Pandemia e cadeias de valor globais

Data do artigo: 11 de fevereiro de 2021

Autor del post - Jorge Arbache

Vicepresidente de Sector Privado, CAF -banco de desarrollo de América Latina y el Caribe-

O surto da pandemia no início de 2020 na China e a consequente interrupção das cadeias de abastecimento nos primeiros meses daquele ano geraram preocupações em todo o mundo. Surgiram questões como os riscos de uma concentração excessiva da produção e a dependência de equipamentos médicos e hospitalares, medicamentos e outros bens fabricados na China, a interdependência excessiva da produção industrial e a transmissão dos choques econômicos da pandemia para a economia mundial através do comércio.

Os governos responderam às dificuldades de importação de produtos de saúde e enquadraram o tema como uma questão de segurança sanitária, na linha da segurança alimentar, e passaram a defender a diversificação das cadeias de abastecimento e a produção local desses e de outros bens e serviços. Alguns países foram ainda mais longe e adotaram disposições para poder interferir no investimento e no comércio estrangeiros e tomaram medidas para recuperar suas empresas multinacionais que operam na China. Além disso, as agendas de política industrial reviveram.

Essas preocupações levaram a um intenso debate sobre o destino das cadeias de valor globais (CVGs). Surgem perguntas sobre o fim da globalização da produção, devido às reações dos governos, e sobre a saída das multinacionais da China. Quaisquer que sejam as respostas, a sensação predominante é de que as CVGs teriam ido longe demais e mostrado seus limites, e que teria chegado a hora de se transformarem.

Mas as evidências mostram que as CVGs passaram por um processo de transformação em direção à regionalização, que começou muito antes da pandemia. As razões para isso incluem a crescente importância dos serviços de valor agregado, como P&D, distribuição e marcas, a popularização e o uso generalizado de tecnologias que poupam trabalho, como robôs e inteligência artificial, a crescente importância da personalização da produção e da regionalização das estratégias de vendas e marketing, a preocupação cada vez maior com a pegada de carbono, as lições do terremoto de 2011 no Japão para as cadeias de abastecimento, e o aumento da participação dos intangíveis nas cestas de consumo. Portanto, a transformação das CVGs estaria associada a mudanças tecnológicas e estratégias de negócios.

Nesse sentido, deveríamos esperar uma queda nas CVGs e sua forte presença na China? Com exceção dos equipamentos médico-hospitalares e outros elementos politicamente sensíveis, há razões para esperar poucas mudanças no curto prazo além do processo já em andamento. E há muitas razões para isso.
A China é vista pelas multinacionais como um lugar muito atraente para desenvolver, produzir e distribuir para o mundo inteiro. Deve-se lembrar que entre os principais determinantes da localização de importantes atividades da cadeia de valor estão as redes de colaboração e relação, a logística e a diversidade de fornecedores, fatores que abundam naquele país. Mudar a geografia das plantas industriais, centros de distribuição e laboratórios de pesquisa seria um exercício caro e demorado, especialmente na difícil situação empresarial atual.

Além da questão da eficiência, a presença de empresas multinacionais na China é cada vez mais justificada pelo tamanho dos mercados chinês e asiático, que estão se tornando o eixo da economia global. 

Finalmente, embora a China já esteja desenvolvendo tecnologias avançadas, marcas e inclusive liderando importantes CVGs, o país ainda precisa da presença de multinacionais e de investimentos estrangeiros em diversas áreas, sugerindo que o governo deve continuar com as políticas recentes de liberalização de mercados específicos, incentivando, assim, novos investimentos.

Este conjunto de razões ajuda a explicar por que a China se tornou o principal destino do investimento estrangeiro direto em nível global e a recente conclusão do ambicioso acordo de investimento China-União Europeia (CAI).

Por outro lado, a politização das questões comerciais, investimentos e fluxos de recursos e dados pode influenciar os destinos da CVG. Há muitas medidas nesse sentido, incluindo ações protecionistas, medidas que comprometem os contratos comerciais existentes, sanções e bloqueios de ativos das empresas, limitações para pagamentos e transferências; leis que interferem com fusões e aquisições, medidas que ameaçam o livre funcionamento e a integridade da Internet. As implicações dessas ações para as CVGs são inequívocas e incluem a redução da segurança jurídica, o aumento dos custos de produção e dos preços ao consumidor.

Qual dos dois conjuntos de fatores prevalecerá nos destinos das CVGs: viés comercial ou viés político? Há indicações a favor de ambos, mas seria razoável esperar que as empresas recebam mais atenção.

De tudo isso, uma coisa é certa: a América Latina, que geralmente participa das CVGs através da produção e exportação de commodities e importa uma parcela significativa dos bens manufaturados e insumos de que precisa, terá suas exportações afetadas. Por isso, é necessário considerar a elevação dos preços das importações para atender aos seus interesses, com potenciais impactos no crescimento, produtividade, competitividade, bem-estar, emprego e pobreza.

Jorge Arbache

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Jorge Arbache

Vicepresidente de Sector Privado, CAF -banco de desarrollo de América Latina y el Caribe-

Antes de su ingreso a CAF fue Secretario de Asuntos Internacionales del Ministerio de Planificación, Desarrollo y Gestión de Brasil y Secretario Ejecutivo del Fondo de Inversión Brasil-China. También fue economista jefe en el Ministerio de Planificación en Brasil; Asesor económico principal de la Presidencia de BNDES y Economista Principal del Banco Mundial en Washington, DC. También es profesor de economía en la Universidad de Brasilia. Arbache tiene más de 28 años de experiencia en las áreas de gobierno, academia, organizaciones internacionales y sector privado. Su interés radica en agendas de crecimiento económico y políticas sectoriales que incluyen comercio internacional, inversión, productividad, competitividad, innovación, economía digital, industria y servicios. Es autor de cuatro libros y docenas de artículos científicos publicados en revistas académicas internacionales. Es licenciado en Economía y en Derecho y Doctor en Economía por la Universidad de Kent (Reino Unido).

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Equidade e inclusão social Internacionalização Saúde e nutrição Inclusión social Produtividade Género e inclusión social
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