Sustentabilidade das cadeias produtivas na América Latina
February 10, 2023
Um dos recursos que as empresas de menor porte usam para alavancar seu crescimento e desenvolvimento é fortalecer vínculos com empresas de maior porte, o que lhes permite acessar novos mercados e adotar melhores práticas produtivas.
Essas modalidades de integração colaborativa entre as empresas promovem a consolidação de cadeias produtivas, nas quais as empresas de maior porte desenvolvem estratégias que vão além do comercial. Assim, seus fornecedores de insumos e serviços aumentam as capacidades e atendem adequadamente tanto as suas próprias necessidades quanto as do mercado final.
Dessa forma, as grandes empresas que decidem promover iniciativas para fortalecer suas redes de suprimentos assumem uma liderança que, conduzida de forma otimizada, gera vantagens em toda a cadeia. Na literatura, essas empresas líderes são conhecidas como âncoras, referências, entre outras denominações. Na América Latina, elas tornaram-se motores de acesso ao mercado internacional mantendo altos padrões de qualidade e, assim, alavancando a competitividade dos sistemas produtivos dos nossos países. Além disso, a incorporação de componentes orientados para a sustentabilidade na gestão da cadeia tem impulsionado a eficiência, bem como a atenção às questões sociais e ambientais que vêm ganhando cada vez mais relevância e preferência nos mercados.
Com o intuito de descobrir as boas práticas e as necessidades das cadeias produtivas da região para promover modelos sustentáveis, o CAF realizou um estudo em 2022 no qual foram analisadas as estratégias de 20 empresas âncoras de cinco países: Colômbia, Equador, México, Panamá e Peru. Adotando uma metodologia que combinou consultas com os responsáveis pela gestão de fornecedores em cada uma das empresas e a revisão de fontes secundárias, foram identificadas práticas que impactaram positivamente as MPMEs vinculadas a essas empresas de maior porte.
A composição da amostra analisada, embora não represente o comportamento geral desse tipo de empresa na região, reflete uma importante diversidade em termos das atividades-fim de nossas empresas âncoras exportadoras, uma vez que foram incluídas no ramo do agronegócio empresas de carnes, laticínios, pesca, aquicultura, frutas e hortaliças. Também houve a participação de outros ramos, como metalurgia, varejo, silvicultura, têxtil e produção de eletrodomésticos.
As redes de fornecedores ligadas às empresas participantes do estudo também apresentam diversidade em termos de extensão. A menor empresa âncora tinha 7 fornecedores locais e a maior porte avaliada gerencia uma rede de mais de 10.000 fornecedores em diferentes países. A escala nas vendas de empresas âncoras varia de 3 a 9 bilhões de dólares. Além disso, as empresas que registram a participação das mulheres em suas redes de fornecedores contam com uma liderança feminina de pelo menos 45% das MPMEs com as quais possuem vínculo.
Sobre a incorporação de iniciativas com foco sustentável no trabalho desenvolvido em conjunto com os fornecedores, como pode ser visto no gráfico a seguir, destaca-se a presença de programas especializados em questões de produtividade e, especificamente, na transferência de boas práticas de produção para os diferentes itens envolvidos nas cadeias.
Outro tema recorrente esteve relacionado ao fortalecimento dos fornecedores em termos relacionados à qualidade, segurança alimentar e riscos ocupacionais, visando o cumprimento de regulamentações nacionais e internacionais.
Esse aspecto regulatório também se reflete na alta participação de empresas âncoras no fortalecimento dos fornecedores com relação à governança administrativa, dadas as exigências de transparência em faturamento, entre outras diretrizes que fazem parte dos sistemas jurídicos de cada país.
Os principais desafios para promover a gestão sustentável das cadeias de valor foram evidenciados em aspectos como o enfoque dos programas em gênero e a incorporação de elementos de eficiência energética ou redução do consumo de combustíveis sólidos. De fato, as questões relacionadas à gestão ambiental são as que, em média, apresentaram menor desenvolvimento por parte dos programas de apoio ao fornecedor. Esta é uma grande oportunidade de favorecer a sustentabilidade das cadeias produtivas da região, com abordagens que também impactem na produtividade, uma vez que elas contêm implicitamente o uso eficiente dos recursos e, portanto, a economia de custos para MPMEs relacionadas.
Desta forma, o desafio da região é promover relações empresariais que permitam uma maior orientação, principalmente, para os seguintes Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS): 5 (igualdade de gênero), 7 (energia acessível e limpa) e 12 (produção e consumo responsáveis). Essa orientação permitiria um maior equilíbrio nas agendas de desenvolvimento produtivo sustentável de nossas matrizes produtivas.
Rebeca Vidal
Ejecutiva Principal de la Dirección de Análisis Técnico y Sectorial de CAF -banco de desarrollo de América Latina y el Caribe-
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