CAF, CEPAL, BID e OPAS promovem equidade e desenvolvimento sustentável
19 de novembro de 2024
Luis Miguel González, diretor editorial do jornal El Economista, do México, listou algumas ideias para redefinir a agenda do jornalismo econômico na região
31 de outubro de 2017
Romper a Inércia é o seminário que reúne cerca de vinte jornalistas e editores econômicos em Cartagena das Índias, na Colômbia, para refletir sobre o papel do jornalismo econômico e de negócios diante das turbulências que afetam a América Latina.
Durante o primeiro dia do seminário, organizado pelo CAF - Banco de Desenvolvimento da América Latina - e pela FNPI - Fundação Gabriel García Márquez para o Novo Jornalismo Ibero-americano, os participantes fizeram uma autocrítica coletiva sobre as dificuldades e os assuntos que devem ser abordados pelo jornalismo econômico, a fim de alcançar uma melhor cobertura regional.
Luis Miguel González, diretor editorial do jornal El Economista, do México, listou alguns desses desafios e, além disso, deu algumas orientações para a redefinição da agenda jornalística.
1. Cobrir mais a criação e a distribuição da riqueza
O jornalismo latino-americano ainda precisa encontrar uma forma de realizar uma cobertura do setor privado que reflita tudo o que ele faz, especialmente após o escândalo da Odebrecht.
No entanto, cobrir o setor privado não significa se preocupar apenas com a corrupção. Também é necessário abordar histórias sobre a criação e a distribuição da riqueza, bem como a inovação, a concorrência e a competitividade. Além disso, os jornalistas precisam aprender a considerar os inovadores além da alta tecnologia, porque em outros processos de produção também há inovação.
2. Informar pensando no futuro
A grande história que o jornalismo econômico latino-americano ainda tem que contar diz respeito às perspectivas de desenvolvimento da região, e não apenas a olhar para o passado ou contar o presente.
3. Trabalhar em rede
O escândalo de corrupção da Odebrecht deveria deixar uma grande lição para a imprensa latino-americana, pois a mesma continua tendo dificuldade para trabalhar em rede e, dessa forma, relatar melhor os fenômenos transnacionais. Além disso, González sublinhou que os jornalistas costumam falar de seus países como se fossem ilhas econômicas, esquecendo que seu desenvolvimento depende do que acontece com os seus vizinhos e na região.
4. Fazer um jornalismo mais explicativo
Falta um jornalismo que aborde fenômenos complexos com uma linguagem mais simples, como, por exemplo, o funcionamento das criptomoedas por meio de histórias educacionais.
5. Desenvolver uma agenda própria
"Não é a mesma coisa você procurar a história e alguém a procurar para você contá-la. Todos nós temos restrições orçamentárias, poucos recursos e pouco tempo. Mas também é verdade que não usamos bem os poucos recursos que temos, e deveríamos aproveitá-los melhor com histórias de agenda própria\", sugeriu González.
6. Apostar mais na análise
É preciso mais relatórios com análises. Não basta listar os dados. Finalmente, um bom jornalismo econômico faz parte do antídoto diante do aumento do populismo na região.
7. Abordar mais a microeconomia
Um dos grandes desafios dos editores econômicos é contar mais sobre a microeconomia, mas sem negligenciar a macroeconomia. Fazer um acompanhamento das contas públicas e das empresas faz parte do trabalho, mas isso é só a metade do trabalho. A outra metade está na microeconomia: nas histórias dos trabalhadores, dos consumidores, dos donos de terra, etc.
8. Apostar em uma narrativa melhor
Ter conhecimentos técnicos e escrever histórias com números não impede que possam ser bem contadas. A narrativa costuma ser muito pobre no jornalismo econômico, e muito mais ainda se comparada com o jornalismo anglo-saxão.
Na América Latina, não existe uma tradição de grandes biografias de empresários ou de empresas. A imprensa dos EUA, por exemplo, tem bons exercícios jornalísticos que contam sua história econômica recente por meio de três sagas familiares: os Ford, os Rockefeller e os Kennedy.
9. Narrar melhor as mudanças demográficas da região
Durante os últimos 20 anos, as mulheres passaram da participação marginal no mercado de trabalho a funções importantes. Essa ascensão no mundo dos negócios é um processo que está apenas começando; portanto, merece maior atenção jornalística, particularmente, para contar como os cenários trabalhistas foram redefinidos e até que ponto os espaços de poder foram reconfigurados.
Por outro lado, o envelhecimento da população latino-americana é outra das mudanças demográficas na região que representa um desafio jornalístico: contar como funcionam os modelos de aposentadorias e pensões e se são, ou não, sustentáveis no longo prazo são alguns dos assuntos que precisam ser explorados.
10. Contar sobre a propriedade e a gestão da terra
Uma fonte enorme de notícias econômicas é a gestão territorial, uma vez que, na América Latina, tem havido um aumento da riqueza devido à especulação imobiliária; embora, nas economias latino-americanas, a terra tenha se tornado a principal fonte de crescimento, esse processo tem sido extremamente obscuro. \"Não sabemos como funcionam as autorizações, quem são os novos donos das terras\", salientou González.
11. Fiscalizar mais o setor privado
Os novos meios digitais da região têm demonstrado que existe uma nova agenda econômica que exige outro tipo de cobertura jornalística, como um maior acompanhamento do setor privado.
O desafio jornalístico é fazer com que as empresas façam a sua prestação de contas, que respondam à sociedade pelo impacto do seu exercício produtivo. Por exemplo, se estão poluindo ou não. E também que respondam a tudo o que a sociedade quer saber, não só ao que estiverem dispostas a contar.
12. Cobrir novas áreas da economia
A economia de plataforma, a economia colaborativa e a economia laranja são apenas alguns dos setores que precisam de mais investigação jornalística.
Os cidadãos precisam ter acesso a mais histórias para poder entender melhor serviços como o Uber ou o Airbnb, bem como a tensão entre os meios tradicionais e essas novas plataformas (taxistas vs. motoristas de Uber, indústria hoteleira vs. Airbnb).
13. Cobrir a economia após desastres
Os danos, a recuperação e a capacidade financeira dos países para fazer frente aos fenômenos naturais são uma área jornalística que exige um acompanhamento constante. Não porque os fenômenos não tenham feito parte da história anteriormente, mas porque seu impacto vai crescer cada vez mais. Basta olhar o que está acontecendo no México, após o terremoto de 19 de setembro de 2017, e, no Caribe, após a passagem dos furacões Maria e Harvey.
<p>Romper a Inércia é o seminário que reúne cerca de vinte jornalistas e editores econômicos em Cartagena das Índias, na Colômbia, para refletir sobre o papel do jornalismo econômico e de negócios diante das turbulências que afetam a América Latina.</p>\r\n<p>Durante o primeiro dia do seminário, organizado pelo CAF - Banco de Desenvolvimento da América Latina - e pela FNPI - Fundação Gabriel García Márquez para o Novo Jornalismo Ibero-americano, os participantes fizeram uma autocrítica coletiva sobre as dificuldades e os assuntos que devem ser abordados pelo jornalismo econômico, a fim de alcançar uma melhor cobertura regional.</p>\r\n<p>Luis Miguel González, diretor editorial do jornal <a href=\"https://www.eleconomista.com.mx\">El Economista, </a>do México, listou alguns desses desafios e, além disso, deu algumas orientações para a redefinição da agenda jornalística.</p>\r\n<p><strong>1. Cobrir mais a criação e a distribuição da riqueza</strong></p>\r\n<p>O jornalismo latino-americano ainda precisa encontrar uma forma de realizar uma cobertura do setor privado que reflita tudo o que ele faz, especialmente após o escândalo da Odebrecht.</p>\r\n<p>No entanto, cobrir o setor privado não significa se preocupar apenas com a corrupção. Também é necessário abordar histórias sobre a criação e a distribuição da riqueza, bem como a inovação, a concorrência e a competitividade. Além disso, os jornalistas precisam aprender a considerar os inovadores além da alta tecnologia, porque em outros processos de produção também há inovação.</p>\r\n<p><strong>2. Informar pensando no futuro</strong></p>\r\n<p>A grande história que o jornalismo econômico latino-americano ainda tem que contar diz respeito às perspectivas de desenvolvimento da região, e não apenas a olhar para o passado ou contar o presente.</p>\r\n<p><strong>3. Trabalhar em rede</strong></p>\r\n<p>O escândalo de corrupção da Odebrecht deveria deixar uma grande lição para a imprensa latino-americana, pois a mesma continua tendo dificuldade para trabalhar em rede e, dessa forma, relatar melhor os fenômenos transnacionais. Além disso, González sublinhou que os jornalistas costumam falar de seus países como se fossem ilhas econômicas, esquecendo que seu desenvolvimento depende do que acontece com os seus vizinhos e na região.</p>\r\n<p><strong>4. Fazer um jornalismo mais explicativo</strong></p>\r\n<p>Falta um jornalismo que aborde fenômenos complexos com uma linguagem mais simples, como, por exemplo, o funcionamento das criptomoedas por meio de histórias educacionais.</p>\r\n<p><strong>5. Desenvolver uma agenda própria</strong></p>\r\n<p>\"Não é a mesma coisa você procurar a história e alguém a procurar para você contá-la. Todos nós temos restrições orçamentárias, poucos recursos e pouco tempo. Mas também é verdade que não usamos bem os poucos recursos que temos, e deveríamos aproveitá-los melhor com histórias de agenda própria\", sugeriu González.</p>\r\n<p><strong>6. Apostar mais na análise</strong></p>\r\n<p>É preciso mais relatórios com análises. Não basta listar os dados. Finalmente, um bom jornalismo econômico faz parte do antídoto diante do aumento do populismo na região.</p>\r\n<p><strong>7. Abordar mais a microeconomia</strong></p>\r\n<p>Um dos grandes desafios dos editores econômicos é contar mais sobre a microeconomia, mas sem negligenciar a macroeconomia. Fazer um acompanhamento das contas públicas e das empresas faz parte do trabalho, mas isso é só a metade do trabalho. A outra metade está na microeconomia: nas histórias dos trabalhadores, dos consumidores, dos donos de terra, etc.</p>\r\n<p><strong>8. Apostar em uma narrativa melhor</strong></p>\r\n<p>Ter conhecimentos técnicos e escrever histórias com números não impede que possam ser bem contadas. A narrativa costuma ser muito pobre no jornalismo econômico, e muito mais ainda se comparada com o jornalismo anglo-saxão.</p>\r\n<p>Na América Latina, não existe uma tradição de grandes biografias de empresários ou de empresas. A imprensa dos EUA, por exemplo, tem bons exercícios jornalísticos que contam sua história econômica recente por meio de três sagas familiares: os Ford, os Rockefeller e os Kennedy.</p>\r\n<p><strong>9. Narrar melhor as mudanças demográficas da região</strong></p>\r\n<p>Durante os últimos 20 anos, as mulheres passaram da participação marginal no mercado de trabalho a funções importantes. Essa ascensão no mundo dos negócios é um processo que está apenas começando; portanto, merece maior atenção jornalística, particularmente, para contar como os cenários trabalhistas foram redefinidos e até que ponto os espaços de poder foram reconfigurados.</p>\r\n<p>Por outro lado, o envelhecimento da população latino-americana é outra das mudanças demográficas na região que representa um desafio jornalístico: contar como funcionam os modelos de aposentadorias e pensões e se são, ou não, sustentáveis no longo prazo são alguns dos assuntos que precisam ser explorados.</p>\r\n<p><strong>10. Contar sobre a propriedade e a gestão da terra</strong></p>\r\n<p>Uma fonte enorme de notícias econômicas é a gestão territorial, uma vez que, na América Latina, tem havido um aumento da riqueza devido à especulação imobiliária; embora, nas economias latino-americanas, a terra tenha se tornado a principal fonte de crescimento, esse processo tem sido extremamente obscuro. \"Não sabemos como funcionam as autorizações, quem são os novos donos das terras\", salientou González.</p>\r\n<p><strong>11. Fiscalizar mais o setor privado</strong></p>\r\n<p>Os novos meios digitais da região têm demonstrado que existe uma nova agenda econômica que exige outro tipo de cobertura jornalística, como um maior acompanhamento do setor privado.</p>\r\n<p>O desafio jornalístico é fazer com que as empresas façam a sua prestação de contas, que respondam à sociedade pelo impacto do seu exercício produtivo. Por exemplo, se estão poluindo ou não. E também que respondam a tudo o que a sociedade quer saber, não só ao que estiverem dispostas a contar.</p>\r\n<p><strong>12. Cobrir novas áreas da economia</strong></p>\r\n<p>A economia de plataforma, a economia colaborativa e a economia laranja são apenas alguns dos setores que precisam de mais investigação jornalística.</p>\r\n<p>Os cidadãos precisam ter acesso a mais histórias para poder entender melhor serviços como o Uber ou o Airbnb, bem como a tensão entre os meios tradicionais e essas novas plataformas (taxistas vs. motoristas de Uber, indústria hoteleira vs. Airbnb).</p>\r\n<p><strong>13. Cobrir a economia após desastres</strong></p>\r\n<p>Os danos, a recuperação e a capacidade financeira dos países para fazer frente aos fenômenos naturais são uma área jornalística que exige um acompanhamento constante. Não porque os fenômenos não tenham feito parte da história anteriormente, mas porque seu impacto vai crescer cada vez mais. Basta olhar o que está acontecendo no México, após o terremoto de 19 de setembro de 2017, e, no Caribe, após a passagem dos furacões Maria e Harvey.</p>
19 de novembro de 2024
19 de novembro de 2024
19 de novembro de 2024