CAF promove inclusão de perspectiva de gênero no setor de mobilidade e transporte
Em sua publicação "Mobilidade Cotidiana com uma Perspectiva de Gênero: Guia Metodológico para o Planejamento e Projeto do Sistema de Mobilidade e Transporte", realizado em conjunto com a Secretaria de Transportes e Obras Públicas do Governo da Cidade de Buenos Aires, o CAF – banco de desenvolvimento da América Latina – apresenta a perspectiva de gênero como um olhar necessário para expandir a acessibilidade urbana. O guia baseia-se em evidências do papel que as mulheres têm na economia e na produtividade das cidades, para promover a definição de políticas públicas de transporte inclusivo e mobilidade.
Até agora, o planejamento da mobilidade urbana tem sido realizado por sistemas privilegiados que respondem a um modelo de masculinidade hegemônica, priorizando deslocamentos lineares por motivos de trabalho e veículo motorizado privado. Esses sistemas de mobilidade não têm levado em conta os vínculos entre as diferentes atividades do cotidiano que criam redes complexas de deslocamentos, nem os vínculos com o meio ambiente, contribuindo para uma crise ambiental, energética e assistencial em nível global.
Por outro lado, os dados indicam que, na América Latina, as mulheres fazem uma mobilidade mais sustentável, pois se deslocam principalmente a pé ou com transporte público em maior proporção do que os homens. Especificamente, na cidade de Buenos Aires, 51,1% das viagens diárias das mulheres são de transporte público e 28,4% a pé. Além disso, levando em conta o uso de bicicletas, 80% das mulheres se deslocam de forma sustentável, em comparação com 67,5% dos homens.
Nesse sentido, o guia metodológico do CAF propõe avançar em direção a uma mudança no paradigma da mobilidade, considerando um modelo voltado ao cotidiano das pessoas, que valoriza e coloca no centro os padrões de mobilidade sustentável das mulheres e outras identidades de gênero, priorizando a mobilidade a pé, de bicicleta e do transporte público, não só porque são hábitos de viagem mais sustentáveis e saudáveis, mas também porque são mais igualitários.
Assim, o objetivo da publicação é fornecer conceitos e ferramentas para análise, aplicação, avaliação e monitoramento para integrar a perspectiva de gênero aos sistemas de mobilidade e transporte. Está estruturado de acordo com os diferentes passos a seguir no planejamento da mobilidade com uma perspectiva de gênero.
"Ao incorporar as mulheres nos processos de tomada de decisão e operação, também enriqueceremos a visão das necessidades e amaciaremos um pouco esse sistema que, em alguns casos, tem um paradigma ainda antigo, e não nos leva em conta quando pensamos em nossas necessidades", disse Lucila Capelli, subsecretária de Planejamento da Mobilidade da Cidade de Buenos Aires.
Concretamente, a inclusão da perspectiva de gênero no planejamento da mobilidade significa progresso em três áreas: primeiro, garantir uma visão completa e abrangente da mobilidade cotidiana; em segundo lugar, ampliar o conceito de segurança da mobilidade, levando em conta a violência contra a mulher e percepções diferenciadas de segurança; e terceiro, avançar em direção à igualdade de gênero e ao aumento das mulheres no planejamento, projeto e gestão da mobilidade.
Além disso, o vice-presidente de Infraestrutura do CAF, Antonio Pinheiro Silveira, ressaltou que: "O objetivo do CAF em incentivar esse guia é promover a inclusão da perspectiva de gênero no setor de mobilidade e transporte, por meio da aplicação de ferramentas práticas de planejamento, projeto e implementação de intervenções de mobilidade urbana que considerem as diferentes necessidades de deslocamento das mulheres, homens, meninas e meninos, com foco na mobilidade diária das pessoas".
O guia propõe 5 qualidades que a mobilidade deve ter com base na perspectiva de gênero, a saber:
- Mobilidade cotidiana e atenciosa: refere-se ao projeto do sistema de mobilidade, que - por meio de rotas funcionalmente úteis, multimodais e multiescalas - deve apoiar tarefas assistenciais, não remuneradas e as dos trabalhadores domésticos.
- Mobilidade acessível e diversificada: tem como objetivo garantir que o sistema de mobilidade e transporte responda à diversidade de necessidades, ritmos, corpos, estados de saúde e níveis econômicos.
- Mobilidade segura e livre: busca ampliar o conceito de segurança no transporte, incorporando a abordagem à violência contra a mulher, assédio sexual e outros crimes de ódio; e, por sua vez, condiciona a percepção de medo e segurança à mobilidade das pessoas, em particular mulheres e meninas.
- Mobilidade noturna e festiva: tem como objetivo analisar e atender à mobilidade no ciclo 24/7 -24 horas, 7 dias por semana-.
- Mobilidade igualitária e participativa: promove a igualdade de gênero nas equipes de trabalho em todos os níveis do sistema de mobilidade e transporte, ao mesmo tempo em que busca incentivar a participação ativa das mulheres nas políticas de mobilidade.
Essa publicação é outro exemplo do compromisso do CAF em gerar e disseminar conhecimento sobre as melhores práticas, a fim de identificar instrumentos de políticas públicas que promovam a inclusão e a igualdade de gênero no âmbito de políticas de transporte sustentável.
É preciso frisar que o CAF evoluiu em sua estratégia regional de mobilidade de acordo com os novos paradigmas globais e regionais. Nesse sentido, o desenvolvimento bancário está cada vez mais focado no interesse dos usuários, além do modo de transporte e/ou infraestrutura. Nessa abordagem, na última década, a instituição promoveu diversos programas de mobilidade urbana que contribuem para a melhoria da acessibilidade e conectividade nas cidades latino-americanas com foco na inclusão e igualdade social.