Por que nos preocupamos com os serviços?

Data do artigo: 13 de dezembro de 2019

Autor del post - Jorge Arbache

Vicepresidente de Sector Privado, CAF -banco de desarrollo de América Latina y el Caribe-

Há algum tempo aprendemos que a contribuição do setor de serviços para o PIB estava associada à etapa de desenvolvimento econômico, que resultaria, entre outros, do processo de transformação econômica, da urbanização e do crescimento da renda. Mas o tempo passou e os serviços se tornaram frequentes mesmo nas economias pobres. Aprendemos, então, que não só a contribuição importava, mas também a estrutura e a composição do setor de serviços. E deveria ser assim porque a heterogeneidade do setor que já é alta continuou aumentando. Afinal, o setor inclui desde serviços simples e pessoais, como cabeleireiros, até serviços sofisticados como P&D.

Também aprendemos que as economias mais avançadas têm uma proporção maior de serviços B2B, ou empresas que operam com empresas, enquanto as economias menos avançadas têm uma proporção maior de serviços B2C, ou empresas que operam com usuários finais. Aprendemos ainda que a composição dos serviços B2B também importava devido aos diferentes destinos e funções desses serviços. Uma dessas famílias de funções abrange serviços convencionais de suporte à produção e distribuição, como transporte, segurança e venda no varejo. Outra engloba serviços que diferenciam produtos e agregam valor, como P&D, marcas e design.

Outro aprendizado mostrou que o perfil dos serviços oferecidos tem impacto nas vantagens competitivas e na produtividade agregada da economia. Isso é assim porque as diferentes atividades de serviço têm uma produtividade significativamente diferente: em geral, os serviços B2C têm uma produtividade menor que os de B2B, e entre eles, os serviços convencionais têm menor produtividade que a diferenciação de produtos e os serviços de valor agregado.

Portanto, quando pensamos na questão da contribuição dos serviços para o crescimento econômico, pode-se concluir que não seria suficiente aumentar a eficiência do que já é produzido; também seria necessário disponibilizar e melhorar a eficiência de serviços com maior impacto na competitividade de outros setores.

Dadas as necessidades da América Latina de maior crescimento econômico e maior competitividade e produtividade, onde a região estaria na agenda de serviços? Para responder a isso, utilizamos dados da OCDE (matrizes de entrada-saída de 2015) para comparar os Estados Unidos, que tem o maior e mais sofisticado setor de serviços, com as três maiores economias da região, Argentina, Brasil e México (ABM), que, em conjunto, respondem por aproximadamente dois terços do PIB e da população regional.

Os dados mostram que os serviços contribuíram com 79% do PIB dos EUA, enquanto a ABM contribuiu com 64%, não muito aquém da Alemanha e do Japão, com 69%. Embora a participação dos serviços B2B no PIB tenha sido muito maior nos Estados Unidos, a composição difere mais: naquele país, 53% dos serviços B2B eram serviços convencionais e 47% eram serviços de diferenciação de produtos; na ABM, os percentuais foram de 70% e 30%, respectivamente, uma diferença considerável.

Essa situação reflete, pelo menos em parte, as diferenças na estrutura de produção e nos perfis de oferta e demanda de serviços. De fato, a indústria manufatureira dos EUA exigiu substancialmente mais serviços para suas cadeias de produção do que a da ABM. Mas as diferenças não pararam por aí. A indústria dos EUA exigiu relativamente mais serviços de diferenciação de produtos, enquanto a ABM exigiu serviços relativamente mais convencionais, refletindo as diferentes etapas de desenvolvimento tecnológico e gerencial nas duas regiões.

Algo semelhante foi observado na agricultura. Nos Estados Unidos, a indústria exigiu mais serviços do que a ABM e, em particular, serviços relativamente mais sofisticados, enquanto a agricultura ABM exigiu serviços relativamente mais convencionais. Na mineração, a demanda da ABM mostrou alguma paridade com a dos Estados Unidos, resultado fortemente influenciado pelos indicadores brasileiros.

Os serviços de alimentação, hospedagem, venda no varejo e transporte estão entre os segmentos de menor produtividade. O problema é que eles têm quase o dobro de participação no PIB da ABM em relação aos EUA, o que ajuda a explicar a enorme diferença de produtividade entre as regiões. Embora esses serviços sejam em grande parte prestados por micro, pequenas e médias empresas, na América Latina a contribuição dessas empresas é desproporcionalmente alta e conta com a participação de muitas empresas informais, o que também ajuda a explicar a diferença de produtividade entre as regiões.

Parece razoável considerar que, dado o seu tamanho e implicações sistêmicas, o setor de serviços deveria receber maior atenção das políticas setoriais da região. Mas, apesar dos desafios, há mudanças positivas no padrão dos serviços latino-americanos. Por um lado, a indústria incorporou tecnologias digitais e novas tecnologias de gestão. Por outro lado, as startups e outras iniciativas inovadoras estão identificando falhas de mercado em setores tão diversos e importantes como o transporte de cargas, o mercado de crédito e os serviços de dados, e estão ajudando a aumentar a oferta de novos e melhores serviços, contribuindo para a competitividade de toda a economia.  

A região se beneficiará de políticas setoriais articuladas entre o setor de serviços e a indústria, a agricultura e a mineração. Também se beneficiará de políticas que ajudem a escalar iniciativas inovadoras de serviços, atrair novos negócios, aumentar a concorrência e as habilidades profissionais, melhorar o marco regulatório e institucional, desenvolver tecnologias e aumentar o acesso ao crédito.

Jorge Arbache

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Jorge Arbache

Vicepresidente de Sector Privado, CAF -banco de desarrollo de América Latina y el Caribe-

Antes de su ingreso a CAF fue Secretario de Asuntos Internacionales del Ministerio de Planificación, Desarrollo y Gestión de Brasil y Secretario Ejecutivo del Fondo de Inversión Brasil-China. También fue economista jefe en el Ministerio de Planificación en Brasil; Asesor económico principal de la Presidencia de BNDES y Economista Principal del Banco Mundial en Washington, DC. También es profesor de economía en la Universidad de Brasilia. Arbache tiene más de 28 años de experiencia en las áreas de gobierno, academia, organizaciones internacionales y sector privado. Su interés radica en agendas de crecimiento económico y políticas sectoriales que incluyen comercio internacional, inversión, productividad, competitividad, innovación, economía digital, industria y servicios. Es autor de cuatro libros y docenas de artículos científicos publicados en revistas académicas internacionales. Es licenciado en Economía y en Derecho y Doctor en Economía por la Universidad de Kent (Reino Unido).

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