Ricardo Estrada
Economista Principal, CAF -banco de desarrollo de América Latina y el Caribe-
A introdução das tecnologias de informação e comunicação (TICs) na prática educacional fez com que as competências digitais dos professores adquirissem relevância para as políticas educacionais. Com o fechamento de escolas e a emergência da educação a distância, a COVID-19 tornou a discussão sobre habilidades um tema de primeira ordem.
Devido ao seu potencial educacional, a maioria dos governos da região incluiu a educação on-line como parte de sua estratégia de educação a distância, ou valorizou fazê-lo. No entanto, o funcionamento adequado da educação on-line depende de fatores-chave, como os recursos de que os alunos dispõem em casa, a qualidade das plataformas e materiais educacionais on-line e os recursos digitais e habilidades dos professores. Sobre este último, devido à falta de dados, sabemos muito pouco.
Seguindo a trilha de um estudo recente, neste artigo apresentamos um perfil das competências digitais de professores em quatro países da América Latina. Este compilado é o resultado de uma análise das bases de dados da PIAAC, uma pesquisa internacional da OCDE que mede as habilidades digitais (e de matemática e compreensão de leitura) da população adulta, em 39 países participantes. Especificamente, a PIAAC avalia a capacidade de resolver problemas em um ambiente digital, ou seja, <ahref="https://www.oecd.org/skills/piaac/piaacdesign/">“não é uma medida da ‘alfabetização em informática’, mas das competências cognitivas exigidas na era da informação”.
Na região participaram da PIAAC Chile, Equador, México e Peru. Portanto, o exercício se concentra nos professores desses países. Para referência, foram incluídos os resultados de 12 países da OCDE com um desempenho acima da média no <ahref="http://www.oecd.org/pisa/">PISA, uma pesquisa da entidade com foco na medição das habilidades de jovens de 15 anos.
O Gráfico 1 mostra a distribuição dos professores segundo nível de desempenho na escala de competências para resolução de problemas em ambientes digitais da PIAAC. Dos professores da região, 7% não possuíam as habilidades necessárias para fazer a avaliação no computador (por exemplo, porque não sabem usar o mouse), 39% foram classificados no nível inferior a 1, 40% no nível 1 e 13% nos níveis 2 e 3.
Em contexto, as pessoas no nível inferior a 1 só podem realizar uma tarefa que não requeira nenhum raciocínio ou transformação das informações, enquanto as pessoas no nível 1 só podem usar aplicativos que lhes sejam familiares, como e-mail ou um navegador da web, para realizar ações que requerem poucos passos e raciocínio simples. Pessoas nesses níveis não seriam capazes de preencher um formulário em um navegador da web que não tenham usado antes. Em contraste, praticamente metade dos professores do grupo de países analisados da OCDE está nos níveis de desempenho 2 e 3.
Em suma, a grande maioria dos professores da região pode não ter as competências digitais necessárias para desempenhar um papel ativo nos processos de ensino-aprendizagem baseados nas TIC, devido ao fato de não poderem realizar atividades on-line que não sejam básicas ou com o que eles não estão familiarizados. No curto prazo, esse déficit de habilidades representa uma barreira significativa para o uso massivo da educação on-line em nossos países. No médio prazo, é um apelo ao reforço da formação de professores em competências digitais.