Nearshoring e as oportunidades para a indústria

Data do artigo: 11 de março de 2022

Autor del post - Jorge Arbache

Vicepresidente de Sector Privado, CAF -banco de desarrollo de América Latina y el Caribe-

Espera-se que o recente conflito na Europa Oriental gere uma expansão da pandemia e leve a uma recuperação mais lenta da economia global. Deve também ampliar a magnitude de um movimento que já estava em andamento: a “geopolitização” do comércio e dos investimentos, que ganhou força com a tensão nas relações econômicas entre os Estados Unidos e a China. Esse movimento está na base de medidas políticas como o nearshoring.

Entretanto, as medidas que surgiram foram ainda mais contundentes. Os Estados Unidos aprovaram pacotes de política industrial para substituir importações críticas e controlar exportações de tecnologias e estão avaliando fusões e aquisições. O Japão, por sua vez, apresentou recentemente ao parlamento um pacote de medidas para proteger suas cadeias de suprimentos, promover a autonomia do setor e controlar fusões, aquisições e exportação de bens e serviços selecionados. Alguns países vêm adotando políticas semelhantes, enquanto outros instituem margens preferenciais para a produção nacional nas compras públicas e tarifas de exportação.

Os impactos de tais medidas serão devastadores para a globalização e, em um futuro próximo, teremos de conviver com uma economia global mais segmentada, com custos de produção mais elevados, alguma disrupção no mercados financeiro e de capitais e com mais intervenções públicas nos mercados e na internet.
Tudo isso é negativo para a América Latina e Caribe, que sofreu com a Covid e vem, com grande dificuldade, promovendo políticas para impulsionar a reativação de negócios e do emprego. Além disso, também nos penaliza, pois reduz a eficiência dos mercados internacionais dos quais a região se beneficia para abastecer suas mesas de alimentos e suas empresas de insumos, máquinas e tecnologia.

Se, por um lado, a região está bastante exposta aos efeitos da geopolítica sobre os mercados, por outro, os países da região podem se beneficiar. De fato, o México e os países da América Central e Caribe parecem estar particularmente bem posicionados para fazê-lo. Afinal, encontram-se geograficamente próximos dos Estados Unidos, já têm experiência em investimentos industriais internacionais, refletida pela respeitável base de zonas francas, e se beneficiam de acordos de livre comércio, como o Acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA) e o Acordo de Livre Comércio Centro-Americano (DR-CAFTA), firmado entre Estados Unidos e República Dominicana, Costa Rica, El Salvador, Honduras, Guatemala e Nicarágua para acesso preferencial ao mercado norte-americano. Também são favoráveis ​​as estruturas demográficas jovens e os baixos custos trabalhistas, o uso do dólar como moeda oficial em alguns países, o uso dos padrões norte-americanos e a alta integração dos mercados financeiros com o mercado dos EUA.

Não é por acaso que os manufaturados já representam nada menos que 79% das exportações do México, 73% de El Salvador, 57% da República Dominicana e Costa Rica e 42% da Guatemala. Tudo isso faz desses países candidatos naturais para o nearshoring.

Por outro lado, os países que pouco participam das cadeias produtivas norte-americanas estão mais longe de usufruir das mesmas condições atrativas e devem buscar outros meios. O Paraguai, por exemplo, geograficamente distante dos Estados Unidos, está montando uma base de zona franca voltada para seus grandes vizinhos, Argentina e Brasil. Portanto, os benefícios potenciais da proximidade são assimétricos.

Embora o nearshoring ajude a promover o emprego e as exportações, as zonas francas não são panaceias nem garantem o desenvolvimento econômico abrangente ou a integração econômica subrregional. A evidência empírica sugere que tal mecanismo deve ser visto como um ponto de partida e não um ponto de chegada para um processo de desenvolvimento econômico mais amplo.

Certamente, zonas francas são mais que bem-vindas, ainda mais em uma região com uma população tão urbanizada e com taxas de informalidade trabalhista que podem ultrapassar 70%. Os países, no entanto, devem ser mais ambiciosos e transformar oportunidades, como a realocação próxima em motores de crescimento com efeitos econômicos mais profundos e permanentes. Para isso, são necessárias políticas públicas e privadas que capitalizem esse base de oportunidades.

Estão entre as medidas para capitalizar o nearshoring como ferramenta de desenvolvimento: normas e mecanismos para regular a relação entre as zonas francas e os territórios aduaneiros nacionais de forma a estimular uma industrialização mais abrangente e com sinergias e complementaridades com as empresas locais; programas permanentes de capacitação da força de trabalho; apoio de universidades locais para o desenvolvimento industrial; promoção da inovação e da tecnologia; fomento à formação de cadeias produtivas locais; diversificação de fornecedores; estímulo à sustentabilidade como parte integrante do modelo de negócios; programas de qualidade e competitividade; promoção dos fatores facilitadores do comércio eletrônico; desenvolvimento da infraestrutura; digitalização de empresas e cadeias produtivas; diversificação de mercado; acordos comerciais e facilitação; harmonização normativa; e fortalecimento de instituições públicas relevantes.

Por fim, o objetivo das políticas não deve ser apenas atrair empresas, mas também criar as condições necessárias para que se enraízem, expandam negócios e invistam, atraiam fornecedores, agreguem mais valor e contribuam para a formação de clusters. Vale sempre lembrar que as vantagens comparativas não são o destino e podem ser construídas. China, Coreia do Sul e Cingapura estão lá para ajudar a contar essa história.

Jorge Arbache

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Jorge Arbache

Vicepresidente de Sector Privado, CAF -banco de desarrollo de América Latina y el Caribe-

Antes de su ingreso a CAF fue Secretario de Asuntos Internacionales del Ministerio de Planificación, Desarrollo y Gestión de Brasil y Secretario Ejecutivo del Fondo de Inversión Brasil-China. También fue economista jefe en el Ministerio de Planificación en Brasil; Asesor económico principal de la Presidencia de BNDES y Economista Principal del Banco Mundial en Washington, DC. También es profesor de economía en la Universidad de Brasilia. Arbache tiene más de 28 años de experiencia en las áreas de gobierno, academia, organizaciones internacionales y sector privado. Su interés radica en agendas de crecimiento económico y políticas sectoriales que incluyen comercio internacional, inversión, productividad, competitividad, innovación, economía digital, industria y servicios. Es autor de cuatro libros y docenas de artículos científicos publicados en revistas académicas internacionales. Es licenciado en Economía y en Derecho y Doctor en Economía por la Universidad de Kent (Reino Unido).

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