O governo digital precisa de pessoas, não de mais softwares

Data do artigo: 01 de agosto de 2019

Autor del post - María Isabel Mejía

Ejecutiva Senior Dirección de Innovación Digital del Estado, CAF -banco de desarrollo de América Latina-

Artigo publicado originalmente no site da iniciativa Apolitical

Os países latino-americanos vêm implementando estratégias de governo digital há cerca de duas décadas. Essas estratégias têm sido focadas em simplificar e digitalizar os serviços públicos, bem como em criar canais digitais para que a população interaja com o governo e participe das decisões de caráter social.

Ao mesmo tempo, vêm proporcionando maior eficiência às administrações públicas, a população se aproximou dos governos, foram atingidos níveis mais altos de transparência e participação cidadã e milhões de pessoas vêm economizando tempo e dinheiro.

No entanto, há muitos desafios pela frente para canalizar a transformação digital: precisamos atualizar as habilidades e a mentalidade dos servidores públicos para que possam tirar o máximo proveito das oportunidades digitais, mas também gerenciar os riscos inerentes à essa revolução digital.

Por outro lado, os governos enfrentam expectativas mais altas por parte dos “nativos digitais”, cidadãos do século XXI que exigem novas formas de governança e Estados mais ágeis, abertos e inovadores.

 

O governo eletrônico pode ser comparado a andar de bicicleta

Para determinar as circunstâncias da transformação digital na América Latina, o CAF - banco de desenvolvimento da América Latina - encomendou um estudo sobre talentos digitais na região.

Nesse esforço, que supervisionei, concluímos que um desafio fundamental para os governos em seu caminho de transformação digital é a falta de talentos com conhecimento digital, bem como o lento, mas necessário, processo de atualização de seus conhecimentos sobre as novas tecnologias, que avançam de forma exponencial.

É preciso talento humano especializado para que seja possível tirar proveito dessas ferramentas. Para o setor privado, a demanda por esses especialistas já é extremamente difícil de atender. Muito mais, então, para o setor público, em que os salários tendem a ser mais baixos.

Mas que tipo de talento é necessário? Os especialistas em TIC não são mais suficientes, como foi o caso durante a primeira geração de reformas de governo eletrônico, na década de 1990 e no início dos anos 2000.

Agora, o governo também precisa de conhecimentos e habilidades em outras áreas de especialização: inovação pública, ciência de dados e tecnologias emergentes, tais como internet das coisas, blockchain, análise de big data e inteligência artificial.

Para continuar o processo de transformação, é essencial que os servidores públicos se mantenham atualizados sobre novas tecnologias, desenvolvam suas habilidades sociais e tenham a oportunidade de aprender e desenvolver suas competências de maneira contínua.

É como andar de bicicleta: é preciso continuar pedalando para não cair ou ficar para trás.

 

Precisamos adquirir habilidades políticas digitais

Promover a transformação digital no setor público não exige apenas habilidades técnicas digitais. As habilidades políticas digitais também estão em alta demanda.

Uma lição para a América Latina é que já não é suficiente investir nas habilidades digitais dos departamentos de tecnologia da informação dos órgãos públicos. Promover a transformação digital exige que os responsáveis por políticas públicas estejam cientes do potencial das soluções digitais e de dados.

Da mesma forma, os funcionários públicos dos ministérios setoriais – como saúde, educação e segurança – e serviços de apoio, como contratos públicos ou serviço civil, também precisam ter uma boa compreensão dessas ferramentas.

Nossa experiência na América Latina nos mostra que os servidores públicos que trabalham na linha de frente e o pessoal de apoio administrativo têm um papel fundamental no processo de transformação para “fazer as coisas acontecerem”.

 

O desafio para os governos

Os governos também querem que as coisas aconteçam, mas enfrentam dois grandes desafios: melhorar as habilidades digitais e aumentar a consciência dos servidores públicos, por meio da capacitação profissional e da gestão de habilidades digitais especializadas no setor público.

No Brasil, por exemplo, a escola de governo federal está implementando um ambicioso programa de capacitação em transformação digital para servidores públicos, por meio da iniciativa Capacita Gov.BR.

Uma das principais conclusões do estudo é a falta de estratégias e políticas públicas para gerir as habilidades digitais nos países latino-americanos. Para abordar esse desafio, a Espanha criou um mapa profissional de especialistas em tecnologia no setor público, com trajetória profissional predefinida.

Tradicionalmente, as escolas nacionais de governo não investem em capacitação digital, mas o cenário está começando a mudar.

 

Três inovações promissoras

As entidades públicas devem implementar estratégias inovadoras para atrair, reter e alocar os escassos talentos digitais. De acordo com o CAF, foram identificados três caminhos promissores na região:

  1. Aproveitar os laboratórios de inovação para aprimorar os serviços e gerar soluções inovadoras para os problemas públicos. Esses laboratórios oferecem pontos de encontro entre servidores públicos, cidadãos, empresários, empresas tecnológicas e acadêmicos para promover a inovação pública.

    Dessa forma, esses laboratórios se tornaram mecanismos de entrada para atrair talento digital especializado para trabalhar no setor público. Algumas experiências que podemos destacar são: o Laboratório de Governo do Chile, o LABGobArof Argentina, o Gnova do Brasil e o LabX de Portugal.
  1. Fazer campanhas de sensibilização por meio da mídia e das redes sociais. Um bom exemplo é a iniciativa “IT Talent” da Colômbia: em um momento em que o interesse dos jovens por estudar carreiras STEM (sigla em inglês para Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática) havia diminuído consideravelmente, o governo colombiano, em parceria com algumas universidades públicas e particulares e associações de tecnologia da informação, lançou uma campanha para atrair jovens para cursos relacionados à TI.

    Nessa campanha, enfatizaram não só as oportunidades de emprego no setor público, mas também o compromisso com o serviço e o bem públicos. O investimento do governo em bolsas de estudo permitiu que o número de estudantes matriculados em carreiras de TI aumentasse consideravelmente.

    Por exemplo, no Programa de Engenharia de Sistemas e Informática da Universidad de los Andes, o número de alunos matriculados subiu de 330, em 2013, para 814, em 2019.
  1. Estabelecer acordos de capacitação com universidades, agências internacionais e empresas de tecnologia. Segundo o estudo encomendado pelo CAF, esses acordos permitiram que países como Costa Rica, Equador, Panamá e Peru capacitassem servidores públicos e os motivassem a se manterem atualizados, estimulando, ao mesmo tempo, o interesse da população por iniciar uma carreira no serviço civil.

 

O caminho à frente

Essas iniciativas não podem ser implementadas de maneira isolada. Para terem sucesso, os governos precisam de uma estratégia integral, que abranja todos os aspectos: a contratação de novos talentos digitais, o aprimoramento do talento digital existente, a capacitação dos servidores públicos e a gestão dos especialistas em tecnologia que atuam no governo.

Deve haver uma estrutura de governança sólida, com uma entidade que conduza a estratégia de talentos digitais (que pode ser a mesma que administra a agenda digital) e um trabalho coordenado com as instituições responsáveis pelo emprego público (geralmente, a comissão de serviço público), bem como os responsáveis pela formação dos servidores públicos (normalmente, escolas nacionais de governo).

Finalmente, os governos não devem investir apenas em talentos digitais. Precisam envolver as várias partes interessadas ?do ecossistema digital (universidades, empresas de tecnologia) e criar novas formas de parcerias público-privadas para fomentar o talento digital na sociedade.

Os governos latino-americanos tendem a ser lentos em seus processos de transformação. Investir em talentos digitais é o caminho para acelerar esses processos. Ter o talento certo permitirá que nossos países aproveitem os benefícios das novas tecnologias e, dessa forma, encontrem soluções inovadoras para os velhos problemas que afetam nossas populações.

María Isabel Mejía

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María Isabel Mejía

Ejecutiva Senior Dirección de Innovación Digital del Estado, CAF -banco de desarrollo de América Latina-

Ingeniera de Sistemas y Computación de la Universidad de los Andes, donde también hizo una especialización en Gerencia Estratégica de Informática. Fue la coordinadora del Proyecto Año 2000 (Y2K) de Colombia, directora ejecutiva de Computadores para Educar y directora de la Estrategia de Gobierno en línea. Entre el 2012 y el 2016 fue Viceministra de Tecnologías y Sistemas de la Información, posición desde la cual desempeñó el rol de CIO de Colombia, liderando el fortalecimiento de la industria de Tecnologías de la Información así como el fortalecimiento de la gestión de Tecnologías de la Información en el Estado. Además de sus actividades como servidora pública ha sido socia fundadora de varios emprendimientos de base tecnológica entre los cuales vale la pena mencionar a Info Projects, CityScan y PROA IA, los cuales desarrollan proyectos y soluciones innovadoras para la trasnformación digital de las organizaciones.  

Categorias
Transformação digital do estado Inovação pública e governo digital Melhoria e simplificação regulatória Transparência e integração pública Governança municipal e municipal
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