Jorge Arbache
Vicepresidente de Sector Privado, CAF -banco de desarrollo de América Latina y el Caribe-
O PIB da América Latina cresceu 2,1% em média por ano no período 2000-2020. A esta taxa, a economia da região seria capaz de dobrar de tamanho a cada 33 anos. Como referência, o PIB dos países emergentes e em desenvolvimento cresceu 5,1% no mesmo período, o que lhes possibilitaria dobrar de tamanho a cada 14 anos. No período 2010-2020, os respectivos crescimentos foram de 1,1% e 4,3% e, em 2020, ano da pandemia, foram de -8,1% e -3,3%. Infelizmente, as perspectivas vindouras não são muito melhores, já que o FMI projeta crescimento de 2,8% para a região no período 2021-2025 e de 5,2% para os países emergentes e em desenvolvimento. Esses números mostram não apenas que a nossa região está crescendo pouco, mas que ela está se descolando das demais economias emergentes.
Para além da pandemia e suas consequências imediatas, políticas pró-crescimento se justificariam por ao menos cinco razões. A primeira é que, conforme mostra a história moderna, crescimento baixo não é neutro e pode ter implicações não negligenciáveis nas atitudes e valores das pessoas, com repercussões negativas para a estabilidade política e para as instituições democráticas. Esse tema é especialmente relevante para democracias jovens. Embora padrão de consumo seja elemento importante dessa equação, ainda mais relevante é o processo de melhoria daquele padrão e a distribuição dos frutos do crescimento.
A segunda razão é que só o crescimento pode gerar os recursos necessários para atacar muitos dos nossos mais graves problemas econômicos, como a baixa poupança e investimento, a limitada capacidade de gerar empregos e o financiamento do Estado. A terceira é que crescimento econômico é o caminho mais viável para tratar das nossas maiores chagas sociais, que são a pobreza e a desigualdade. A quarta razão é que o baixo crescimento está reduzindo a nossa relevância econômica. Em 2010, o PIB da região representava 7,7% do PIB global; em 2020, representava 4,9%. Estimativas do FMI sugerem que aquela participação seguirá caindo até pelo menos 2025. A perda de densidade econômica e massa crítica não é neutra e pode redirecionar investimentos, capital humano e outros recursos para fora da região e alimentar um nocivo círculo vicioso de baixo crescimento.
Por fim, a quinta razão é que a região precisa crescer num momento especialmente determinante para as relações econômicas internacionais, em que mudanças estruturais profundas estão redefinindo os papeis e os destinos dos países na economia global. Pense na economia digital e na economia de plataformas, no comércio, investimentos e fluxos cada vez mais intensos de intangíveis e nos novos meios de pagamentos. Pense no uso cada vez mais intensivo de conhecimento para desenvolver, produzir, vender e financiar produtos e serviços e acompanhar o cliente. Pense nas novas tecnologias de produção e de gestão da produção, nos novos arranjos de comércio e investimentos e nas novas arquiteturas das cadeias produtivas. Pense também nas mudanças trazidas pela pandemia, que estão redefinindo mercados, preferências, padrões de consumo e criando novos modelos de negócios. E pense nas novas energias e na economia verde, que estão redefinindo paradigmas e levando a economia global para uma nova e ampla agenda de inovações, tecnologias e investimentos. Com exceção de casos isolados, a região está ausente daquelas agendas, a despeito das muitas e imensas oportunidades que temos.
Como atestam os casos de países devastados por guerras, como a Coreia do Sul, ou de países miseráveis, como a China de até poucas décadas atrás, a princípio, o nosso atraso econômico não deveria ser visto como um destino e tampouco como um problema incontornável. Mas há que se reconhecer que, a esta altura, os tempos são outros e que as consequências do atraso neste momento não se assemelham às de décadas atrás. Por isto, já não temos tempo para sequenciar reformas, como fizeram Coreia do Sul, China e outros países quando se encontravam em estágio econômico comparável ao nosso atual. E também não devemos esperar que medidas convencionais de política econômica tenham os mesmos resultados para o crescimento que em outros tempos e contextos. A esta altura, será preciso ousadia, queimar etapas e buscar atalhos que encurtem os caminhos que possam nos levar à condição de participar de forma ativa da nova ordem econômica que se descortina.
Aqueles atalhos deveriam nos poupar tempos e recursos, atrair investimentos privados e nos levar o mais diretamente possível para fronteiras da diversificação da produção e da agregação de valor e apontar para mercados em expansão, ao tempo em que deveriam acelerar a nossa integração regional e internacional.
Haveria ao menos dois conjuntos de negócios que deveriam ser considerados. O primeiro está relacionado às oportunidades de geração de valor associadas à industrialização das nossas vantagens comparativas e competitivas. Trata-se da agenda de conhecimento, inovações, tecnologias e investimentos associados à áreas como biodiversidade, novas energias, negócios verdes e meio ambiente, agricultura e mineração, florestas e águas e setores complementares.
O segundo conjunto trata das muitas oportunidades de inovação, desenvolvimento tecnológico e gestão de novos negócios em economia digital e compartilhada e funcionalidades digitais e suas aplicações para problemas novos e antigos, incluindo aqueles associados aos desafios das economias emergentes e em desenvolvimento.
Para crescer a taxas elevadas e de forma sustentada, será preciso ambição, um plano de voo, foco, planejamento, refinamento do desenho, execução e governança das políticas públicas e busca de parceiros que nos acompanhem na jornada.