Incerteza e os bancos multilaterais de desenvolvimento

Data do artigo: 18 de janeiro de 2022

Autor del post - Jorge Arbache

Vicepresidente de Sector Privado, CAF -banco de desarrollo de América Latina y el Caribe-

Um aspecto que ajuda a compreender o funcionamento dos mercados é a tomada de decisão em contextos de incerteza. Embora investidores e empreendedores prefiram operar em ambientes mais amigáveis e previsíveis, também se interessam em operar em ambientes mais complexos e imprevisíveis, mas até certo ponto. Afinal, a previsibilidade está associada à capacidade de identificar e mitigar riscos, à formação de preços e à estimação de custos e taxas de retorno.
Assim que quando o ambiente de negócios é bastante imprevisível e/ou está demasiadamente exposto a novas fontes de incertezas, então os investidores e empreendedores normalmente ajustam, postergam ou até cancelam projetos. Nesses contextos, projetos com maiores retornos sociais muitas vezes dão lugar a negócios especulativos ou são desviados para outras geografias.
Dito isto, vivemos tempos de grandes e intensas mudanças, muitas delas muito rápidas, que estão tornando o ambiente de negócios menos previsível e menos propício para investimentos de maior retorno social, como as infraestruturas. São muitas as novas fontes de imprevisibilidade e, dentre elas, estão a pandemia, as mudanças climáticas, as mudanças tecnológicas, as ameaças geopolíticas e a extraordinária e crescente concentração de mercados em nível global. Essas e outras mudanças já têm tido, mas provavelmente terão impactos ainda mais contundentes na tomada de decisão e no funcionamento dos mercados.
Embora seja um fenômeno geral, países emergentes, como os da nossa região, estão mais expostos àquelas mudanças. Isto porque as fontes de imprevisibilidade e suas consequências tendem a ser magnificadas pelas muitas falhas de mercado e pelas circunstâncias econômicas, sociais e políticas específicas a cada um dos nossos países. Para não ir longe, pense nos impactos notadamente fortes da pandemia na mortalidade das empresas, no crescimento econômico, nas finanças públicas, na pobreza e na educação de crianças e jovens. E pense também nas recorrentes descontinuidades de políticas públicas resultantes de mudanças de governos e do voluntarismo político. Temas como esses acendem a luz de alerta do investidor.
De fato, embora ofereça uma miríade de oportunidades de novos negócios e investimentos, as incertezas que pairam sobre a região são tais que nem mesmo a elevada liquidez dos mercados internacionais teve os efeitos ​esperados no influxo de investimentos estrangeiros diretos (IED). Mas a região precisa voltar a crescer para compensar os efeitos mais imediatos da pandemia e também os mais prolongados resultantes da desaceleração econômica iniciada após o fim do super ciclo de commodities na primeira metade da década passada. E, para isto, precisará contar com os investidores nacionais e internacionais, o que requer oferecer um ambiente de negócios mais previsível.
Os bancos multilaterais de desenvolvimento (BMD) estão contribuindo para aqueles esforços colocando anualmente cerca de US$ 45 bilhões na América Latina em apoio a projetos e operações com os setores público e privado. São montantes expressivos, mas relativamente modestos diante das necessidades. Para referência, representam apenas algo como 20% a 25% de todo o IED anual recebido pela região.
Os braços dos BMD voltados para o apoio ao setor privado têm enfatizado operações que atuam na identificação e redução de custos e riscos, bem como têm buscado alocar recursos de forma mais estratégica, de forma a reduzir incertezas, atrair recursos de terceiros e ampliar a presença privada nos mercados – pense, a modo de exemplo, na significativa expansão das agendas de PPP e concessões em vários países da região, o que tem feito toda a diferença para o desenvolvimento, e que contaram com o apoio decisivo daquelas instituições. Desta forma, mais do que mirar no “quanto”, os bancos têm mirado no “onde” e no “como” intervir, de forma a potencializar os impactos diretos e indiretos das suas intervenções.
Grosso modo, aquele apoio segue em duas vertentes. De um lado estão ações que ajudam a organizar o funcionamento dos mercados e a tornar bancáveis projetos de investimento que, do contrário, teriam maior dificuldade de acesso a mercado. Ali estão incluídos o apoio aos esforços públicos de desenvolvimento e modernização de marcos institucionais e regulatórios dos mercados e de formação de capacidades nas agências reguladoras, o apoio a estudos de pré-factibilidade e estruturação de projetos, o assessoramento financeiro em favor de PPPs e concessões, as cooperações técnicas para o desenvolvimento e estruturação de operações e o apoio com conhecimento em favor do desenvolvimento de novos mercados e novos modelos de negócios.
De outro lado estão ações que visam dar acesso a recursos em condições condizentes com as realidades dos projetos. Ali estão incluídos financiamentos e cofinanciamentos com prazos e condições compatíveis com as necessidades e características das operações de alto retorno social, apoio ao desenvolvimento do mercado de garantias, empréstimos subordinados e operações A/B, apoio à emissão de títulos temáticos, operações de equity, ampliação da carteira de operações com moedas locais, desenvolvimento de veículos e fundos de investimentos de propósito específico para gerir ativos de terceiros, como fundos de pensão e family offices, dentre outros instrumentos.
Por fim, os BMD estão se estruturando para apoiar os países naquela que será a maior fonte de imprevisibilidade e incertezas, que são as mudanças climáticas. Os países da região terão que enfrentar os desafios da adaptação e da mitigação, mas, também, explorar e viabilizar a gigantesca agenda de novos negócios e o mercado de créditos de carbono. Para isto, será especialmente necessário colocar à disposição novos instrumentos financeiros e não financeiros e muito conhecimento.

Jorge Arbache

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Jorge Arbache

Vicepresidente de Sector Privado, CAF -banco de desarrollo de América Latina y el Caribe-

Antes de su ingreso a CAF fue Secretario de Asuntos Internacionales del Ministerio de Planificación, Desarrollo y Gestión de Brasil y Secretario Ejecutivo del Fondo de Inversión Brasil-China. También fue economista jefe en el Ministerio de Planificación en Brasil; Asesor económico principal de la Presidencia de BNDES y Economista Principal del Banco Mundial en Washington, DC. También es profesor de economía en la Universidad de Brasilia. Arbache tiene más de 28 años de experiencia en las áreas de gobierno, academia, organizaciones internacionales y sector privado. Su interés radica en agendas de crecimiento económico y políticas sectoriales que incluyen comercio internacional, inversión, productividad, competitividad, innovación, economía digital, industria y servicios. Es autor de cuatro libros y docenas de artículos científicos publicados en revistas académicas internacionales. Es licenciado en Economía y en Derecho y Doctor en Economía por la Universidad de Kent (Reino Unido).

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