Quem vai liderar a manufatura verde?

Data do artigo: 21 de julho de 2023

Autor del post - Jorge Arbache

Vicepresidente de Sector Privado, CAF -banco de desarrollo de América Latina y el Caribe-

À medida que o mundo considera formas mais sustentáveis de crescimento econômico, países e empresas estão se posicionando para a emergente economia verde desde diferentes perspectivas. Uma delas é a manufatura. Para se cumprir o compromisso do net-zero em 2050, será necessário implementar a mais profunda e rápida mudança de estrutura econômica da história para converter a produção de aço em aço verde, a de plástico em plástico verde e por aí vai. Estima-se que serão necessários investimentos anuais até 2050 de pelo menos US$ 3,3 trilhões para se promover aquela conversão. Para esverdear a manufatura, vários fatores habilitadores deverão estar postos, sendo o mais crucial a disponibilidade de energia verde, segura, barata e abundante para uso nas cadeias de produção.

A manufatura verde está alinhada com regulamentações ambientais cada vez mais rigorosas e metas de sustentabilidade estabelecidas por vários governos e organizações internacionais. Ao atender a esses requisitos, os fabricantes garantem conformidade regulatória e obtêm acesso mais fácil a mercados, expandindo oportunidades de novos negócios. Os fabricantes que investem em tecnologias sustentáveis têm acesso a equipamentos de ponta, sistemas de controle avançados e ferramentas de otimização de processos, o que resulta em maior eficiência operacional, redução do desperdício e aumento da produtividade. O uso de energia limpa também reduz o custo energético num contexto em que a energia renovável já é mais barata que a fóssil. E tudo isto se transforma em vantagem competitiva.

Mas a manufatura sustentável vai além do compliance e da eficiência operacional – as tecnologias que devem ser adotadas capacitam as empresas a serem ambientalmente responsáveis, economicamente resilientes e socialmente conscientes. A produção sustentável também eleva a reputação da marca e o engajamento das partes interessadas da empresa. No final, tudo isto leva à ocupação de novos espaços de mercado. Ali estaria a razão principal da feroz corrida global pela liderança da manufatura verde, com o emprego até de uma espécie de “vale-tudo”, tal como representado por legislações recentemente aprovadas pelos Estados Unidos e Europa, que promovem um sem precedentes conjunto de subsídios, discriminação e protecionismo em favor da manufatura verde.

A mudança em direção à manufatura verde apresenta uma oportunidade para vários países se estabelecerem como líderes em práticas e tecnologias sustentáveis. Dentre estes, a China se destaca como forte concorrente em razão de suas capacidades já estabelecidas e comprovadas na manufatura e ambiciosas metas de energia renovável. Mas a China enfrenta desafios, incluindo a necessidade de ainda fazer uma ampla conversão da matriz elétrica e de ter que enfrentar temas geopolíticos complexos que impactam o comércio e o acesso a mercados.

Já os Estados Unidos e a Europa perseguem políticas industriais altamente ambiciosas para se estabelecerem na manufatura verde. Mas, em linha com a China, ambos ainda têm que enfrentar uma longa e custosa jornada para esverdear a matriz elétrica, estão expostos a temas geopolíticos e partem de uma situação de desvantagem em termos de tamanho e integração do parque fabril, já que há muito a manufatura já não ocupa espaço importante nas respectivas economias.

A América Latina e o Caribe (ALC) também poderia contestar parcela da manufatura verde e a razão principal é a enorme disponibilidade de energia verde. De fato, vários países da região já têm matrizes elétricas majoritariamente verdes e deverão esverdeá-la ainda mais nos próximos poucos anos. Esta condição dá à região uma grande vantagem de tempo e de custo de investimentos e permite que, desde já, possam brindar as cadeias de valor com a possibilidade de produção com baixa emissão, uma vantagem competitiva única. É disto que trata o powershoring. Agregue-se que a região está protegida de temas geopolíticos complexos, tem localização privilegiada e deverá fazer parte da nova geografia global dos investimentos, que busca diversificar a localização das plantas industriais por um tema de resiliência.

Mas os benefícios que a região oferece vão muito além. Vários países contam com muita disponibilidade de água, imensas reservas de minerais críticos, como o lítio, níquel, cobre, terras raras e minério de ferro de alto teor, e biodiversidade especialmente rica e que pode ter papel distintivo para a manufatura sustentável e para o mercado de carbono. Contam, ainda, com vastas florestas e terras agrícolas que oferecem amplas oportunidades para o abastecimento de importantes matérias-primas industriais. A região também está se engajando em compromissos com a preservação ambiental, o que é fundamental para atrair investidores e consumidores que priorizam a produção responsável. Tudo isto posiciona a região como fornecedora confiável de produtos manufaturados sustentáveis.

Liderar a fabricação sustentável requer, no entanto, uma abordagem abrangente e proativa, incluindo estabelecer um forte compromisso com a sustentabilidade; identificar fontes de financiamento; concentrar-se no desenvolvimento de produtos verdes; garantir a expansão da energia limpa; implementar medidas de eficiência energética; promover o mercado de carbono; otimizar a eficiência no uso dos recursos; fomentar uma cultura de inovação; colaborar e envolver os stakeholders; investir em treinamento e educação profissional com os conhecimentos e habilidades necessários para a economia verde; e comunicar as iniciativas sustentáveis. Será também importante demonstrar consistentemente a liderança ambiental e assumir um papel de destaque para um futuro sustentável.

É provável que testemunharemos uma alteração no cenário atual da manufatura global. Muitos setores incumbentes de países com vantagens comparativas e competitivas poderão se atrasar na conversão para o verde, os custos de conversão poderão ser proibitivos, ou ainda, não terão à disposição muitos dos requerimentos para lograr êxito, sugerindo que poderão perder espaço de mercado. Tudo isso contribui para que a ALC possa ambicionar participar da economia verde pela porta da frente, e não apenas como fornecedor de commodities verdes, o que a permitirá transformar a sua economia e resolver de uma vez as suas maiores chagas, que são a pobreza e a desigualdade. Mas, para isto, será necessária muita ambição, determinação, objetividade e capacidade de coordenação, execução e implementação de políticas.

Jorge Arbache

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Jorge Arbache

Vicepresidente de Sector Privado, CAF -banco de desarrollo de América Latina y el Caribe-

Antes de su ingreso a CAF fue Secretario de Asuntos Internacionales del Ministerio de Planificación, Desarrollo y Gestión de Brasil y Secretario Ejecutivo del Fondo de Inversión Brasil-China. También fue economista jefe en el Ministerio de Planificación en Brasil; Asesor económico principal de la Presidencia de BNDES y Economista Principal del Banco Mundial en Washington, DC. También es profesor de economía en la Universidad de Brasilia. Arbache tiene más de 28 años de experiencia en las áreas de gobierno, academia, organizaciones internacionales y sector privado. Su interés radica en agendas de crecimiento económico y políticas sectoriales que incluyen comercio internacional, inversión, productividad, competitividad, innovación, economía digital, industria y servicios. Es autor de cuatro libros y docenas de artículos científicos publicados en revistas académicas internacionales. Es licenciado en Economía y en Derecho y Doctor en Economía por la Universidad de Kent (Reino Unido).

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