Powershoring II

Data do artigo: 07 de dezembro de 2022

Autor del post - Jorge Arbache

Vicepresidente de Sector Privado, CAF -banco de desarrollo de América Latina y el Caribe-

A Europa presencia um número crescente de empresas industriais com dificuldades para superar a grave crise do preço e suprimento de energia, a qual está associada à forte dependência de importação do insumo. A crise já apontava no horizonte desde antes da guerra da Ucrânia, mas acelerou desde então. Enquanto várias empresas estão reduzindo a produção, outras, em especial as pequenas e médias, estão fechando as portas e outras tantas estão demitindo funcionários e realocando parte das suas operações no exterior como forma de lidar com a situação.  

 

De fato, levantamentos de grêmios industriais apontam crescente interesse de empresas em transferir plantas para outros países e analistas já até falam em uma “desindustrialização acelerada da Europa”. A modo de exemplo, uma importante produtora de fios e cabos elétricos baseada na Alemanha viu, ao longo de 2022, o seu custo anual com energia multiplicar por seis em relação a 2020 e a perspectiva é de mais aumentos em 2023 e de mais problemas de suprimento. Esta conjunção afeta contratos e negócios, com implicações deletérias na participação de mercado. A energia definitivamente deixou de ser um item a mais de custo para se tornar fator crítico do destino de operações industriais. O movimento de relocalização deverá avançar nos próximos anos, especialmente entre empresas de setores intensivos em energia. 

 

A incerteza, o custo e a insegurança energética associados à geopolítica não são os únicos fatores a afetar a geografia dos investimentos, seja na Europa, seja em outras partes. Fenômenos climáticos extremos estão levando à escassez de energia, apagões e lockdowns e também estão forçando a redução da produção e até o fechamento de fábricas, tal como visto recentemente na Ásia e nos Estados Unidos, o que está levando a um revisionismo sobre as vantagens e riscos da concentração geográfica da produção. A isto se somam regulações ambientais e compromissos corporativos com a descarbonização, temas especialmente relevantes para empresas mais expostas ao escrutínio governamental, do público e dos investidores, o que também está levando a um revisionismo sobre localização industrial. Para a China, aos fatores anteriores se somam o protecionismo verde e geopolítico. 

 

Tudo isto altera o retorno dos investimentos e coloca em evidência a relevância do powershoring como estratégia para proteger a competitividade e a produtividade, dar segurança à produção e garantir o compliance com a agenda ambiental. O powershoring refere-se à descentralização da produção para países próximos a centros de consumo e que oferecem energia limpa, segura, barata e abundante, além de outras virtudes para a atração de investimentos industriais. O powershoring já está se convertendo num dos principais determinantes da localização industrial no século XXI. 

 

Mas, os fatores que incentivam o powershoring seriam transitórios ou permanentes? A insegurança e os preços das energias fósseis ainda seguirão complicados por muito tempo, seja por razões geopolíticas, regulatórias ou por falta de investimentos em infraestruturas específicas. A dependência da energia fóssil importada deverá diminuir ao longo do tempo com a entrada em serviço de estações de energia renovável, mas o esverdeamento das matrizes energéticas das grandes economias importadoras ainda tomará muito tempo. Regulações e impostos de carbono deverão avançar na Europa, elevando custos domésticos e afetando a competitividade empresarial. E a insegurança energética associada a fenômenos extremos do clima também seguirá cobrando a fatura. 

 

Portanto, parece razoável afirmar que aqueles incentivos têm raízes em fatores permanentes ou quase permanentes e não transitórios, e que o powershoring seria uma estratégia de mitigação daquelas “falhas de mercado”. Afinal, o powershoring reduz custos, aumenta a eficiência e a segurança produtiva, melhora a alocação de recursos, protege a competitividade, acelera a descarbonização no país de origem e contribui para o compliance das empresas com a agenda ambiental. 

 

A América Latina e o Caribe (ALC) estão especialmente bem-posicionados para serem o destino de empresas que necessitam do powershoring. Dentre os fatores habilitadores imediatos estão a matriz energética já verde ou bastante verde, o aumento da oferta de projetos de energia renovável com custos marginais decrescentes, a implantação de projetos de produção de hidrogênio verde, a baixa exposição a tensões geopolíticas, o crescente endurecimento das normas de compliance ambiental e ESG e investimentos em portos e zonas industriais. 

 

Mas, para potencializar o powershoring e ocupar espaços, a região terá que avançar com ambição e determinação numa agenda de regulação e incentivos para estimular o investimento em energia renovável e em redes de transmissão e distribuição; disponibilizar instrumentos de de-risking para atrair investimentos, especialmente de projetos de mais alto impacto em cadeias produtivas e em agregação de valor; garantir estabilidade regulatória; aprovar legislações fiscais que estimulem a produção industrial para exportação; aumentar investimentos em portos e em zonas industriais; promover acordos de investimento e de comércio; estimular a auto-produção de energia limpa; capacitar recursos humanos; estimular mecanismos de fast track para licenciamento ambiental e one-stop shop; capacitar e aparelhar agências de promoção de investimentos; e disponibilizar informações para investidores, em especial para os de setores com maior potencial de interesse. E, finalmente, promover e construir processos para agendas combinadas de powershoring e mercado de carbono. Afinal, trata-se de dois lados da mesma moeda. 

 

O powershoring é uma oportunidade única para converter a vantagem comparativa da região em energia verde e a distância da agenda geopolítica em instrumentos potentes de promoção do desenvolvimento econômico e social. O powershoring terá efeitos importantes na produtividade, na competitividade, na tecnologia e na inovação e contribuirá para a formação e consolidação de cadeias regionais de valor. Certamente, o powershoring será muito útil e benéfico para a região, mas será ainda mais útil para as empresas que entenderem as virtudes dessa estratégia. 

Jorge Arbache

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Jorge Arbache

Vicepresidente de Sector Privado, CAF -banco de desarrollo de América Latina y el Caribe-

Antes de su ingreso a CAF fue Secretario de Asuntos Internacionales del Ministerio de Planificación, Desarrollo y Gestión de Brasil y Secretario Ejecutivo del Fondo de Inversión Brasil-China. También fue economista jefe en el Ministerio de Planificación en Brasil; Asesor económico principal de la Presidencia de BNDES y Economista Principal del Banco Mundial en Washington, DC. También es profesor de economía en la Universidad de Brasilia. Arbache tiene más de 28 años de experiencia en las áreas de gobierno, academia, organizaciones internacionales y sector privado. Su interés radica en agendas de crecimiento económico y políticas sectoriales que incluyen comercio internacional, inversión, productividad, competitividad, innovación, economía digital, industria y servicios. Es autor de cuatro libros y docenas de artículos científicos publicados en revistas académicas internacionales. Es licenciado en Economía y en Derecho y Doctor en Economía por la Universidad de Kent (Reino Unido).

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