Pablo Cisneros
Ejecutivo Principal de Energía de CAF
Era o ano de 2000 e, na mídia impressa e seminários sobre energia, falava-se sobre a consolidação das energias renováveis. A época era de grande debate sobre o futuro do petróleo, cúpulas do clima, bem como ainda sobre o incidente de Chernobil. Vinte anos se passaram e as energias renováveis, como a eólica e a solar, se consolidaram.
Hoje, quando falamos de hidrogênio, talvez fiquemos como há 20 anos ao falarmos das energias renováveis. Alguns são céticos, mas também há muitos técnicos e empresários que apostam nessa tecnologia que, com certeza, se consolidará nos próximos 15 ou 20 anos ou até antes, considerando que a tecnologia avança a uma velocidade estonteante.
Muitos se perguntarão: e por que hidrogênio? A primeira resposta a esta pergunta, sob uma perspectiva técnica, seria: por ser um combustível limpo, além de produzir mais energia por quilo do que qualquer outro. Além disso, a disponibilidade deste elemento joga a seu favor, pois, embora não se encontre no estado natural, como no caso do petróleo ou do carvão, pode ser obtido por processos químicos, começando com a água como principal insumo se aplicarmos o método de obtenção por eletrólise. Embora, atualmente o hidrogênio seja obtido a partir de hidrocarbonetos, especialmente do gás natural, existido também desenvolvimentos em sua obtenção por meio da energia solar.
Nesse sentido, especialistas no assunto realizam uma classificação por cores que são atribuídas com base no método utilizado para sua obtenção. Para ilustrar, abaixo estão alguns exemplos:
- Hidrogênio verde, produzido por eletrólise da água, usando energia renovável; seu nome está associado a emissões zero
- Hidrogênio cinza, atualmente, o de maior produção e que utiliza combustíveis fósseis para sua produção, emitindo CO2 neste processo
- O hidrogênio azul é igual ao anterior, mas, nesse caso, se houver captação de CO2 exatamente igual à que é realizada, atualmente, em usinas termelétricas a gás natural ou de ciclo combinado.
- O hidrogênio roxo é aquele obtido a partir da eletricidade produzida pelas usinas nucleares, visto que, apesar de a energia nuclear ser limpa, apresenta riscos ambientais
- Hidrogênio marrom ou preto, produto da cor do carvão, com o qual a eletricidade é produzida.
No que tange a aplicações no setor de energia, a gama é diversificada, uma vez que o hidrogênio verde e o azul estão posicionados mundialmente como uma tecnologia-chave para atingir os objetivos de descarbonização, particularmente em setores com alta demanda de energia, como indústrias (refinaria, produtos químicos, fertilizantes, metanol, aço, mineração, cimento...) e transporte pesado (caminhões e ônibus de longa distância, trens, navios e possivelmente aviões no longo prazo).
Essas versatilidade e amplitude geraram incentivos que até superaram as limitações impostas pela COVID-19, com avanços significativos em diversos países da Europa e da Ásia. Por exemplo, a Alemanha anunciou, há alguns meses, investimentos de 9 bilhões de euros focados no hidrogênio verde; a França anunciou, em setembro, um investimento de 7 bilhões de euros para os próximos 10 anos integralmente focado nessas tecnologias, com 2 bilhões de euros investidos nos próximos 12 meses. A Comissão Europeia anunciou que o hidrogênio verde e o azul serão dois dos pilares de sua nova estratégia de crescimento verde (“Green Deal”) pós-COVID. Também anunciou suas expectativas de ver o mercado europeu de hidrogênio passar de 2 bilhões de euros, em 2020, para 140 bilhões de euros, em 2030. Da mesma forma, Japão, Coréia do Sul e China têm apostado neste novo setor de forte crescimento.
Na América Latina, vários países entenderam o enorme potencial do hidrogênio verde, não apenas como uma tecnologia a ser incluída em seu arsenal de estratégias de descarbonização, mas também como uma oportunidade de aproveitar os enormes excedentes de produção intermitente de eletricidade que acompanharão o rápido crescimento da capacidade renovável, utilizando o hidrogênio como vetor energético para exportação de energia limpa. Seguindo o exemplo de seus pares na Europa, Califórnia, Japão, Coréia do Sul e China, os governos da região estão começando a explorar o potencial desta energia e identificaram a necessidade de construir uma estratégia nacional de hidrogênio como um dos primeiros passos para o desenvolvimento de tecnologia em nível de país.
O Chile, que vem se posicionando como líder regional, será o primeiro país a ter uma Estratégia Nacional, que deverá ser apresentada até o fim de 2020. Na Costa Rica, com forte apoio do setor privado e do Banco Interamericano de Desenvolvimento, medidas estão sendo tomadas nesse sentido, incluindo um roteiro para o hidrogênio verde no setor de transportes. O México também está trabalhando ativamente no assunto, quantificando potenciais de mercado e explorando projetos prioritários. Na Colômbia, uma licitação é preparada para um estudo de definição de uma Estratégia Nacional. O Uruguai também tem interesse em desenvolver essas tecnologias e, nesse sentido, está trabalhando para se tornar um exportador de energia renovável na forma de hidrogênio verde na próxima década, visto que o potencial renovável do país é capaz de atender mais a sua demanda interna, gerando superávits elétricos significativos e aproveitando o momento de baixos custos elétricos com que o hidrogênio poderia ser produzido.
Em todos os casos apresentados para a região, o desafio será estudar se os preços são competitivos ou não por enquanto, bem como empreender rapidamente o desenvolvimento de regulamentos, normas, incentivos, mecanismos financeiros e de adoção de tecnologia que viabilizem sua posterior implementação.