Nelson Larrea
Ejecutivo Principal de la Dirección de Programación de Sector Privado
Tradicionalmente, a área rural era delimitada com base em sua categorização estatística e demográfica (densidade menor que a urbana), seu vínculo direto com a atividade agropecuária (abordagem setorial); ou simplesmente por exclusão, como todo espaço não urbano, pobre, disperso e sem conexão com os principais fluxos vitais dos países.
Essa conceitualização levou os formuladores de políticas a direcionar recursos para a área rural de acordo com uma abordagem compensatória, com subsídios para atender a extrema pobreza e medidas de urgência diante de eventualidades climáticas ou sociais. Também levou a concentrar as intervenções técnicas principalmente na modernização agrícola - que, naturalmente - continua sendo de grande relevância.
Entre as décadas de 1990 e 2000, várias entidades começam uma discussão sobre a “nova ruralidade” e formam o Grupo Interagencial para o Desenvolvimento Rural: FAO, IICA, FIDA, BID, BM, GIZ, USAID, AECID e CEPAL. Nesse âmbito, chama-se a atenção para as restrições da abordagem puramente setorial como uma simplificação excessiva que passa por alto a grande complexidade de atores e dinâmicas territoriais, ignorando o aporte potencial de outros setores da economia. Hoje, as cadeias globais de valor, os agronegócios modernos que incorporam tecnologia e adotam padrões além de qualquer fronteira, e o desenvolvimento vertiginoso da agricultura urbana em ambientes controlados enfraquecem ainda mais a identidade rural-agropecuária.
Rafael Echeverri enfatiza a Abordagem Territorial que desde então começou a marcar o ritmo, assinalando que "um território é rural quando sua especificidade é sua dependência dos recursos naturais e sua base econômica está estruturada em torno da oferta ambiental na qual se sustenta". De acordo com essa perspectiva, aproximações como a Gestão Integral das Bacias Hidrográficas começam a ganhar maior força como instrumentos para o desenvolvimento rural em consonância com processos de Ordenamento Territorial. Conceitos e aplicações como a Compensação por Serviços Ecossistêmicos contribuem ainda mais para visibilizar os trade-off entre usuários dos serviços (água potável e para irrigação, por exemplo) e o espaço rural onde são gerados e preservados.
Ainda hoje, os promotores de desenvolvimento continuam enfrentando o desafio de sair de sua zona de conforto e começar a olhar para além de projetos de produtividade agrária – estima-se que, dependendo da área, a renda rural não agrícola pode chegar a 40% mais para as famíliase, portanto, compreender os meios de subsistência das unidades econômicas rurais com uma visão ampla da diversificação é um ponto de partida importante para o desenho de políticas e programas.
Obviamente, é complexo deixar de visibilizar apenas o elo primário de um setor para abordar o desenvolvimento rural com uma visão sistêmica, na qual também são reconhecidos como atores indiscutíveis do território os grandes investimentos, as indústrias extrativistas e as geradoras de energia. São visibilizadas as oportunidades de turismo sustentável, as indústrias criativas, as cadeias e clusters, os serviços ecossistêmicos, os sistemas financeiros, entre muitos outros elementos que se sobrepõem ao ecossistema territorial. O desafio de maior complexidade para a institucionalidade de nossos países recai em fornecer e fortalecer mecanismos de governabilidade para a convivência harmoniosa e produtiva de todos esses atores e do sistema.
Atualmente, a FAO assinala que 78% dos 169 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável dependem exclusiva ou principalmente de ações realizadas em áreas rurais do mundo, começando por destacar que sem os 500 milhões de agricultores familiares seria impossível alcançar os principais objetivos estabelecidos (ODS1 - erradicação da pobreza extrema e ODS2 - fome e desnutrição). Além disso, a América Latina e o Caribe contribuem com 45% das exportações líquidas globais de alimentos, mais do que a Europa e os Estados Unidos. Mas muitos dos ODS (em saúde, educação etc.) têm lacunas a superar mais acentuadas nas áreas rurais, de modo que não poderão ser alcançados até 2030 se não forem coordenados sob estratégias multissetoriais orientadas a ter eficácia nesse espaço e em suas dinâmicas.
Em seus 50 anos, o CAF construiu uma ampla história de intervenções de impacto na área rural em toda a América Latina, em termos de estradas, logística, conectividade e comunicações, educação, saneamento, irrigação, produtividade para agroexportação, inclusão financeira, seguros agropecuários, entre muitas outras dimensões, às quais mais recentemente se somam as políticas e programas dos setores agroalimentar e rural dos países. Em termos de conhecimento, participa da "Aliança para a Governança e a Institucionalidade do Desenvolvimento Rural, a Agricultura e a Alimentação na América Latina e no Caribe", liderada pela FAO com o apoio do Instituto de Ciência Política Hernán Echavarría Olózaga da Colômbia. Também vem participando significativamente em eventos como a Primeira Cúpula da Colômbia Rural (outubro de 2019), entre outras atividades relevantes da região.