Geografia das cadeias de valor na Argentina e no Uruguai
18 de novembro de 2022
Com a redução de tarifas e de outros custos comerciais, as cadeias produtivas se globalizaram, fazendo com que diversas partes do processo produtivo sejam realizadas em diferentes países do mundo. O comércio de insumos ganhou relevância, o que abriu a oportunidade para que empresas de diversos países se concentrassem na produção dos bens para os quais são mais competitivas, aproveitando a ampliação do acesso a mercados que o comércio internacional proporciona. Este processo motivou o estudo mais aprofundado dessas cadeias produtivas, com o objetivo de identificar sua contribuição para o desenvolvimento.
Compreender os diferentes aspectos dessas cadeias produtivas, desde a intensidade da sua inserção no comércio internacional até a sua abrangência geográfica, permite que pesquisadores e gestores públicos conheçam melhor os possíveis efeitos (positivos ou negativos) de diferentes medidas que afetam seu desenvolvimento, desde a assinatura de acordos comerciais até o investimento em infraestrutura de transporte ou a implementação de medidas de facilitação do comércio.
Em “Importações para exportar e cadeias globais de valor na Argentina e no Uruguai”[1] estudamos a inserção internacional das empresas exportadoras da Argentina e do Uruguai, utilizando dados dos registros aduaneiros das empresas que utilizaram regimes de importação temporária, o que permite conhecer a origem das importações e o destino das exportações. A partir desses dados, classificamos as cadeias produtivas em quatro grupos. As cadeias de valor regionais (CVR) são processos produtivos que importam insumos da região para exportar para a região.
As cadeias mistas de entrada (CME) são processos que importam insumos de países de fora da região e exportam sua produção para países da região. As cadeias mistas de saída (CMS) são processos que importam insumos de países da região para exportar sua produção para países de fora da região. Por fim, as cadeias de valor extrarregionais (CVE) são processos produtivos que importam insumos de países extrarregionais e exportam a produção também para países de fora da região.
O painel A do gráfico mostra a participação das cadeias produtivas que utilizaram o regime na Argentina e no Uruguai no período de 2017 a 2019. Como se pode observar, em ambos os países as exportações regionais (CVR e CME) são mais importantes do que as extrarregionais, tendo uma participação conjunta próxima a 70%. Mas também se destaca, nas exportações regionais, a maior proporção das CMEs, o que permite constatar a importância das cadeias produtivas extrarregionais mesmo para promover as exportações para a própria região.
Já o painel B do gráfico mostra a incidência das importações temporárias no valor exportado. As importações temporárias têm maior incidência nas CVRs ou nas CMEs (acima de 40% no caso da Argentina e um pouco menos no Uruguai), resultado que sustenta a hipótese de que parte importante do valor exportado é agregada em localidades próximas ao local de consumo final, ou seja, da própria região.
A análise da decomposição setorial mostra que na Argentina os setores de material de transporte terrestre e metais básicos e suas manufaturas são os que têm maior participação nas exportações que utilizam o regime de importação temporária (tanto via CVR quanto CME). Dentro das manufaturas de origem agrícola (MOA) é o setor de peles e couros que apresenta as maiores cadeias, embora neste caso mais representadas pela CVE.
Para o Uruguai, além dos materiais de transporte terrestre, os setores químicos e correlatos e os de plásticos e suas manufaturas são os que apresentam maior utilização de insumos importados regionais e extrarregionais em suas exportações regionais. No que se refere às MOAs, os setores de peles e couros e de produtos lácteos são os que apresentam maiores cadeias, também com participação significativa das CVEs.
Com base na análise, pode-se concluir que o acesso a insumos importados é vital no processo de integração das empresas argentinas e uruguaias nas cadeias de valor regionais e globais. Especialmente para certos setores da manufatura de origem industrial, como o setor de máquinas de transporte terrestre, o valor das importações representa uma parcela significativa do valor das exportações, apontando para a importância desses insumos na produção de produtos exportáveis nesses setores.
A análise geográfica indica que o acesso aos produtos importados é fundamental para aproveitar as oportunidades oferecidas pelo mercado regional, hoje livre de tarifas, já que uma parte considerável das exportações para esses destinos utilizou insumos importados, e que estes provêm de origens extrarregionais em uma proporção também considerável, o que sugere a relevância de mecanismos como as importações temporárias que sustentam a estratégia do regionalismo aberto.
[1] Ver Allub, Garibotti, Lalanne y Sanguinetti (2022), “Importaciones para exportar y cadenas globales de valor en Argentina y Uruguay”.
Lian Allub
Economista Principal, Dirección de Investigaciones Socioeconómicas, CAF -banco de desarrollo de América Latina-
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