Pequena empresa e transformação digital

Data do artigo: 12 de novembro de 2020

Autor del post - Jorge Arbache

Vicepresidente de Sector Privado, CAF -banco de desarrollo de América Latina y el Caribe-

Uma das características da economia da América Latina é a excessivamente elevada presença de pequenas e médias empresas (PME) no tecido produtivo, no emprego e na produção. Até aí, a região não difere substancialmente do observado em países industrializados. O que nos difere são a excessivamente baixa produtividade, competitividade e dinamismo daquelas empresas e o fato de elas estarem voltadas majoritariamente para o consumo local, pagando salários baixos e gerando empregos de baixa qualidade. Em razão disto, as PME são vistas como parte do problema e não da solução do nosso atraso econômico e social. Mas as coisas não têm que necessariamente ser assim e razões para isto não faltam.

Temos observado mudanças cada vez mais rápidas e intensas nas preferências dos consumidores e nas cestas de consumo, em especial em favor dos serviços. De fato, o consumo vem se diversificando por regiões e por coortes demográficos, de renda e outras características, o que tem sido viabilizado por tecnologias sofisticadas, mas relativamente baratas de gestão e de produção flexível, que permitem a customização a preços acessíveis, em oposição à massificação e padronização.

Já a pandemia tem acelerado tempos e tendências e adicionado ainda mais às transformações nos padrões de consumo. Parcelas crescentes da população passaram a comprar pelos canais digitais, o que está provocado mudanças profundas nas relações entre empresas e consumidores, requerendo modelos de negócios mais dinâmicos, adequados e adaptados às novas circunstâncias e necessidades dos consumidores. A crescente preocupação dos clientes com temas como sustentabilidade e produção local e exigências regulatórias ambientais, sanitárias e sociais também têm contribuído para transformar os mercados.

É provável que as preferências dos consumidores e as condições dos mercados sigam em mutação, o que vai requerer que as empresas estejam ainda mais preparadas para também se transformarem. Porém, empresas grandes e burocratizadas nem sempre têm estruturas organizacionais, capacitação, conhecimento, flexibilidade e granularidade necessários para acompanhar mudanças rápidas nos mercados. É neste contexto que empresas ágeis, flexíveis e com bom conhecimento do terreno podem se beneficiar e fazer a diferença. Isto rima com PME.

De fato, a pandemia ajudou a revelar a capacidade inovadora e de adaptação das PME para desenvolver novos produtos e serviços adequados às novas realidades. Isto tudo está fomentando uma miríade de oportunidades e diversificação de negócios. O desafio das PME é capturar aquelas oportunidades e realizar todo o enorme potencial de crescimento.

Para isto, será preciso atacar vários temas e um dos mais importantes é o da transformação digital. Plataformas, aplicativos e redes sociais estão se tornando o canal e a ferramenta para a manutenção e sobrevivência de milhões de pequenos negócios já existentes e para o desenvolvimento de novos negócios.

Mas o avanço da transformação digital entre as PME requer atenção à agendas habilitadoras, como cobertura de internet, velocidade de conexão e logística, e outras agendas, como inclusão digital da população, digitalização das cadeias de valor e transformação digital integral das operações, para muito além dos canais de marketing e vendas. Também será preciso tratar de temas regulatórios associados à facilitação da entrada de empresas nos mercados e o encorajamento da inovação, bem como medidas de coerência regulatória e harmonização e garantias dos direitos dos consumidores e trabalhadores.

Outro tema pendente é o da capacitação. A transformação digital entre as PME não será bem sucedida sem assistência técnica e avanços nas capacidades dos funcionários e gestores para poderem utilizar e se apoderar de forma plena de todos os benefícios e recursos daquelas tecnologias.

Como apenas uma limitada parcela da população da região já está engajada em compras online, os benefícios comerciais potenciais da transformação digital para as PME ainda são vastos. Porém, há que se ter em conta que o crescimento das vendas online na região tem raiz mais no aumento do número de novos clientes do que no aumento do valor médio dos tickets, que cresce de forma lenta. Assim que, tudo o mais constante, o benefício relativo do engajamento das PME na transformação digital poderá desacelerar à medida que for aumentando o número de empresas digitalizadas. Neste contexto, a capacidade de inovar e brindar clientes com algo mais, como qualidade e suporte pós-vendas, por exemplo, é que fará a diferença na competitividade.

A transformação digital será tão mais benéfica para as PME quanto mais elas lograrem absorver os excedentes do consumidor associados às compras digitais. Neste sentido, o excessivo poder de mercado das ferramentas de pagamentos e plataformas de marketplace poderá levá-los a abocanhar parcela elevada e crescente daquele excedente, comprimindo margens e induzindo a uma competição destrutiva. Uma resposta eficaz seriam normas e políticas de concorrência que promovessem mercados abertos, acessíveis, com proteção de dados e termos justos e razoáveis, em especial para os pequenos negócios. Essas medidas incentivariam a transformação digital entre as PME.

A digitalização ajudará a aumentar a produtividade e a competitividade e pavimentará um padrão de crescimento mais resiliente e sustentado para as PME, contribuindo para que elas sejam parte da solução do desenvolvimento socioeconômico da nossa região.

Jorge Arbache

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Jorge Arbache

Vicepresidente de Sector Privado, CAF -banco de desarrollo de América Latina y el Caribe-

Antes de su ingreso a CAF fue Secretario de Asuntos Internacionales del Ministerio de Planificación, Desarrollo y Gestión de Brasil y Secretario Ejecutivo del Fondo de Inversión Brasil-China. También fue economista jefe en el Ministerio de Planificación en Brasil; Asesor económico principal de la Presidencia de BNDES y Economista Principal del Banco Mundial en Washington, DC. También es profesor de economía en la Universidad de Brasilia. Arbache tiene más de 28 años de experiencia en las áreas de gobierno, academia, organizaciones internacionales y sector privado. Su interés radica en agendas de crecimiento económico y políticas sectoriales que incluyen comercio internacional, inversión, productividad, competitividad, innovación, economía digital, industria y servicios. Es autor de cuatro libros y docenas de artículos científicos publicados en revistas académicas internacionales. Es licenciado en Economía y en Derecho y Doctor en Economía por la Universidad de Kent (Reino Unido).

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Produtividade Integração produtiva

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