Em busca do crescimento perdido

Data do artigo: 12 de maio de 2023

Autor del post - Jorge Arbache

Vicepresidente de Sector Privado, CAF -banco de desarrollo de América Latina y el Caribe-

Anos atrás, publicamos neste mesmo espaço um texto sobre os desafios e perspectivas para o crescimento econômico da América Latina e Caribe (ALC). Muito se passou na economia global desde então alterando de forma significativa muitos parâmetros econômicos fundamentais e, desta forma, o crescimento que se observaria.

Dentre as alterações inesperadas estão incluídas uma devastadora pandemia, a guerra na Europa, o aumento das tensões geopolíticas, o processo de desglobalização, o aumento das barreiras comerciais tarifárias e não tarifárias e as intervenções nos fluxos de capitais e nas fusões e aquisições. Mas não foi só. A taxa de crescimento econômico em nível global despencaria e é provável que tenhamos entrado num novo padrão de crescimento, este, mais baixo e com mais pobreza e desigualdade. Mas tampouco parou ali. A volatilidade tornou-se parte do dia a dia nos mercados, nos preços e na vida das pessoas e das empresas, o horizonte temporal encurtou e a percepção de incerteza e de riscos se generalizou. A inflação alcançaria patamares há muito não vistos e adentraríamos num ambiente de ameaça de estagflação. E indicadores de desempenho e de monitoramento de mercado perderiam potência para guiar decisões, o que dá uma ideia de como os mercados se desorganizaram.

Num ambiente como este, investimentos de maior impacto – normalmente aqueles que requerem capital de longo prazo e custo de capital mais favorável, como as infraestruturas – se retraem e dão lugar a movimentos especulativos. Para a ALC, que já vinha experimentando crescimento abaixo da média mundial, esse ambiente seria especialmente danoso. A região precisa desesperadamente encontrar o fio da meada do crescimento e recuperar o tempo perdido, se quiser manter a paz social e a estabilidade política. Afinal, prosperidade compartilhada é grande aliada das democracias.

Mas o maior desafio da região não é crescer de maneira pontualmente rápida, mas crescer de forma sustentada. Crescimento sustentado refere-se a um padrão de crescimento caracterizado por marcha persistente e pouco volátil da taxa de crescimento. E não é preocupação menor. Evidências empíricas mostram que o grande salto dos países que hoje já são economias avançadas decorreu de períodos longos de crescimento econômico a taxas moderadas, mas persistentes no tempo, e não a taxas elevadas, mas erráticas, viabilizando, assim, um processo cumulativo e permanente de transformação econômica e social. Afinal, crescimento sustentado vem acompanhado de ambiente econômico mais previsível e de menos incertezas, requisitos fundamentais para se planejar, poupar, investir e alocar recursos de forma mais eficiente.

Nesse contexto global tão complexo, onde deveríamos apostar as nossas fichas para promover o crescimento sustentado da ALC? Preferencialmente, em atividades que ocuparão um lugar privilegiado na estrutura de demanda mundial ao longo das próximas décadas e que estejam ancoradas em setores em que a região já tem vantagens comparativas e competitivas. E também deveríamos apostar no gigantesco potencial de crescimento dos mercados interno e regional.

Quanto à parte internacional, ali estão incluídas as demandas de setores como alimentos, mineração e mudanças climáticas. A modo de exemplo, a Agência Internacional de Energia estima que serão necessários investimentos anuais no setor de energia de ao menos US$ 4 trilhões para que se possa alcançar a neutralidade de carbono no globo até 2050. Já o aumento da classe média na Ásia implicará aumento desproporcional do consumo per capita de grãos, proteínas, frutas e tantos outros alimentos.

A ALC ocupa lugar de destaque na produção agrícola e já é um dos maiores exportadores do mundo. Mas as condições para o aumento da produção sustentável são inigualáveis, o que dá à região espaço de manobra para ser muito mais ambiciosa e almejar agregar valor e exportar alimentos processados, que empregam muito mais gente, geram muito mais renda e fomentam cadeias de valor locais e regionais.

No que tange à mineração, a região também é muito bem-dotada e o futuro passa por aqui. Afinal, está na ALC muito do minério de ferro de mais alta qualidade, fundamental para o aço verde, e muitas das maiores reservas de lítio, níquel e tantos outros minérios críticos e até decisivos para o crescimento econômico mundial, o que também dá respaldo para a industrialização e exportação de valor agregado.

E, finalmente, a ALC tem posição invejável para gozar dos muitos benefícios do powershoring. A região é uma gigantesca potência energética com grande protagonismo em energias limpas e renováveis e em biocombustíveis e está desenvolvendo novas tecnologias e novas soluções para apoiar a transição climática. A grande capacidade de produzir energia verde, segura, barata e abundante, o distanciamento de temas geopolíticos e o aumento do compliance ambiental global põe à região condição privilegiada para receber plantas industriais estrangeiras intensivas em energia e que buscam proteger os seus interesses corporativos contribuindo, assim, para a aceleração e redução dos custos da descarbonização dos países de origem daquelas plantas, tais como os países europeus.

Apesar das dificuldades, há motivos para otimismo. Desde distintos indicadores, a região tem mostrado que é resiliente à crises e que goza da confiança dos investidores. De fato, a ALC é a maior receptora líquida de investimento direto estrangeiro em nível mundial e isso diz muito. Realizar todo o potencial de crescimento requer uma importante capacidade, pública e privada, de mobilização de recursos financeiros e não financeiros e de políticas públicas bem desenvolvidas, articuladas e implementadas. A ALC poderá ter um grande protagonismo na arena global e ser fonte de soluções e de crescimento sustentado e sustentável que beneficie à sua própria população e à população mundial. Será preciso, para isto, saber reconhecer, valorizar e aproveitar o imenso potencial que temos em nossas mãos.

Jorge Arbache

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Jorge Arbache

Vicepresidente de Sector Privado, CAF -banco de desarrollo de América Latina y el Caribe-

Antes de su ingreso a CAF fue Secretario de Asuntos Internacionales del Ministerio de Planificación, Desarrollo y Gestión de Brasil y Secretario Ejecutivo del Fondo de Inversión Brasil-China. También fue economista jefe en el Ministerio de Planificación en Brasil; Asesor económico principal de la Presidencia de BNDES y Economista Principal del Banco Mundial en Washington, DC. También es profesor de economía en la Universidad de Brasilia. Arbache tiene más de 28 años de experiencia en las áreas de gobierno, academia, organizaciones internacionales y sector privado. Su interés radica en agendas de crecimiento económico y políticas sectoriales que incluyen comercio internacional, inversión, productividad, competitividad, innovación, economía digital, industria y servicios. Es autor de cuatro libros y docenas de artículos científicos publicados en revistas académicas internacionales. Es licenciado en Economía y en Derecho y Doctor en Economía por la Universidad de Kent (Reino Unido).

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