoas de diferentes classes socioeconômicas familiares são geradas, em parte, pelas diferenças nos níveis de escolaridades e nas habilidades que conseguiram desenvolver nas etapas anteriores ao mundo do trabalho. No entanto, ainda que comparando trabalhadores com o mesmo nível de educação formal e habilidades produtivas, o relatório mostra que as diferenças em seus resultados de trabalho persistem. Isso sugere que existem mecanismos no mercado de trabalho que contribuem para a reprodução da desigualdade entre gerações.

O RED 2022 documenta diversos mecanismos por meio dos quais os pais afetam as oportunidades de trabalho de seus filhos, entre os quais se destacam dois muito importantes. Em primeiro lugar, as famílias mais abastadas têm mais contatos e acesso a informações que influenciam as oportunidades de trabalho das novas gerações. Pesquisas do CAF mostraram que a ajuda de conhecidos, familiares e amigos é muito comum para conseguir um emprego na região. Por exemplo, a pesquisa de 2016 mostrou que 1 em cada 3 empregos nas grandes cidades da região foram obtidos graças à ajuda de conhecidos. A pesquisa de 2021 confirmou que a família é a principal fonte de recomendações de emprego.

Em segundo lugar, as famílias determinam características-chave para o desempenho no trabalho, como educação, etnia, raça e localização geográfica, tanto entre regiões quanto dentro das cidades. As desigualdades históricas por etnia e raça na região criam enormes lacunas nos resultados do emprego. Por exemplo, na média de 21 países da América Latina e do Caribe, os adultos de pele mais escura têm uma taxa de desemprego 7 pontos percentuais maior do que os adultos de pele mais clara (Figura 1.A). Apenas uma pequena parte dessas diferenças se deve às desigualdades educacionais segundo etnia e raça (como mostram os pontos azuis claros da Figura 1.A), de modo que a discriminação no mercado de trabalho emerge como uma explicação plausível.

A cor da pele também afeta dimensões como o tipo e a qualidade do emprego que as pessoas acessam. Por exemplo, a probabilidade de ser trabalhador autônomo é 10 pontos percentuais maior para pessoas de pele mais escura em comparação com pessoas de pele mais clara do mesmo nível de educação (Figura 1.B), enquanto a probabilidade de ser gerente ou proprietário de empresa é 11 pontos percentuais menor (Figura 1.C).

Diante desse panorama de desigualdades, são necessárias políticas públicas para transformar o mercado de trabalho em um ambiente que ofereça oportunidades reais a todos os trabalhadores, independentemente de sua origem familiar. O RED 2022 propõe uma série de ferramentas para intervir nos mercados de trabalho da região e reduzir o legado de desigualdades entre gerações. Políticas ativas de emprego, como programas de capacitação profissional e estágios para adultos, reduzem as lacunas de capacidade produtiva entre os trabalhadores e geram informações valiosas para o processo de busca de emprego. As bolsas de empregos e os programas de assistência de busca de emprego também são úteis para reduzir as assimetrias de informação ao igualar o conhecimento sobre as oportunidades de emprego.

As políticas de proteção social para adultos também desempenham um papel importante na redução das desigualdades laborais. O acesso a melhores empregos requer tempo e recursos para treinamento e pesquisa. O seguro-desemprego e os programas de transferência de renda podem fornecer o sustento necessário para evitar empregos de subsistência. Por último, é necessária uma ação decisiva para implementar políticas de combate à discriminação, tanto no local de trabalho, como nos sistemas educativos e em outros domínios da cultura.

Guillermo Alves

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Guillermo Alves

Economista Principal, Dirección de Investigaciones Socioeconómicas, CAF -banco de desarrollo de América Latina-

Economista Principal, Dirección de Investigaciones Socioeconómicas, CAF -banco de desarrollo de América Latina-

Ph.D. en Economía en Brown University (EE.UU.). Máster en Economía en la misma universidad. Licenciado en Economía en la Universidad de la República (Uruguay). Sus intereses de investigación se centran en las áreas de economía urbana, desarrollo y microeconomía aplicada.

Dolores de la Mata

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Dolores de la Mata

Economista Principal, CAF -banco de desarrollo de América Latina-

Ph.D. en Economía en la Universidad Carlos III de Madrid (2011). Magister en Economía en la Universidad Carlos III (2007). Licenciada en Economía por la Universidad Nacional de Córdoba (Argentina, 2003). Anteriormente se desempeñó como profesora e investigadora en la Universidad del Rosario (Colombia), docente en la Universidad Carlos III y en la Universidad Nacional de Córdoba. Fue investigadora en el IERAL de Fundación Mediterránea (Argentina). 

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