Cinco marcos do desenvolvimento latino-americano em 2021

24 de dezembro de 2021

“Visiones del Desarrollo” é uma seção oferecida pelo CAF -banco de desenvolvimento da América Latina- que analisa os principais temas de desenvolvimento da região. Os artigos contidos nessa seção são publicados simultaneamente nos principais meios de comunicação da América Latina.

 

Cinco marcos do desenvolvimento latino-americano em 2021

Apesar dos desejos e esperanças de boa parte da humanidade, 2021 permanecerá em nossa memória como mais um ano marcado pela pandemia. Foi o ano em que começamos a ver a luz ao fim do túnel, graças às vacinas, e houve também uma certa euforia econômica depois de se registar uma retomada do crescimento em nível global. As consequências sociais e pessoais no sistemas de saúde e em grande parte da atividade econômica, no entanto, continuaram a fazer pender a balança para a crise.

Estima-se que o crescimento econômico da América Latina e Caribe, em 2021, foi de 6,3% do PIB, algo muito positivo após a forte recessão de 2020. Especialistas, no entanto, preveem que manter esses níveis de crescimento será difícil nos próximos anos, de modo que os países da região terão que fortalecer seus sistemas de proteção social, investir mais e melhor em infraestrutura e trabalhar para aumentar a produtividade e a competitividade.

De qualquer forma, 2021 nos deixa com alguns marcos de desenvolvimento na América Latina e Caribe que merecem destaque:

  • Vacinação evolui na América Latina e Caribe
    Enquanto o Ocidente e a China avançavam seus processos de vacinação em ritmo frenético, as regiões em desenvolvimento tinham dificuldade de acesso às vacinas, em parte devido à falta de medicamentos e infraestrutura precária. Atualmente, 57% da população mundial está vacinada.

    Mas, ao longo de 2021, a América Latina e o Caribe se recuperaram e, no fim do ano, 56% da população latino-americana está vacinada, enquanto, nos EUA e na UE, aproximadamente, 61,5%, e, na China, perto de 80%. As diferenças na região também são notáveis, com países como Chile e Cuba com taxas de vacinação superiores a 80%, outros com percentuais também elevados, como Argentina (69%), Brasil (66%) e Uruguai (76%), e outros mais modestos, abaixo dos 40%. Apesar dos contratempos iniciais, todos os países têm planos de vacinação ambiciosos para alcançar a imunidade de rebanho nos próximos meses, um sinal da capacidade de resposta da região.
  • Retomada econômica
    Estima-se que a região cresça 6,3% em 2021, um movimento necessário após a recessão registrada no ano passado e que permitiu que setores econômicos se recuperassem e impulsionassem outros, como comércio eletrônico ou streaming. Apesar dessa boa notícia, os grandes desafios estruturais na América Latina e no Caribe continuam mais relevantes do que nunca após a pandemia. Um deles é o baixo crescimento potencial, cujo enfraquecimento, desde 2015, desacelerou a redução da pobreza e da desigualdade ocorrida desde a década anterior. Entre 2015 e 2020, a pobreza aumentou, aproximadamente, 6 pontos percentuais em relação ao mínimo de 27,8% alcançado em 2014. Metade dessa deterioração ocorreu com o colapso da atividade e do emprego causado pela pandemia, em 2020.

  • América Latina e Caribe, líderes em ação climática
    Mais de 40 mil especialistas internacionais em clima se reuniram em Glasgow para a COP26, uma cúpula global que foi convocada para aumentar a ambição de reduzir as emissões de gases de efeito estufa e, assim, alcançar a neutralidade de emissões até 2050.

    Para a América Latina e o Caribe, foi um avanço em seu posicionamento como atores relevantes e necessários no combate ao aquecimento global, graças, principalmente, à sua rica biodiversidade. A região também avançou na expansão do financiamento para iniciativas de adaptação e mitigação e em seu compromisso com soluções baseadas na natureza. Durante a COP26, o CAF anunciou que, nos próximos cinco anos, destinará USD 25 bilhões ao fomento do crescimento verde na região, o que significa que as operações verdes passarão de 24%, hoje, para 40%, em 2026.
  • A digitalização no centro das agendas dos países
    A pandemia acelerou em vários graus a digitalização de empresas, comércio, educação e governo, globalmente. A região tem a oportunidade de consolidar a transformação digital com maior investimento em infraestrutura para conectividade, aumentar o uso produtivo de tecnologias digitais, fechar as lacunas de acesso em residências e trabalhadores e melhorar as garantias de privacidade de dados. Além disso, a escala regional pode ser usada para promover um mercado digital regional que facilite a conectividade e o empreendedorismo digital.
  • Tempo de multilateralismo
    A crise também mostrou a necessidade de criar novos consensos e unir diferentes atores para promover soluções. Nesse sentido, o papel dos bancos de desenvolvimento tem sido estratégico na mobilização de recursos para a região, servindo como correia de transmissão do capital extrarregional e inovando em produtos financeiros para fortalecer setores que promovem o desenvolvimento sustentável, geram empregos e ajudam a reduzir a pobreza.

    Neste sentido, no início de dezembro, o Conselho de Administração do aprovou por consenso uma capitalização de 7 bilhões de dólares, o que permitirá dobrar a carteira até 2030, com foco na estratégia de um banco verde e um banco de reativação econômica, para ajudar a lançar as bases para um mundo mais próspero, inclusivo e região respeitosa com o meio ambiente.