Transporte público na América Latina: é possível que haja uma mudança de paradigma?

Data do artigo: 10 de fevereiro de 2017

Autor del post - Andrés Alcalá

Coordinador del Programa LOGUS de CAF

Os tempos não estão fáceis para o setor de transporte público no sul do continente: alcançar o funcionamento adequado de um sistema que atenda às necessidades dos usuários em nossas cidades se tornou uma tarefa hercúlea.

O quadro não poderia ser mais complexo: a demanda por transporte público vem caindo, a concorrência informal está ganhando terreno, os custos operacionais estão aumentando, o atraso na infraestrutura continua a impedir o fechamento da lacuna histórica, fraudes de pagamentos, congestionamentos e uma série de problemas estruturais colocam operadores, reguladores e os próprios usuários em uma situação bastante difícil.

Não se deve esquecer que apenas algumas décadas atrás os transportes públicos e a mobilidade na região passaram por um processo de replanejamento. O longo período de negligência, no entanto, cobra agora seu preço, algo que se reflete nos dados coletados pelo Observatório de Mobilidade Urbana do CAF, os quais evidenciam, em muitos casos, a perda de passageiros do transporte público.

Transporte1

Contudo, além dos problemas relacionados à demanda, o transporte público enfrenta desafios para sua sustentabilidade que requerem aspectos de melhoria, como fortalecimento institucional, financiamento de operações, integração modal, inclusão social, acessibilidade universal, regulação, controle, inovação tecnológica, segurança rodoviária e redução de emissões, entre outros.

Tudo isso, necessariamente, com foco no usuário e na qualidade do serviço. Felizmente, a discussão sobre soluções “monomodais” começou a ficar para trás, e o foco está em como melhorar a acessibilidade do usuário de maneira eficiente, acessível, digna, segura e sustentável. Isso implica uma resposta multidimensional que seja capaz de se adaptar às particularidades de cada cidade, em um esforço conjunto com o planejamento territorial.

Do ponto de vista dos operadores, a questão também não é fácil. Com a implementação dos primeiros BRTs, a possibilidade de alcançar a autossustentabilidade financeira na operação ficou profundamente enraizada no arcabouço institucional da região. E assim esse esquema foi replicado em muitos dos sistemas posteriores, bem como em sistemas de ônibus convencionais.

A necessidade de angariar orçamentos que permitissem o desenvolvimento da infraestrutura sem recorrer a recursos públicos para a operação produziu importantes desequilíbrios na equação financeira dos diferentes atores, deteriorando a qualidade do serviço. Essa realidade e a necessidade de subsídios ao transporte público são melhor compreendidas atualmente. No entanto, do ponto de vista público, em um contexto de recursos limitados, não é fácil encontrar uma solução justa e equilibrada.

Transporte2

Além disso, a partir da necessidade imperiosa de descarbonizar o setor de transporte, a necessidade de substituir a frota existente por veículos de baixa emissão começa a ser exigida pela regulamentação ambiental e pela política pública. Tecnologicamente, isso já é viável. Economicamente, no entanto, ainda é algo difícil de implementar para uma grande parte das cidades da região, cujas condições de demanda se deterioraram. E mais, os custos de investimento e operação agravam o fraco equilíbrio financeiro.

Como resposta alternativa a essa realidade, surge um desenvolvimento tecnológico na região que poderia contribuir para a solução de muitos dos desafios colocados, se bem inseridos em um quadro de integração territorial e social. A tecnologia do sistema Aeromovel foi desenvolvida no Brasil há mais de 30 anos e consiste na propulsão de um veículo sobre trilhos através de um fluxo de ar produzido por motores elétricos, empurrando uma vela invertida em um túnel localizado na base e que forma parte da infraestrutura de suporte da via.

Transporte3

Seu desenvolvimento ocorreu a partir da necessidade do município de Canoas de contar com um novo sistema de transporte contemplando as seguintes características: vias exclusivas, baixos custos de infraestrutura, capacidade superior a 15 mil passageiros hora/sentido, sem desapropriações e cuja operação fosse coberta pelo valor atual da passagem.

A tecnologia, já implementada comercialmente no aeroporto de Porto Alegre, mostrou a Canoas o desafio de uma implementação em larga escala, participando ativamente da estruturação do sistema e fomentando uma cadeia produtiva regional para realizar um projeto de transporte coletivo.

O CAF apoiou o projeto desde a fase inicial e aprovou a alocação de recursos do programa de financiamento “Canoas para Todos” para desenvolver os projetos finais de infraestrutura, com as seguintes características:

  • Sistema 100% elétrico de baixo consumo
  • Veículo leve sem motores a bordo
  • Automatizado e seguro
  • Inserção urbana pouco invasiva
  • Flexível: supera inclinações e curvas apertadas
  • Nenhum ruído ou vibração
  • Capacidade de até 24 mil passageiros hora/sentido
  • Baixos custos operacionais
  • Construção modular de rápida implantação
  • Fácil integração com outros sistemas

Os baixos custos operacionais permitem uma tarifa técnica muito inferior à que se cobra do usuário. Portanto, é possível pagar a infraestrutura em um período de 18 a 20 anos, algo sem precedentes com essa capacidade. No caso de Canoas, foi proposta a realização de uma primeira fase de 4,7 Km com recursos do município e a construção da próxima fase completando 19 Km com a operação do sistema integrado (ônibus municipais elétricos) por um período de 30 anos. O projeto é de interesse do governo federal e potencialmente elegível para fundos de clima verde.

Os primeiros passos já foram dados. A proposta desse sistema é robusta e há interesse de outras cidades da região em implementar mais projetos baseados nessa tecnologia. É preciso aguardar a resposta do mercado e o desenvolvimento em Canoas, para tornar essa atraente alternativa uma realidade que contribua para superar os complicados desafios que o transporte público enfrenta em nossa região.

 

Andrés Alcalá

Fechar modal
Andrés Alcalá

Coordinador del Programa LOGUS de CAF

Economista colombiano, graduado de la Universidad de los Andes en Bogotá, Colombia con título de Magister en Economía de la misma universidad y de Master of Arts en Economía del Transporte de la Universidad de Leeds en Reino Unido. Más de 15 años de experiencia en el sector de planificación de transporte en donde ha trabajado tanto en el sector público como en el privado en América Latina y España. Inició su carrera profesional en el sector transporte trabajando en la Superintendencia de Puertos y Transporte de Colombia, posteriormente se desempeñó como jefe de proyectos de la consultora Española Estudios Proyectos y Planificación S.A. (EPYPSA) en Madrid España, empresa en la que en su última etapa se desempeñó como Director general de la oficina de Epypsa Colombia en Bogotá, liderando destacados proyectos de actuaciones urbanas integrales y de planificación territorial y de transporte en Colombia. En la actualidad se desempeña como ejecutivo principal, especialista en Movilidad y Transporte Urbano para la región sur en la Vicepresidencia de Infraestructura de CAF -Banco de Desarrollo de América Latina-, apoyando proyectos como el desarrollo e implementación de proyectos de transporte masivo en Brasil (Niteroi, Fortaleza), y Bolivia (La Paz, Tarija). Igualmente ha tenido participación activa en el desarrollo de estudios enfocados a la movilidad sostenible, la seguridad vial, integración del transporte, actuaciones urbanas integrales y fortalecimiento institucional de la movilidad, en los diversos países de la región sur: Bolivia, Chile, Brasil, Paraguay, Argentina y Uruguay.

Categorias
Transporte Gerenciamento do tráfego Mobilidade urbana

Notícias em destaque

Imagen de la noticia

Água, Meio ambiente, Cidades

19 novembro 2024

Imagen de la noticia

Água, Meio ambiente, Treinamento

19 novembro 2024

Imagen de la noticia

Água, Meio ambiente, Treinamento

19 novembro 2024

Imagen de la noticia

Água, Meio ambiente, Treinamento

07 novembro 2024

Mais notícias em destaque

Assine nossa newsletter