Mulheres Inspiradoras, apoiado por CAF, vira política pública
Iniciativa busca fortalecer identidades de meninas da rede pública de ensino do Distrito Federal.
O governo do Distrito Federal decidiu incorporar o Projeto Mulheres Inspiradoras, idealizado pela professora Gina Vieira, como política pública de valorização de meninas e mulheres na rede pública de ensino local. Criado em 2014 como forma de incentivar a leitura e a escrita ao mesmo tempo em que buscava levar a reflexão sobre o fortalecimento das identidades, o Projeto se limitava a uma escola da cidade de Ceilândia, região administrativa do Distrito Federal. A iniciativa foi reconhecida nacional e internacionalmente, tendo recebido o 4º Prêmio Nacional de Educação em Direitos Humanos da Presidência da República e o I Prêmio Iberoamericano de Educação em Direitos Humanos da Organização de Estados Iberoamericanos (OEI).
Após os excelentes resultados, a Secretaria de Educação, em parceria com o CAF e com OEI, propiciou em 2017 a expansão da metodologia para ser trabalhada de maneira voluntária em outras unidades de ensino do Distrito Federal. Para isso, foi criado um curso, ministrado pela idealizadora do projeto, para professores interessados no tema.
A repercussão e os impactos positivos do projeto levaram a Secretaria a formalizar o Projeto, que passa agora oficialmente a integrar a formação continuada dos professores. A proposta pedagógica do projeto utiliza metodologia de educação voltada para a cidadania, direitos humanos e diversidade, com o objetivo de identificar as formas de violência contra meninas e mulheres, e produzir ferramentas para que essa discriminação seja desconstruída.
Para Gina Vieira, a publicação da portaria é um marco para o programa. "Temos um problema sério de descontinuidade das políticas públicas e em casos de educação para os direitos humanos, que é uma política fundamental para seguirmos avançando nos marcos civilizatórios, a gente precisa de documentos que consolidem essas políticas", afirma.
“Estamos muito honrados e felizes por termos feito parte da expansão dessa iniciativa tão importante na valorização da identidade de meninas de todo o Distrito Federal por meio da leitura e da percepção de mulheres inspiradoras”, declara Jaime Holguín, representante do CAF no Brasil.
Como nasceu o projeto
Em 2013, Gina Vieira atuava no Centro de Ensino Fundamental 12 localizado em Ceilândia, região administrativa do Distrito Federal. Ao interagir com estudantes nas redes sociais, Gina observou que os principais referenciais femininos de adolescentes e crianças eram construídos a partir de estereótipos apresentados pela grande mídia, que muitas vezes desconsiderava a individualidade de cada uma, suas riquezas, diferenças e realidades. Um caso específico chamou atenção: o vídeo em que uma ex-aluna, à época com 13 anos, dançava coreografia erótica ao som de um funk "proibidão". A situação foi o pontapé inicial para que Gina desenvolvesse a metodologia para o Mulheres Inspiradoras
Nesse projeto, Gina propôs que suas turmas estudassem a biografia de dez mulheres inspiradoras. Todos os alunos a alunas leram autoras como Anne Frank, Malala Yousafzai, Carolina Maria de Jesus, Nise da Silveira, Maria da Penha Fernandes, dentre outras. Após estudarem profundamente as biografias, as/os estudantes entrevistaram mulheres de sua comunidade e publicaram o trabalho em um livro coletivo, distribuído a familiares e representantes da rede pública de ensino em meio digital e impresso.