Serviços e recuperação econômica

Data do artigo: 13 de outubro de 2021

Autor del post - Jorge Arbache

Vicepresidente de Sector Privado, CAF -banco de desarrollo de América Latina y el Caribe-

A América Latina foi a região mais afetada pela recessão gerada pela COVID-19 e as estimativas sugerem que a recuperação será relativamente lenta. A crise apontou oportunidades de negócios para uma recuperação mais rápida, sólida e resiliente em áreas como mudanças climáticas e transformação digital. São agendas de especial relevância para a região, devido ao enorme potencial de negócios associado à área ambiental e aos imensos espaços a serem preenchidos com a transformação digital do setor produtivo.

Mas a modernização do setor de serviços também pode ser uma forma de reativar a economia e promover um padrão de crescimento mais sustentável e sustentado. E não faltam razões para isso. Por um lado, os serviços constituem pelo menos 60% do valor agregado das economias da região, abrigam a grande maioria das empresas (pelo menos 9 em cada 10 micro, pequenas e médias empresas estão no setor de serviços), representam pelo menos 69% do emprego e 8,4 de cada 10 novos postos de trabalho criados.

Por outro lado, a produtividade laboral no setor é baixa e está estagnada, representando apenas 18% da produtividade dos EUA. Parte da explicação para esse hiato se deve à concentração em segmentos de baixo dinamismo, como muitos dos voltados ao consumidor final, e ao fato de muitos desses negócios serem informais. Dado o tamanho e o potencial de ganhos de produtividade, os programas de modernização no setor de serviços podem trazer benefícios amplos e imediatos para a recuperação.

Mas os benefícios podem ser ainda mais potentes. Isso se deve, em primeiro lugar, ao fato de os serviços terem se tornado a infraestrutura mais importante, que permite a produção e o investimento, devido à servitização da produção. A terceirização, a subcontratação e os novos modelos de negócios têm levado os serviços a ocupar papéis importantes nas cadeias de valor fabril e mesmo agrícola e de mineração, tornando-se, assim, fatores determinantes na geografia dos investimentos e na diversificação e sofisticação produtiva. São serviços financeiros e logísticos, telecomunicações e seguros, mas também muitos outros serviços, como os de pesquisa e desenvolvimento, apoio à produção e cadeias de valor, vendas, distribuição e pós-venda.

Uma segunda razão é que os serviços se tornaram a incubadora mais importante para a inovação e o empreendedorismo e a nova fronteira dos negócios disruptivos. E, em terceiro lufar, porque os serviços são um elo importante entre as economias da região e a economia mundial. No Brasil, 48% do conteúdo exportado são serviços “integrados” aos produtos; no caso do México, a taxa chega a 44% e, na Argentina, 38%. No México, os serviços, incluindo os importados, são elementos-chave na integração do país nas cadeias industriais globais. Mas os serviços também são importantes para o comércio de commodities, respondendo por 22% do valor agregado dos produtos agrícolas e 35% dos produtos minerais exportados pelo Brasil.

Durante os anos de boom da década de 2000, as importações de serviços nas quatro maiores economias da região avançaram a uma taxa anual de mais de 17%, bem acima do crescimento do PIB. Em 2014, as importações correspondentes atingiram um valor recorde de USD 159 bilhões e um déficit de USD 74 bilhões. Nos anos de estagnação que se seguiram, as importações caíram significativamente; só em 2020, a contração chegou a 31%. Assim, as importações de serviços são relevantes não só para a produção, mas também para as contas externas, destacando a contribuição do setor para a dinâmica econômica e a relevância do acesso a serviços para a recuperação da região.

A pandemia também demonstrou que um setor de serviços moderno e eficiente é a espinha dorsal para lidar com situações de desastre. De fato, países com melhor infraestrutura de atendimento obtiveram melhores resultados na implementação de políticas públicas emergenciais e mostraram-se mais resilientes. Desde serviços básicos de saúde, análises clínicas e reabilitação até serviços de logística e distribuição, serviços financeiros, governo eletrônico e serviços digitais, todos provaram ser elementos críticos no combate à pandemia e à crise econômica e social. Mas a pandemia também contribuiu para alertar sobre a importância dos serviços para os ODS e para o enfrentamento das mudanças climáticas, o que exige um conjunto específico de serviços no apoio dos países na adaptação e mitigação de riscos.

Finalmente, a recente crise também mostrou que a estrutura do mercado e os problemas geopolíticos podem ter implicações significativas para o funcionamento dos mercados internacionais de serviços e, portanto, para o acesso a serviços produtivos essenciais. Tais ameaças têm levado as autoridades dos países avançados a promover serviços considerados estratégicos e a revisar regulamentações para salvaguardar seus interesses. Como bem ilustra a atual crise global dos serviços de logística, as rupturas de mercado podem ser altamente prejudiciais à recuperação econômica dos países da região, cujo crescimento é tão dependente das importações.

O crescimento sustentado e resiliente da região por meio dos serviços requer políticas voltadas para um setor de serviços moderno, eficiente, diversificado e competitivo, aliado ao setor produtivo. Isso, por sua vez, exige senso de prioridade, identificação de nós de serviço que limitam a produção, capacitação de trabalhadores e empresas, acesso a financiamentos e tecnologias, políticas de investimento, acordos comerciais, apoio a agendas de P&D e empreendedorismo, regulação moderna e muita colaboração internacional.

Jorge Arbache

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Jorge Arbache

Vicepresidente de Sector Privado, CAF -banco de desarrollo de América Latina y el Caribe-

Antes de su ingreso a CAF fue Secretario de Asuntos Internacionales del Ministerio de Planificación, Desarrollo y Gestión de Brasil y Secretario Ejecutivo del Fondo de Inversión Brasil-China. También fue economista jefe en el Ministerio de Planificación en Brasil; Asesor económico principal de la Presidencia de BNDES y Economista Principal del Banco Mundial en Washington, DC. También es profesor de economía en la Universidad de Brasilia. Arbache tiene más de 28 años de experiencia en las áreas de gobierno, academia, organizaciones internacionales y sector privado. Su interés radica en agendas de crecimiento económico y políticas sectoriales que incluyen comercio internacional, inversión, productividad, competitividad, innovación, economía digital, industria y servicios. Es autor de cuatro libros y docenas de artículos científicos publicados en revistas académicas internacionales. Es licenciado en Economía y en Derecho y Doctor en Economía por la Universidad de Kent (Reino Unido).

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