Condenados à pobreza? CAF apresenta propostas para promover a mobilidade social na América Latina e no Caribe

12 de dezembro de 2022

Embora muitas pessoas da nossa região hoje superem seus pais nos níveis educacionais, o avanço não se dá da mesma maneira no que se refere a trabalho ou renda. Sem mobilidade social, a equidade, o crescimento e a estabilidade político-institucional dos países podem ser comprometidos. Esses são alguns dos temas abordados no novo Relatório de Economia e Desenvolvimento do CAF -banco de desenvolvimento da América Latina. qwergggg

CAF apresenta propostas para promover a mobilidade social

A desigualdade na América Latina e no Caribe é muito alta e permanece consistentemente acima do que pode ser observado em outras regiões. Hoje, na região, enquanto os 10% mais ricos detêm 55% da renda e 77% da riqueza, os 50% mais pobres detêm 10% da renda e apenas 1% da riqueza. Outras formas de medir a desigualdade econômica atestam o mesmo padrão, que é analisado em detalhes no novo Relatório de Economia e Desenvolvimento (RED2022) do CAF -banco de desenvolvimento da América Latina, intitulado Desigualdades herdadas: o papel das habilidades, do emprego e da riqueza nas oportunidades das novas gerações.

Essa persistente e alta desigualdade está assentada em raízes profundas, passadas de geração em geração. A falta de oportunidades para formar capital humano, conseguir bons empregos nos mercados de trabalho e acumular ativos são fatores-chave por trás da conexão intergeracional das desigualdades. O relatório apresenta evidências abundantes indicando que, na América Latina e no Caribe, as oportunidades nessas três áreas são distribuídas de forma muito desigual entre pessoas de famílias de diferentes níveis socioeconômicos.

“A baixa mobilidade social é um grande problema para a América Latina e o Caribe. Não só por conta de suas consequências sobre a equidade, mas também devido a seu impacto em outros componentes centrais do desenvolvimento econômico, como o crescimento e a estabilidade político-institucional. A falta de mobilidade social tende a alterar os incentivos ao esforço e a distorcer a alocação de talentos humanos, afetando, assim, os níveis de produtividade e crescimento. Além disso, a alta persistência intergeracional derivada da desigualdade de oportunidades pode corroer a confiança entre os cidadãos e nas instituições”, explicou Dolores de la Mata, coautora do relatório e economista-chefe da Diretoria de Pesquisas Socioeconômicas do CAF

A publicação mostra a importante expansão educacional que a região vivenciou ao longo do século XX e que, no entanto, não foi suficiente para melhorar a situação relativa dos filhos das pessoas menos escolarizadas. Isso se deveu ao fato de que a expansão educacional para os grupos mais vulneráveis se concentrou em baixos níveis educacionais, como o primário e, em menor grau, o secundário, enquanto atingir níveis educacionais mais altos continua sendo uma tarefa pendente. Por exemplo, a fração de filhos de pais não universitários que conseguem concluir estudos universitários ainda é muito baixa na região, mal ultrapassando 10%.

De acordo com o RED2022, aqueles que conseguiram superar seus pais em níveis educacionais não necessariamente alcançaram progressos semelhantes em suas oportunidades de trabalho. Isso pode sugerir tanto que o progresso educacional não foi suficiente, quanto que a estrutura econômica da região não está conseguindo absorver ou recompensar esses níveis mais altos de educação. Além disso, esses resultados são consistentes com a baixa mobilidade intergeracional de renda, que posiciona a América Latina e o Caribe como a região com maior persistência desse problema em todo o mundo.

“A região exige melhorias tanto na cobertura quanto na qualidade e na relevância do ensino básico, técnico-profissional e superior. Mas, entre as políticas que podem dar um maior impulso à mobilidade intergeracional, há também aquelas que visam a aliviar as principais restrições que limitam os investimentos dentro dos lares em crianças e adolescentes e que incluem não só os aspectos financeiros, mas também os informativos e de garantias”, adicionou Dolores de la Mata.

 

Oportunidades de emprego e poupança

O diagnóstico do RED 2022 sugere que concentrar esforços em grupos populacionais como afrodescendentes, indígenas, mulheres de origens mais vulneráveis ​​e os residentes de áreas segregadas pode ajudar a melhorar as oportunidades de mobilidade ocupacional e de renda. O relatório aponta que focar em políticas com critérios espaciais ou geográficos é importante, porque a localização geográfica dos pais também condiciona as oportunidades de trabalho dos filhos. Muitas das novas gerações vivem no mesmo bairro onde seus pais viviam. Isso é afirmado por 45% dos entrevistados pelo CAF, sendo que mais de um terço deles mora na mesma casa onde seus pais moraram.

“A igualdade de oportunidades de emprego exige, em grande medida, a redução das desigualdades entre regiões e entre diferentes áreas dentro das cidades da região. Diferentes políticas podem colaborar para esse objetivo, como as que melhoram a infraestrutura urbana básica e os equipamentos essenciais para a oferta de serviços de educação, saúde e segurança pública, entre outras”, reiterou Lucila Berniell, também coautora da publicação e economista-chefe da Diretoria de Pesquisas Socioeconômicas do CAF.

Segundo o ponto de vista levantado no relatório, políticas que não são usualmente pensadas como promotoras de mobilidade social tornam-se peças centrais do leque de políticas para a igualdade de oportunidades. É o caso, por exemplo, das melhorias da infraestrutura de transporte público, que têm o potencial de trazer oportunidades de emprego de qualidade para populações residentes em áreas desfavorecidas, longe dos centros produtivos.

Em termos das possibilidades de poupança e acumulação de ativos, o RED 2022 mostra o importante papel desempenhado na região pelas heranças e os problemas relacionados à inclusão financeira desigual. “A análise das causas desse fenômeno permite propor diversos espaços políticos que poderiam favorecer uma maior mobilidade da riqueza. Analisamos, por exemplo, o potencial dos sistemas fiscais, o desenvolvimento dos mercados de crédito hipotecário, as intervenções para melhorar as condições de aquisição de habitação, bem como a promoção de um maior conhecimento financeiro e o reforço de esquemas de seguros sociais e privados que protejam as famílias mais vulneráveis contra os riscos que mais afetam seus ativos, como os riscos climáticos e macroeconômicos”, acrescentou Lucila Berniell.

O relatório conclui com uma série de recomendações para proporcionar às novas gerações maiores oportunidades de acúmulo de competências, melhorar o funcionamento dos mercados de trabalho para que ofereçam alternativas de qualidade a todos os trabalhadores e promover formas seguras e rentáveis ​​de acumulação de ativos para todos os membros da sociedade. As propostas indicam que a conquista de uma maior mobilidade social na região está nas mãos de múltiplos atores, tanto do setor público quanto do privado, o que impõe o grande desafio de alcançar os consensos necessários para ampliar políticas redistributivas que quebrem os laços intergeracionais da desigualdade.

 

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