Um ano depois, como apoiar as empresas?

Data do artigo: 08 de abril de 2021

Autor del post - Jorge Arbache

Vicepresidente de Sector Privado, CAF -banco de desarrollo de América Latina y el Caribe-

Há cerca de um ano atrás, tentávamos entender e avaliar o possível impacto na economia e nas empresas da então recém iniciada pandemia. Foi servida uma sopa de letrinhas: alguns analistas projetavam uma recuperação em V, outros em W, alguns outros em K ou U, e por aí foi.
Os governos da nossa região estavam, e com razão, preocupados com os destinos das empresas. Afinal, era preciso reduzir os riscos mais imediatos de quebras generalizadas e, assim, preservar ativos produtivos e empregos. Nesta toada, reprogramaram pagamentos de dívidas e impostos de empresas e desenvolveram instrumentos de liquidez e garantias. Alguns governos também disponibilizaram suporte para custos trabalhistas.
A expectativa era que a pandemia estaria controlada no segundo semestre de 2020, a crise econômica se dissiparia e as empresas retornariam aos negócios. Embora os custos para os cofres públicos fossem enormes, o apoio emergencial às empresas se justificaria, já que traria benefícios ainda maiores para a sociedade.
As políticas de apoio implementadas foram, em vários casos, de corte amplo, e empresas de diversos setores e características, incluindo já pouco viáveis antes da pandemia ou que nem mesmo necessitavam de recursos públicos, tiveram direito de pleitear benefícios. Estima-se que milhões de empresas da região tiveram acesso a ao menos algum tipo de apoio.
Mas o vírus pegou a todos de surpresa ao resistir às diversas intervenções de contenção. Já estamos na terceira onda da pandemia, a esperada recuperação ainda não veio e as empresas seguem sob pressão. A esperanças residem, agora, na expectativa de que a vacinação possa avançar e ajudar a reconduzir as economias da região de volta aos trilhos ainda no segundo semestre deste ano.
Mas, enquanto a normalização não chega, as preocupações com as empresas seguem se acumulando, notadamente com as pequenas e médias (PME). As reprogramações de dívidas estão próximas do fim ou já terminaram, os programas de liquidez encerraram e os governos encontram-se em situação de grande estresse fiscal, o que dificulta ou limita a capacidade de extensão daqueles programas. Muitas PME padecem já não apenas de problemas imediatos de liquidez, mas, também, de riscos de solvência. Afinal, elas se endividaram e vêm acumulando perdas.
Uma possível consequência desse quadro seria uma grande onda de quebradeiras represadas com importantes implicações econômicas e sociais e, também, para os sistemas financeiros, o que poderia implicar em obstáculos ainda maiores para a normalização das atividades.
O risco de ondas de insolvência é global e não da América Latina, mas ganha especial agudez na região em razão das vulnerabilidades das nossas empresas, que tanto se caracterizam pela informalidade, baixa produtividade e competitividade e baixo engajamento em inovação e internacionalização.
Estudo do FMI sobre riscos de insolvência de PME durante a pandemia feito com uma amostra de países avançados sugere que 20 milhões de empregos poderiam desaparecer a curto prazo naqueles países, o que corresponderia a 13% do emprego nas respectivas empresas, o que dobraria a taxa de desemprego. Em vista das fragilidades das nossas PME e das condições econômicas e sanitárias, pareceria razoável supor que aquela proporção seria bem maior por aqui.
Neste complexo contexto, o que fazer? Está claro que as empresas seguirão necessitando apoio, mas a capacidade de ação dos governos e dos bancos já não é a mesma de um ano atrás. Desta forma, considerando o limitado espaço fiscal, o menor apetite de risco dos bancos e a necessidade de proteger as economias de riscos sistêmicos, talvez seja preciso focalizar esforços de apoio às empresas a fim de lograr maior efetividade dos escassos recursos públicos e promover uma mais rápida reativação econômica.
Uma possibilidade é apoiar, prioritariamente, PME promissoras e com relativamente maior potencial de reação e crescimento. Trata-se de empresas que, por capacidade de adaptação, tecnologia e inovação, modelos de negócios, setores de atuação, preferências dos consumidores e outras características, teriam maior potencial para gerar novos empregos e robustecer a recuperação. Em adição, dever-se-ia apoiar PME em setores estratégicos como, por exemplo, bens e serviços essenciais para o funcionamento de cadeias de produção, e bens e serviços essenciais para empresas, famílias e governos.
Tendo em conta as atuais condições extraordinárias, os instrumentos de apoio também deveriam ser extraordinários. Dever-se-iam considerar novas linhas de crédito e novas garantias específicas e instrumentos menos convencionais, como injeção de quase-capital fresco, conversão de dívidas em capital, sempre e quando possível acompanhados de cumprimento de metas pertinentes e regras de saída, dentre outros instrumentos.
Outro caminho seria introduzir legislações transitórias especiais para facilitar a reestruturação de empresas potencialmente viáveis, ao invés de liquidação muitas vezes acelerada por varas especializadas, e legislações que estimulem reestruturações por câmaras de arbitragem.
Obviamente, os grandes desafios desse tipo de política são o desenho, identificação de empresas e operacionalização dos instrumentos. Para mitigar riscos no confronto entre iliquidez e insolvência de empresas e potencializar impacto, poder-se-ia contar com parcerias com bancos, fintechs e outras instituições especializadas para identificar e avaliar empresas e compartilhar algum risco em bases viáveis para todos.
Infelizmente, não há evidências empíricas consolidadas para nos guiar neste momento e não sabemos se medidas como estas funcionarão tanto quanto esperado. Por isto, será preciso experimentar, ser flexível e desenhar políticas com portas de saída que permitam ajustes, quando necessário. O risco maior a esta altura não é o de errar, mas o de não fazer nada.

Jorge Arbache

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Jorge Arbache

Vicepresidente de Sector Privado, CAF -banco de desarrollo de América Latina y el Caribe-

Antes de su ingreso a CAF fue Secretario de Asuntos Internacionales del Ministerio de Planificación, Desarrollo y Gestión de Brasil y Secretario Ejecutivo del Fondo de Inversión Brasil-China. También fue economista jefe en el Ministerio de Planificación en Brasil; Asesor económico principal de la Presidencia de BNDES y Economista Principal del Banco Mundial en Washington, DC. También es profesor de economía en la Universidad de Brasilia. Arbache tiene más de 28 años de experiencia en las áreas de gobierno, academia, organizaciones internacionales y sector privado. Su interés radica en agendas de crecimiento económico y políticas sectoriales que incluyen comercio internacional, inversión, productividad, competitividad, innovación, economía digital, industria y servicios. Es autor de cuatro libros y docenas de artículos científicos publicados en revistas académicas internacionales. Es licenciado en Economía y en Derecho y Doctor en Economía por la Universidad de Kent (Reino Unido).

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