Sem inclusão financeira não há igualdade de gênero
04 de março de 2022
Visões de Desenvolvimento é uma seção promovida pelo CAF -banco de desenvolvimento da América Latina- que analisa as principais questões relacionadas ao desenvolvimento da região. Seus artigos são publicados simultaneamente nos principais meios de comunicação da América Latina.
A igualdade de gênero continua sendo uma das principais tarefas pendentes na América Latina e no Caribe. As frentes de trabalho são muitas, muito amplas e complexas, e vão desde garantir a segurança física das mulheres até fomentar uma participação mais igualitária na economia, garantir seus direitos e promover sua autonomia financeira e sua capacidade para tomar decisões de forma autônoma.
A gestão das finanças nas famílias é um dos pontos cruciais no caminho para a igualdade de gênero. De acordo com um novo relatório do CAF, atualmente as mulheres tomam menos decisões financeiras do que os homens nos lares latino-americanos. Após analisar os casos de Brasil, Colômbia, Equador e Peru, a pesquisa garante que, nos domicílios dos quatro países analisados, 33% das mulheres tomam decisões financeiras por conta própria, em comparação com 48% dos homens.
Essa realidade reflete a necessidade de melhorias no acesso das mulheres ao setor financeiro. Para tanto, segundo os especialistas, é necessária uma maior educação financeira que possibilite melhorar os níveis de poupança e gestão do dinheiro, o acesso ao sistema de crédito, a autoconfiança e as habilidades digitais e de negociação. De qualquer forma, para se atingir uma inclusão financeira efetiva das mulheres, também será fundamental envolver os homens.
“É preciso trabalhar em estratégias de educação financeira e criar indicadores desagregados por gênero para desenhar políticas públicas que reduzam as desigualdades e estimulem uma maior participação das mulheres na economia de seus países”, diz Diana Mejía, especialista sênior em Inclusão Financeira do CAF.
Segundo Mejía, isso envolve trabalhar na redução de lacunas nos comportamentos, planejamentos, atitudes e conhecimentos financeiros, bem como na inclusão financeira e nas questões de vulnerabilidade. Além disso, mostra-se necessário trabalhar na melhoria do acesso, do uso, da qualidade e do impacto dos produtos financeiros no bem-estar financeiro das mulheres.
Em primeiro lugar, parece evidente que para fazer parte do sistema financeiro formal é necessário ter uma conta bancária ou em alguma instituição financeira. Mas de acordo com dados do Global Findex, 57,4% dos homens têm uma conta, em comparação com 51,4% das mulheres, o que significa que cerca de 160 milhões de mulheres na América Latina e no Caribe não têm uma conta.
Também há grandes lacunas no que se refere à utilização de produtos financeiros. De acordo comestudos recentes, embora existam diferentes segmentos em função dos perfis e necessidades, as mulheres tendem a ter menos confiança em questões financeiras e mais aversão ao risco. Elas tendem, por exemplo, a reduzir os gastos com eventos adversos e a poupar informalmente. A tudo isso se soma o fato de que o conhecimento financeiro é ainda muito baixo, tanto para os homens quanto para as mulheres. Com isso nos referimos a fazer cálculos de juros simples e a entender o que são juros compostos ou inflação.
A qualidade dos produtos financeiros da região também pode ser melhorada, e é necessário criar novos serviços que levem em conta os traços diferenciais das mulheres para incentivar uma tomada de decisões informada.
“Atualmente existe uma oportunidade de gerar novas alianças e fortalecer as já existentes com o ecossistema fintech da região, uma vez que ele fornece soluções de pagamento por meio de carteiras eletrônicas que facilitam a expansão do acesso aos produtos e serviços financeiros das mulheres, e alguns também se adaptam às necessidades específicas das mulheres”, diz Mejía.
Gerar um ambiente financeiro adequado, no qual as mulheres confiem e se sintam seguras para comunicar suas necessidades, é uma condição necessária para diminuir as lacunas de gênero na região. Para isso, é essencial impulsionar a educação financeira, fortalecer as habilidades das mulheres e criar produtos financeiros com uma perspectiva de gênero.
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