Que habilidades cognitivas os professores da América Latina têm?

Data do artigo: 25 de agosto de 2020

Autor del post - Ricardo Estrada

Economista Principal, CAF -banco de desarrollo de América Latina y el Caribe-

A qualidade docente é multidimensional e não há um elemento que por si só defina o que é um bom professor. No entanto, existem ferramentas sem as quais um professor do ensino fundamental dificilmente poderia desempenhar bem seu trabalho, como ter habilidades mínimas em matemática e compreensão de leitura.

CategoriasNesse sentido, uma série de estudos realizados em países desenvolvidos tem demonstrado que há, de fato, uma relação entre o domínio que os professores têm dessas habilidades cognitivas e a aprendizagem de seus alunos. Infelizmente, a ausência de dados adequados impediu que fizéssemos um diagnóstico das habilidades cognitivas que os professores da América Latina têm e que soubéssemos se essa é uma área que requer atenção.

Em um estudo recente – elaborado em conjunto com María Lombardi, da Universidade Torcuato di Tella – damos um primeiro passo para aliviar essa lacuna de informações. Para isso, analisamos os bancos de dados do PIAAC, uma pesquisa internacional da OCDE que mede as habilidades em matemática e compreensão de leitura em amostras representativas da população de 16 a 65 anos em 39 países participantes. Na região, o Chile, o Equador, o México e o Peru participaram do primeiro ciclo do PIAAC, por isso focamos a análise na população com estudos terciários desses quatro países. Para precisão estatística, mostramos apenas resultados agregados (ou seja, não analisamos cada país separadamente). Para referência, incluímos os resultados de 15 países da OCDE com desempenho acima da média no Teste PISA – uma pesquisa da OCDE focada em medir as habilidades de adolescentes de 15 anos.

As descobertas são preocupantes. Como pode ser visto no Gráfico 1, uma grande proporção de professores tem níveis muito baixos de habilidades cognitivas. Cerca da metade está nos dois níveis mais baixos de competências na escala do PIAAC. No contexto, as pessoas no nível abaixo de 1 têm, por exemplo, dificuldade em entender o que é 50% e identificar uma informação em um texto, enquanto aquelas no nível 1 têm dificuldade em resolver problemas que requerem dois cálculos com números inteiros e comparar duas informações em um texto. Essa lacuna de habilidades é explicada tanto pelos baixos níveis de competências entre a população adulta desses países, quanto pela diferença de habilidades entre os professores e o resto das pessoas com ensino superior. Em contrapartida, apenas 6 e 4% dos professores dos países de referência da OCDE ocupam os dois níveis de competência mais baixos de matemática e compreensão de leitura, respectivamente.

Como a maioria dos professores estudou na área de educação ou formação de professores (71% na nossa amostra), analisamos o perfil de habilidades de pessoas com esse tipo de ensino superior. Encontramos mais uma vez uma lacuna de habilidades em relação aos graduados de outras áreas de estudo (veja o Gráfico 2), que é ainda maior do que a predominante entre professores e outros profissionais.

O que explica essa diferença? Os professores formados em outras áreas do conhecimento têm, em média, níveis de habilidades mais elevados do que os graduados em carreiras na área da educação (Gráfico 3).

Em suma, os resultados dessa pesquisa indicam que é prioritário prestar atenção ao perfil de habilidades dos professores da região. Uma agenda de melhoria deve partir da análise das condições de trabalho e dos mecanismos de seleção, promoção e formação na carreira docente, iniciando com a entrada nos programas de formação de professores. 

Ricardo Estrada

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Ricardo Estrada

Economista Principal, CAF -banco de desarrollo de América Latina y el Caribe-

Ph.D. en Economía por la Paris School of Economics (Francia). Máster en Política Pública de la Universidad de Chicago (EE.UU.). Sus intereses de investigación se centran en las áreas de economía del trabajo, de la educación y del desarrollo. Antes de unirse a CAF era un Max Weber Fellow en el Instituto Universitario Europeo. Ha sido consultor para organismos internacionales como el Banco Mundial, el Fondo Internacional de Desarrollo Agrícola de las Naciones Unidas y el Population Council. En México, colaboró en el think tank CIDAC y, en el sector privado, en INSAD y Hill and Knowlton.  Ver publicaciones

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