Como medir a pegada das cidades
Este blog foi escrito por Edgar Salas Rada / Sandra Mendoza Amatller.
O Projeto Pegada das Cidades visa a fortalecer as iniciativas municipais relacionadas à mitigação e à adaptação às mudanças climáticas, por meio da avaliação das pegadas de carbono e hídrica dos governos municipais como organizações e das cidades como espaços geográficos.
O Projeto surgiu em 2012, em resposta à demanda dos prefeitos de La Paz, Quito e Lima, e também como um compromisso de promover um desenvolvimento urbano compatível com o clima. As três cidades foram selecionadas para participar do projeto devido à sua alta vulnerabilidade às mudanças climáticas em termos de disponibilidade de água, principalmente devido ao recuo das geleiras andinas e à mudança nos regimes de precipitação. Ao mesmo tempo, o projeto, baseado em evidências empíricas, mostrou que os espaços urbanos apresentam inúmeras oportunidades para promover o desenvolvimento com baixas emissões de carbono.
Esta iniciativa do CAF, em coordenação com os respectivos Governos Municipais, teve como parceiro estratégico a Fundação Latino-Americana do Futuro (FLA) e foi cofinanciada pela Aliança para o Clima e Desenvolvimento (CDKN), AFD e Avina.
As pegadas anuais de carbono e água das cidades foram avaliadas com metodologias reconhecidas internacionalmente. Assim, para as Emissões de Gases de Efeito Estufa, foi seguido o Protocolo Mundial na Escala de Comunidades e, para a Avaliação da Pegada Hídrica, o Manual da Rede de Pegadas Hídricas, criadores do conceito de pegada hídrica.
As pegadas de carbono e hídrica das cidades foram projetadas em horizontes futuros, com dados oficiais de crescimento populacional, crescimento do PIB e outras variáveis, assim os resultados foram cenários BAU (Business As Usual) e de crescimento baixo em carbono e redução da pegada hídrica, incluindo as ações e os investimentos identificados nos planos de ação.
Com base nas avaliações da pegada de carbono e hídrica, planos de ação para reduzir essas pegadas foram elaborados para cada cidade, incluindo carteiras de investimento priorizadas. Esses planos também incluem: i) uma carteira de projetos dividida em setores; ii) projeções de pegadas nos horizontes de planejamento de curto, médio e longo prazos, definidos pelos planos de desenvolvimento municipal; iii) análise de custo-benefício e custo-efetividade de cada projeto para reduzir a pegada na carteira; e iv) identificação de fontes financeiras e fornecedores de tecnologia para fornecer uma base para a concepção e a implementação do projeto. As projeções baseadas em cenários BAU e de redução da pegada permitiram o estabelecimento de metas que foram incorporadas às metas de mitigação e adaptação que as cidades estão considerando para o futuro.
Um dos fatores de sucesso do Projeto é a atitude pró-ativa que as prefeituras das cidades envolvidas compartilham para um desenvolvimento compatível com o clima e resiliente às mudanças climáticas. Todos os municípios participantes atualmente possuem políticas, planos, programas e projetos relacionados às mudanças climáticas voltados para a mitigação e a adaptação, que foram fortalecidos pelas ações do Projeto.
Outro fator importante é a criação de mecanismos de troca de experiências no âmbito do Projeto, que, por meio de eventos e workshops presenciais e do uso de redes sociais, plataformas, entre outros, tem permitido uma comunicação fluida entre os diversos atores e com organizações que compartilham o mesmo interesse comum.
O Projeto é um exemplo concreto de que as iniciativas locais para enfrentar as mudanças climáticas são um elemento central para o cumprimento dos compromissos internacionais. O processo de diálogo permanente com autoridades, setor privado e sociedade civil, sistematizado pelo Projeto de cálculo de pegadas e formulação de ações de redução nas cidades é uma contribuição com uma perspectiva local para o cumprimento dos compromissos do Acordo de Paris e constitui um modelo com grande potencial de replicação regional e global.
Em seis anos de implementação, o Projeto Pegada das Cidades, em quatro fases, apoiou a formulação de políticas, planos de ação e projetos de mitigação e adaptação em 14 cidades, de cinco países latino-americanos e contribuiu para fortalecer os processos de tomada de decisão em planejamento e gestão urbana, incluindo a variável de mudanças climáticas.
O Projeto foi reconhecido pela Cities Alliance, no Fórum Político de Alto Nível sobre Desenvolvimento Sustentável da ONU, em 2018, como uma das cinco melhores iniciativas de sustentabilidade do mundo, por sua contribuição para a integração e o monitoramento. das agendas globais de sustentabilidade (Agenda 2030, Acordo de Paris, Nova Agenda Urbana) a partir das cidades.
A Série Pegada das Cidades, publicada no Espaço de Conhecimento Aberto do CAF, resume a metodologia utilizada, os resultados alcançados e os planos de ação identificados para 11 cidades, em 5 países, que constituem as três primeiras fases do Projeto.