Quais Atalhos?

Data do artigo: 22 de janeiro de 2021

Autor del post - Jorge Arbache

Vicepresidente de Sector Privado, CAF -banco de desarrollo de América Latina y el Caribe-

O PIB da América Latina cresceu 2,1% em média por ano no período 2000-2020. A esta taxa, a economia da região seria capaz de dobrar de tamanho a cada 33 anos. Como referência, o PIB dos países emergentes e em desenvolvimento cresceu 5,1% no mesmo período, o que lhes possibilitaria dobrar de tamanho a cada 14 anos. No período 2010-2020, os respectivos crescimentos foram de 1,1% e 4,3% e, em 2020, ano da pandemia, foram de -8,1% e -3,3%. Infelizmente, as perspectivas vindouras não são muito melhores, já que o FMI projeta crescimento de 2,8% para a região no período 2021-2025 e de 5,2% para os países emergentes e em desenvolvimento. Esses números mostram não apenas que a nossa região está crescendo pouco, mas que ela está se descolando das demais economias emergentes.

Para além da pandemia e suas consequências imediatas, políticas pró-crescimento se justificariam por ao menos cinco razões. A primeira é que, conforme mostra a história moderna, crescimento baixo não é neutro e pode ter implicações não negligenciáveis nas atitudes e valores das pessoas, com repercussões negativas para a estabilidade política e para as instituições democráticas. Esse tema é especialmente relevante para democracias jovens. Embora padrão de consumo seja elemento importante dessa equação, ainda mais relevante é o processo de melhoria daquele padrão e a distribuição dos frutos do crescimento.

A segunda razão é que só o crescimento pode gerar os recursos necessários para atacar muitos dos nossos mais graves problemas econômicos, como a baixa poupança e investimento, a limitada capacidade de gerar empregos e o financiamento do Estado. A terceira é que crescimento econômico é o caminho mais viável para tratar das nossas maiores chagas sociais, que são a pobreza e a desigualdade. A quarta razão é que o baixo crescimento está reduzindo a nossa relevância econômica. Em 2010, o PIB da região representava 7,7% do PIB global; em 2020, representava 4,9%. Estimativas do FMI sugerem que aquela participação seguirá caindo até pelo menos 2025. A perda de densidade econômica e massa crítica não é neutra e pode redirecionar investimentos, capital humano e outros recursos para fora da região e alimentar um nocivo círculo vicioso de baixo crescimento.

Por fim, a quinta razão é que a região precisa crescer num momento especialmente determinante para as relações econômicas internacionais, em que mudanças estruturais profundas estão redefinindo os papeis e os destinos dos países na economia global. Pense na economia digital e na economia de plataformas, no comércio, investimentos e fluxos cada vez mais intensos de intangíveis e nos novos meios de pagamentos. Pense no uso cada vez mais intensivo de conhecimento para desenvolver, produzir, vender e financiar produtos e serviços e acompanhar o cliente. Pense nas novas tecnologias de produção e de gestão da produção, nos novos arranjos de comércio e investimentos e nas novas arquiteturas das cadeias produtivas. Pense também nas mudanças trazidas pela pandemia, que estão redefinindo mercados, preferências, padrões de consumo e criando novos modelos de negócios. E pense nas novas energias e na economia verde, que estão redefinindo paradigmas e levando a economia global para uma nova e ampla agenda de inovações, tecnologias e investimentos. Com exceção de casos isolados, a região está ausente daquelas agendas, a despeito das muitas e imensas oportunidades que temos.

Como atestam os casos de países devastados por guerras, como a Coreia do Sul, ou de países miseráveis, como a China de até poucas décadas atrás, a princípio, o nosso atraso econômico não deveria ser visto como um destino e tampouco como um problema incontornável. Mas há que se reconhecer que, a esta altura, os tempos são outros e que as consequências do atraso neste momento não se assemelham às de décadas atrás. Por isto, já não temos tempo para sequenciar reformas, como fizeram Coreia do Sul, China e outros países quando se encontravam em estágio econômico comparável ao nosso atual. E também não devemos esperar que medidas convencionais de política econômica tenham os mesmos resultados para o crescimento que em outros tempos e contextos. A esta altura, será preciso ousadia, queimar etapas e buscar atalhos que encurtem os caminhos que possam nos levar à condição de participar de forma ativa da nova ordem econômica que se descortina.

Aqueles atalhos deveriam nos poupar tempos e recursos, atrair investimentos privados e nos levar o mais diretamente possível para fronteiras da diversificação da produção e da agregação de valor e apontar para mercados em expansão, ao tempo em que deveriam acelerar a nossa integração regional e internacional.

Haveria ao menos dois conjuntos de negócios que deveriam ser considerados. O primeiro está relacionado às oportunidades de geração de valor associadas à industrialização das nossas vantagens comparativas e competitivas. Trata-se da agenda de conhecimento, inovações, tecnologias e investimentos associados à áreas como biodiversidade, novas energias, negócios verdes e meio ambiente, agricultura e mineração, florestas e águas e setores complementares.

O segundo conjunto trata das muitas oportunidades de inovação, desenvolvimento tecnológico e gestão de novos negócios em economia digital e compartilhada e funcionalidades digitais e suas aplicações para problemas novos e antigos, incluindo aqueles associados aos desafios das economias emergentes e em desenvolvimento.

Para crescer a taxas elevadas e de forma sustentada, será preciso ambição, um plano de voo, foco, planejamento, refinamento do desenho, execução e governança das políticas públicas e busca de parceiros que nos acompanhem na jornada.

Jorge Arbache

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Jorge Arbache

Vicepresidente de Sector Privado, CAF -banco de desarrollo de América Latina y el Caribe-

Antes de su ingreso a CAF fue Secretario de Asuntos Internacionales del Ministerio de Planificación, Desarrollo y Gestión de Brasil y Secretario Ejecutivo del Fondo de Inversión Brasil-China. También fue economista jefe en el Ministerio de Planificación en Brasil; Asesor económico principal de la Presidencia de BNDES y Economista Principal del Banco Mundial en Washington, DC. También es profesor de economía en la Universidad de Brasilia. Arbache tiene más de 28 años de experiencia en las áreas de gobierno, academia, organizaciones internacionales y sector privado. Su interés radica en agendas de crecimiento económico y políticas sectoriales que incluyen comercio internacional, inversión, productividad, competitividad, innovación, economía digital, industria y servicios. Es autor de cuatro libros y docenas de artículos científicos publicados en revistas académicas internacionales. Es licenciado en Economía y en Derecho y Doctor en Economía por la Universidad de Kent (Reino Unido).

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