Um ano depois, como apoiar as empresas?

Data do artigo: 09 de abril de 2021

Autor del post - Jorge Arbache

Vicepresidente de Sector Privado, CAF -banco de desarrollo de América Latina y el Caribe-

Há cerca de um ano, estávamos tentando entender e avaliar o potencial impacto que a pandemia, que apenas havia começado, teria na economia e nos negócios. Uma sopa de letrinhas foi servida: alguns analistas projetavam uma recuperação em V, outros em W, outros em K ou U etc.

Os governos da nossa região estavam, e com razão, preocupados com o destino das empresas. Afinal, era necessário reduzir os riscos mais imediatos de colisões generalizadas e, assim, preservar os ativos produtivos e os empregos. Nesse sentido, remarcaram os pagamentos de dívidas e impostos corporativos e desenvolveram instrumentos de liquidez e garantias. Alguns governos também ofereceram apoio para os custos trabalhistas.

A expectativa era que a pandemia fosse controlada no segundo semestre de 2020, a crise econômica se dissipasse e as empresas voltassem a funcionar. Embora os custos dos cofres públicos fossem enormes, o apoio emergencial às empresas seria justificado, pois traria benefícios ainda maiores para a sociedade.

As políticas de apoio implementadas foram, em muitos casos, de base ampla, e as empresas de diferentes setores e características, incluindo aquelas que mal eram viáveis antes da pandemia, ou que nem sequer precisavam de recursos públicos, tinham direito de reivindicar os benefícios. Estima-se que milhões de empresas da região tiveram acesso a pelo menos alguma forma de apoio.

Mas o vírus pegou todos de surpresa ao resistir a várias intervenções de contenção. Já estamos na terceira onda da pandemia, a recuperação esperada ainda não chegou, e as empresas continuam sob pressão. As esperanças agora residem na possibilidade de que a vacinação avance e ajude as economias da região a voltar aos trilhos no segundo semestre deste ano.

Mas, embora a normalização não seja suficiente, as preocupações com as empresas continuam a se acumular, especialmente com as PME. A remarcação da dívida está chegando ao fim ou já terminou, os programas de liquidez acabaram e os governos estão em uma situação de grande estresse fiscal, o que dificulta ou limita a capacidade de estender esses programas. Muitas PME não sofrem mais problemas imediatos de liquidez, mas também riscos de solvência. Afinal, elas se endividaram e acumularam prejuízos.

Uma possível consequência dessa situação seria uma grande onda de diques dilacerantes com implicações econômicas e sociais significativas e também para os sistemas financeiros, o que poderia implicar obstáculos ainda maiores à normalização de atividades.

O risco de ondas de insolvência é global e não latino-americano, mas torna-se especialmente acentuado na região devido às vulnerabilidades de nossas empresas, que se caracterizam pela informalidade, baixas produtividade e competitividade e pouco compromisso com a inovação e a internacionalização.

O estudo do FMI sobre os riscos de insolvência das PME durante a pandemia realizado com uma amostra de países avançados sugere que 20 milhões de empregos nesses países poderiam desaparecer no curto prazo, o que corresponderia a 13% do emprego nas respectivas empresas, o dobro da taxa de desemprego. Dadas as fraquezas de nossas PME e as condições econômicas e de saúde, parece razoável supor que essa proporção seria muito maior aqui.

Neste contexto complexo, o que fazer? É claro que as empresas continuarão precisando de apoio, mas a capacidade de ação de governos e bancos não é mais a mesma que a de um ano atrás. Assim, considerando o espaço fiscal limitado, o menor apetite dos bancos pelo risco e a necessidade de proteger as economias dos riscos sistêmicos, pode ser necessário concentrar esforços no apoio às empresas para alcançar uma maior efetividade dos escassos recursos públicos e promover uma retomada econômica mais rápida.

Uma possibilidade é apoiar principalmente as PME promissoras com um potencial de reação e crescimento relativamente maior. São empresas que, por sua adaptabilidade, tecnologia e inovação, modelos de negócios, setores de atuação, preferências do consumidor e outras características, teriam um maior potencial para gerar novos empregos e melhorar a recuperação. Além disso, as PME devem ser apoiadas em setores estratégicos como, por exemplo, bens e serviços essenciais para o funcionamento das cadeias produtivas, e bens e serviços essenciais para empresas, famílias e governos.

Tendo em vista as condições extraordinárias atuais, os instrumentos de apoio também devem ser extraordinários. Novas linhas de crédito e novas garantias específicas e instrumentos menos convencionais, como injeção de capital fresco e conversão de dívida em capital, devem ser considerados, desde que estejam acompanhados pelo cumprimento de metas relevantes e regras de saída, entre outros instrumentos.

Outra forma de avançar seria introduzir uma legislação transitória especial para facilitar a reestruturação de empresas potencialmente viáveis, em vez de uma liquidação muitas vezes acelerada por tribunais especializados, e uma legislação que incentive a reestruturação por parte das câmaras de arbitragem.

Obviamente, os grandes desafios dessas políticas são o desenho, a identificação das empresas e a operação dos instrumentos. Para mitigar os riscos no confronto entre a falta de liquidez e a insolvência das empresas e aumentar seu impacto, poderiam ser estabelecidas parcerias com bancos, fintechs e outras instituições especializadas para identificar e avaliar empresas e compartilhar algum risco de forma viável para todos.

Infelizmente, não há evidências empíricas consolidadas que nos guiem neste momento e não sabemos se medidas como essas funcionarão tão bem quanto o esperado. Portanto, será necessário experimentar, ter flexibilidade e projetar políticas com portas de saída que permitam ajustes, quando necessário. O maior risco neste momento não é cometer erros, e sim não fazer nada.

Jorge Arbache

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Jorge Arbache

Vicepresidente de Sector Privado, CAF -banco de desarrollo de América Latina y el Caribe-

Antes de su ingreso a CAF fue Secretario de Asuntos Internacionales del Ministerio de Planificación, Desarrollo y Gestión de Brasil y Secretario Ejecutivo del Fondo de Inversión Brasil-China. También fue economista jefe en el Ministerio de Planificación en Brasil; Asesor económico principal de la Presidencia de BNDES y Economista Principal del Banco Mundial en Washington, DC. También es profesor de economía en la Universidad de Brasilia. Arbache tiene más de 28 años de experiencia en las áreas de gobierno, academia, organizaciones internacionales y sector privado. Su interés radica en agendas de crecimiento económico y políticas sectoriales que incluyen comercio internacional, inversión, productividad, competitividad, innovación, economía digital, industria y servicios. Es autor de cuatro libros y docenas de artículos científicos publicados en revistas académicas internacionales. Es licenciado en Economía y en Derecho y Doctor en Economía por la Universidad de Kent (Reino Unido).

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