Medidas econômicas contra o coronavírus

Data do artigo: 27 de março de 2020

Autor del post - Pablo Sanguinetti

Ex vicepresidente de Conocimiento, CAF

Este artigo também foi publicado no jornal El País

A pandemia do coronavírus gerou uma crise econômica sem precedentes. As principais economias globais estão em uma recessão acentuada, e inevitavelmente isso afetará a América Latina.

De fato, desde a crise financeira de 2008, não vimos uma combinação de fatores tão prejudiciais à região, que vão desde as contrações comerciais causadas pelo fechamento de fábricas na Ásia, até o colapso do preço das matérias-primas - especialmente a energia - e a escassez de financiamento externo.

Um sinal da gravidade da situação é que, desde o início de janeiro, o bloco de países emergentes acumulou saídas de capital de aproximadamente US$ 85 bilhões, muito superior ao visto durante a crise de 2008 e outros episódios de volatilidade financeira na última década.

É importante compreender que as medidas de distanciamento social necessárias ou quarentenas tomadas são de custo econômico significativo. A paralisação da atividade, particularmente nos setores que mais geram empregos – serviços, construção, comércio e turismo – reduz significativamente a renda das famílias e das empresas e limita drasticamente o consumo e o investimento.

Contra isso, os governos da região estão considerando medidas emergenciais imediatas nos campos monetário, cambial, financeiro e fiscal. Por um lado, os bancos centrais implementam políticas monetárias para evitar que as empresas fiquem sem caixa, a fim de pagar seus funcionários, evitar demissões em massa e manter pagamentos aos fornecedores. No nível técnico, essas medidas se concentram na redução das taxas de juros e no aumento da liquidez em moeda nacional por meio de iniciativas extraordinárias.

As medidas cambiais incluem intervenções diretas nos mercados cambiais para reduzir a volatilidade e a depreciação acelerada cambial (por exemplo, no Brasil), ou o uso de instrumentos financeiros para reduzir a incerteza dos preços da moeda. Por exemplo, o Banco da República da Colômbia anunciou um leilão de US$ 1 bilhão em adiantamentos cambiais para trazer estabilidade ao mercado.

Do lado financeiro, os juros e pagamentos de capital das dívidas corporativas também estão sendo reestruturados. Os bancos públicos e de desenvolvimento também estão fornecendo seus recursos para apoiar as empresas. Por exemplo, anunciou-se medidas como o refinanciamento das linhas de crédito oferecidas pela BIESS no Equador, o aumento de recursos para a Siga para empréstimos a pequenas e médias empresas no Uruguai, ou a linha de crédito de liquidez para empresas do setor de turismo e aviação da Bancoldex na Colômbia.

Essas medidas estão sendo complementadas por insumos fiscais, cujo alcance pode ser maior e mais rápido. No caso de uma emergência sanitária, é imperativo, antes de tudo, reforçar as capacidades do setor de saúde para proteger a população.

Também busca-se apoiar os setores produtivos e segmentos da população mais afetada pela crise, salvaguardando sua operação e capacidade de consumo. Do lado empresarial, por exemplo, os pagamentos de impostos corporativos, folha de pagamento e IVA estão sendo diferidos e os sistemas de transferência para pessoas vulneráveis, como seguro-desemprego e previdência, foram expandidos em paralelo.

Levando-se em conta os altos níveis de informalidade do trabalho e dos negócios na América Latina, é necessário ampliar o apoio e atingir os segmentos de menor renda da população e dos setores produtivos mais vulneráveis, como as pequenas e médias empresas, por meio de mecanismos como transferências diretas. Também será necessário incluir profissionais autônomos e de classe que prestam serviços pessoais, sem seguro-desemprego, com pouca capacidade de poupança e que não recebam transferências sociais dos grupos mais vulneráveis.

As autoridades enfrentam enormes desafios para alcançar os objetivos esperados. Em primeiro lugar, poucos países da região têm espaço para avançar o estímulo fiscal que responde à escala desta crise. Muitos países passam por processos de consolidação orçamentária para restaurar ou garantir a sustentabilidade de sua dívida, o que reduz seu espaço para manobras. Nesse sentido, muitas das medidas representam avanços de despesas ou realocação de itens orçamentários, em vez de estímulos adicionais.

Em segundo lugar, a cessação da atividade doméstica implicará uma deterioração substancial das receitas fiscais, o que reduzirá ainda mais o espaço para implementar medidas necessárias, como redução de impostos ou expansão de gastos. Em terceiro lugar, o pânico financeiro nos mercados internacionais limitará as oportunidades de empréstimos, e isso restringirá o escopo de ação, especialmente em países com mercados financeiros domésticos subdesenvolvidos que dependem principalmente de financiamento externo.

Nesse cenário, no curto prazo será importante a atuação das agências multilaterais. O FMI, o Banco Mundial e regionalmente o BID e o CAF ofereceram novos empréstimos para enfrentar o coronavírus, bem como readequar os créditos existentes para enfrentar a emergência. No caso do CAF, aconteceu o lançamento de uma linha de crédito emergencial de US$ 2,5 bilhões para países da região.

Em suma, prevalece a alta incerteza sobre o efeito que essa crise terá sobre as economias da região e sua capacidade de recuperação. No entanto, medidas fortes e oportunas devem ser tomadas para evitar que essas interrupções causem danos muito mais permanentes à economia.

Pablo Sanguinetti

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Pablo Sanguinetti

Ex vicepresidente de Conocimiento, CAF

Ph.D. en Economía en la Universidad de California (EE.UU.). Máster en Economía en la misma universidad. Máster en Economía del Instituto Torcuato Di Tella (Argentina). Se desempeña como profesor de Economía de la Universidad Torcuato Di Tella. Sus intereses de investigación se centran en las áreas de comercio exterior e integración, desarrollo económico y federalismo fiscal. Anteriormente, fue investigador y profesor visitante en la Universidad de New México, la Universidad de Texas (A&M) y la Universidad de Bonn, Alemania. Ha sido miembro de LARR (Latin America Research Review). Ha trabajado como consultor del Banco Mundial, Banco Interamericano de Desarrollo, la Comisión Económica para Latinoamérica y el Caribe (ECLAC), y CAF-banco de desarrollo de América Latina, y ha sido miembro del directorio de la Comisión Nacional de Comercio Exterior de Argentina.  ver publicaciones  

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