A nova fronteira do desenvolvimento
As mudanças climáticas estão alterando os sistemas naturais e econômicos. De fato, a necessidade de conter o aumento do aquecimento global reduzindo a emissão de gases requer a incorporação da proteção da natureza no sistema de preços, o que afetará a alocação e o uso dos recursos. A proteção do planeta é, naturalmente, uma questão prioritária, mas representa um novo desafio econômico para os países em desenvolvimento.
A América Latina, que já enfrenta imensos desafios para se desenvolver, também terá de enfrentar a agenda climática. Mas a combinação de emissões relativamente baixas com a disponibilidade de florestas imensas, biomas ricos e recursos hídricos e naturais únicos proporciona à região oportunidades comerciais sem precedentes.
Para transformar esses desafios em oportunidades, será necessário mesclar os caminhos da proteção ambiental com os de desenvolvimento. Nesse sentido, há pelo menos dois caminhos para se explorar. Por um lado, temos as demandas da região para enfrentar as mudanças climáticas. Por outro lado, temos as contribuições da região para apoiar a descarbonização e a sustentabilidade em nível global.
Com base na demanda, a região precisa mitigar e se adaptar aos efeitos das mudanças climáticas. O estudo do IFC identifica e mede novas oportunidades de negócios nas quatro maiores economias da região nas áreas de energia renovável, eficiência energética industrial, transporte e edifícios verdes e resíduos. Embora limitado em escopo, o estudo e estimativas indicam empresas na ordem de US$ 2,64 trilhões entre 2016 e 2030, ou algo como US$ 176 bilhões por ano. Para referência, esse valor está bem acima do valor médio anual dos investimentos estrangeiros diretos na América Latina entre 2016 e 2020, que foi de US$ 138 bilhões.
As estimativas de negócios por país levariam a um aumento correspondente de 27% no valor da formação bruta de capital fixo na Argentina; 32% no Brasil; 20% na Colômbia; e 21% no México. Mas, ainda mais importante, devido à sua natureza produtiva e tecnológica, essas empresas podem mobilizar muitas e variadas cadeias de valor, formar mão-de-obra, criar muitos empregos, movimentar mercados de serviços, capital e finanças, e ajudar a gerar círculos virtuosos de desenvolvimento.
Com a oferta, a região estaria bem posicionada para oferecer soluções convergindo com os interesses e necessidades de terceiros em áreas como segurança alimentar, descarbonização, sustentabilidade e bem-estar. Esses incluem bioenergia, alimentos orgânicos, alimentos produzidos de forma sustentável, projetos de conservação verde e azul, exploração sustentável da biodiversidade, bioeconomia e turismo sustentável, para citar algumas atividades.
Essa agenda também será capaz de mobilizar muitas e variadas cadeias de valor, capacitar e gerar muitos empregos; além disso, também exigirá a mesma quantidade de negócios e investimentos em setores subsidiários. Mas, mais importante do que isso, essa agenda tem um alto potencial de alavancar e promover a pesquisa, a inovação e o desenvolvimento de novos mercados, o que pode ter implicações no desenvolvimento sustentável.
Ainda que os negócios associados à oferta e demanda sejam economicamente relevantes, é no mercado de crédito de carbono que as possibilidades mais importantes e imediatas de geração de renda são encontradas, pois vários países da região poderão participar e se beneficiar desse mercado devido a condições naturais favoráveis.
Na verdade, 4/5 das emissões globais ainda contornam os mercados de carbono e, da parte já incorporada, o preço médio por tonelada é de apenas US$ 3. Embora ainda quente, esse mercado deve ganhar impulso este ano, mesmo com o apoio de economias maiores, e espera-se que se expanda substancial e rapidamente nos próximos anos. O FMI propõe a criação de um teto internacional para o preço do carbono de US$ 75 por tonelada a ser alcançado em 2030. Essa perspectiva é certamente muito encorajadora para a região.
A nova fronteira do desenvolvimento é ampla e tem um potencial empreendedor muito maior do que o estimado pelo IFC, que pode ser fundamental para o desenvolvimento econômico e o combate à pobreza e para a inclusão da região como porta de entrada para a economia do século XXI. Ao contrário de outras estratégias de desenvolvimento, a estratégia verde atrai financiamento internacional em condições vantajosas e oferece perspectivas de negócios e emprego para o campo e cidades, para minas e fábricas, para escritórios e para as ruas, para os grandes, mas também para as pequenas e médias empresas.
Realizar todo esse potencial exigirá esforços enormes e oportunos para alinhar interesses, o estabelecimento de coalizões e parcerias, liderança e proatividade em torno de políticas positivas e normas verdes, tanto nacional quanto internacionalmente. O período pós-pandemia será o momento ideal para reajustar as estratégias e programas de desenvolvimento da região. Não podemos desperdiçar.