Durante décadas, a América Latina e o Caribe não conseguiram convergir para os níveis de renda per capita dos países desenvolvidos. Em particular, em média, o rendimento per capita na região não excedeu 30% do equivalente nos Estados Unidos.
Esta falta de convergência deve-se ao fato de o crescimento na região ter sido lento e, consequentemente, insuficiente para colmatar o fosso em relação às economias avançadas.
Nas palavras do vencedor do Prêmio Nobel Paul Krugman, a produtividade não é tudo, mas, no longo prazo, é quase tudo. Por trás dos baixos níveis de crescimento, a região enfrenta um problema de baixa produtividade. A produtividade nada mais é do que a forma como combinamos os factores de produção – capital físico e natural e trabalho – para produzir bens e serviços.
Os países que alcançaram um crescimento sólido e sustentado ao longo do tempo fizeram-no precisamente através de ganhos de produtividade. O exemplo amplamente conhecido e citado na literatura é o das economias do Sudeste Asiático.
Este não é o caso da América Latina. O crescimento na região tem sido impulsionado pela acumulação de fatores de produção, principalmente investimento e trabalho, e não por ganhos de produtividade.
Mas o que nos torna menos produtivos? Bem, a evidência indica que as disparidades de produtividade estão presentes em todos os setores econômicos. Em outras palavras, depende menos do que produzimos e mais de como o produzimos.
E quando colocamos a lupa nos setores, subsetores e até nas empresas, o que descobrimos é que a empresa média da região é menos produtiva do que a empresa média do mesmo setor nas economias avançadas.
Os setores econômicos onde há maior presença de empresas e trabalhadores informais apresentam geralmente as maiores lacunas de produtividade. Isso ocorre, porque as empresas informais têm escalas abaixo do ideal, têm menos acesso ao crédito e inovam pouco.
Mas o problema não se limita apenas ao fato de muitos trabalhadores estarem empregados em empresas informais. As empresas formais da América Latina e do Caribe também são menos produtivas do que suas contrapartes nos mesmos setores nas economias avançadas.
E o que torna as empresas menos produtivas na região? Nossas empresas formais contratam menos pessoas na região. Em outras palavras, não estão crescendo. Como resultado, há menos funcionários assalariados e mais trabalhadores autônomos na região. Entre esses últimos, muitas vezes não é uma escolha: eles preferiria estar empregados.
As decisões de ser empreendedor, autônomo, empregado, formal ou informal resultam da combinação das capacidades dos indivíduos e do ambiente que enfrentam para trabalhar ou iniciar um empreendimento.
As habilidades dependem, em grande parte, da educação. A julgar pelos resultados ruins de alguns testes que medem as habilidades linguísticas e matemáticas dos jovens da região, por exemplo, há muito trabalho a ser feito para fechar as lacunas na educação e sua relevância. Essas deficiências também se estendem às habilidades socioemocionais que, junto com as habilidades cognitivas, são essenciais para empregos mais produtivos e mais bem remunerados.
As capacidades podem ser fortalecidas por meio de políticas públicas que melhorem as oportunidades e os incentivos para a formação ao longo da vida, do ambiente familiar e da primeira infância, da educação básica, técnica e avançada, da formação em serviço, entre outros.
Além das capacidades individuais, o ambiente econômico condiciona as decisões de empresários e trabalhadores. Se eu investir, conseguirei rendimento a ponto de torna meu investimento lucrativo? O ambiente macroeconômico é estável o suficiente para tornar meus retornos mais previsíveis? Tenho segurança jurídica sobre a propriabilidade desses retornos? É fácil abrir uma empresa ou existem barreiras que dificultam a concorrência de empresas novas e mais inovadoras? É fácil contratar trabalhadores ou é tão caro que prefiro contratar informalmente? Encontro os profissionais com as habilidades de que preciso e há infraestrutura e serviços disponíveis para acessar os insumos de que preciso para produzir e comercializar? Há infraestrutura e serviços necessários para acessar os insumos de que preciso para produzir e vender?
Em nossa região, geralmente não há respostas positivas para essas perguntas. Seu histórico é institucional e suas soluções são técnica e politicamente complexas. Trata-se de arranjos que demarcam as relações entre as pessoas, condicionando as decisões de trabalhadores e empresários.
Mas sem trabalhar no básico para fortalecer as capacidades individuais e as instituições que moldam o ambiente produtivo e que, no fim das contas, determinam a produtividade, é difícil fazer com que as grandes tendências globais do momento (nearshoring, inteligência artificial, exploração de lítio, autoeletrificação) levem a um salto transformacional para a região em termos de crescimento e desenvolvimento.
Para realmente aproveitar essas oportunidades e dar esse salto produtivo, é fundamental avançar em uma agenda de políticas públicas transversais e setoriais para fechar as lacunas estruturais que limitam o investimento e, claro, a produtividade.
Adriana Arreaza
Directora de Estudios Macroeconómicos de CAF
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