Vacinação na pandemia: a velocidade importa

Data do artigo: 07 de abril de 2021

Autor del post - Gustavo Fajardo

Economista Principal, CAF

Este blog foi escrito por Anabella Abadi M. e Gustavo Fajardo.

Excerto: As campanhas de vacinação começaram em um ritmo lento e desigual na região. Acelerá-las tem enorme importância, tanto em termos de vidas salvas como da atividade econômica. Os governos devem identificar os fatores que limitam a velocidade das campanhas e fazer investimentos de forma determinada para superá-los.

A política de vacinação deve ser regida pelo princípio de que cada dia conta, literalmente. É muito importante imunizar-se logo. Um exercício simples (e um pouco ingênuo) pode nos ajudar a entender a importância de antecipar a vacinação de uma pessoa em, por exemplo, três meses: durante os picos da pandemia registrados na região, atingiu-se uma taxa de mortalidade de 0,03% da população em 30 dias. Nesse ritmo, antecipar a imunização em três meses significa reduzir o risco de morte em 0,1% para uma pessoa em média (os números são ainda mais dramáticos para as faixas etárias mais elevadas). É difícil expressar esse benefício em termos monetários, mas qualquer cálculo razoável mostraria que ele é muito superior aos preços pagos pelas doses (entre US$ 3 e US$ 44). Nessa mesma linha, um estudo do BID com cálculos para a América Latina estima que antecipar o fim da pandemia em três meses “produziria um lucro de quase US$ 35 bilhões apenas em ganhos econômicos” . Os ganhos de uma vacinação rápida são tão elevados que justificam uma maior disposição para gastar e assumir determinados riscos do que se observou até o momento. Além disso, um ano de pandemia deixou clara a lição de que medidas de contenção e controle são muito caras e têm eficácia questionável.

A boa notícia é que as campanhas de vacinação já começaram em praticamente toda a América Latina. A má notícia é que o ritmo inicial tem sido mais lento do que o desejado, embora com grande heterogeneidade. O percentual da população que recebeu pelo menos uma dose até o momento varia de menos de 1% em alguns países a mais de 10% em outros (ver Imagem 1). O Chile é um caso excepcional de sucesso, tendo implantado uma das campanhas de vacinação mais rápidas do mundo.

<>Imagem 1.<> Percentual da população total que recebeu pelo menos uma dose (a partir de 24 de março de 2021)

Nota 1: Os dados apresentados foram calculados utilizando os dados mais recentes disponíveis por país a partir de 24 de março de 2021.
Fonte: OWID e cálculos próprios.

Se fizermos projeções com base no ritmo atual de vacinação, a maioria dos países da região não conseguirá sequer vacinar toda a população prioritária este ano (ver Tabela 1) e não alcançará a imunidade de rebanho até 2023 ou depois.

Tabela 1. Dias necessários para imunizar totalmente 70% da população (estimativas a partir de 22 de março de 2021)

Nota 3: Para a projeção dos dias necessários, utilizou-se a média de vacinação diária dos últimos 14 dias.
Fonte: cálculos próprios com dados do OWID, Clark et al. (agosto 2020, The Lancet) y OMS.

Em parte, a lentidão observada nestes primeiros dias se deve a fatores que não são específicos da região. De fato, na Europa continental o início também tem sido lento, com 10% da população parcialmente imunizada até agora (não muito longe dos países latino-americanos com melhor desempenho). Espera-se que a produção e os assuntos ligados à regulação se ajustem ao longo do tempo. Ainda assim, o cenário apresenta muitas incertezas e os governos precisam buscar ativamente acelerar o ritmo das campanhas.

Frente à necessidade de acelerar os esforços, é importante perguntar qual é o principal fator limitante: a capacidade para distribuir e administrar vacinas ou sua disponibilidade. Certamente há um pouco das duas coisas. Alguns dados parecem revelar diferenças na capacidade de realização de entrega rápida das vacinas. Usemos o Chile como exemplo de excelente desempenho. Nesse país conseguiu-se inocular 2% da população em um único dia dentre os dias mais ativos. Esse número contrasta com o resto da região, que não registra números próximos a esse. O Uruguai registrou dias em que foram vacinados 1% dos habitantes e nos demais países, nos dias mais ativos foi possível vacinar 0,5% da população ou menos. Para melhorar esse número, existem várias margens de ajuste possíveis: número de locais de vacinação, número de vacinadores qualificados, dias e horas de trabalho, sistemas de registro e agendamentos, estratégias de informação, etc. As regras para proceder de forma ordenada e respeitar a prioridade de determinados grupos são importantes, mas não devem dificultar o ritmo geral da campanha. É importante ter em mente que cada dia conta, literalmente.

Por outro lado, a disponibilidade de vacinas também é um fator importante na velocidade com que a vacinação avança, podendo ser ainda mais significativa em um futuro próximo. Em alguns países da região, os dados diários das doses administradas têm um comportamento irregular, o que parece sugerir problemas de estoque. E vários países ainda não fecharam compras de doses suficientes para vacinar toda a sua população. Isso representa um grande risco. A maioria das nações que fizeram progressos rápidos na campanha de vacinação (Israel, Chile, EUA). Reino Unido) fechou acordos para obter uma quantidade de vacinas equivalentes a várias vezes o tamanho de sua população. Dada a incerteza sobre a viabilidade das diferentes vacinas e o excesso de demanda em relação à capacidade de produção, essas estratégias amplas e agressivas de compra permitiram que esses países reduzissem o risco e começassem com uma vantagem. Na situação atual, é essencial que os países da região permaneçam ativos como compradores e busquem acordos que diversifiquem sua carteira de fornecedores em potencial. O ideal seria utilizar mecanismos de cooperação entre os países para coordenar as compras em conjunto e evitar guerras de preços. Infelizmente, o que foi feito até o momento indica que essa não é uma possibilidade muito promissora.

Investir em instalações de produção, inclusive, pode ser lucrativo mesmo neste momento. Um estudo recente feito por um grupo de economistas e estatísticos estima que a expansão da capacidade de produção em um bilhão de unidades adicionais poderia acelerar a imunização generalizada da população mundial em quatro meses, com lucros estimados em aproximadamente US$ 800 por unidade.

Ainda há muitas incertezas sobre o curso que a pandemia seguirá nos próximos meses. Entre estas, uma certeza se destaca: o melhor investimento que um país pode fazer atualmente é vacinar sua população rapidamente. Os governos da região devem agir em consonância com isso.

Gustavo Fajardo

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Gustavo Fajardo

Economista Principal, CAF

Ph.D. en Economía en el Centro de Estudios Monetarios y Financieros - CEMFI (España). Máster en Economía por la misma universidad. Licenciado en Economía en la Universidad de Carabobo (Venezuela). Sus intereses de investigación se centran en las áreas de economía política, migración y desarrollo económico. Ver publicaciones

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