CAF, ALADI e CEFIR organizaram fórum internacional de integração e solidariedade regional

02 de julho de 2024

A organização financeira apoiou esta iniciativa para avançar em cooperação e integração, conforme estabelecido no Consenso de Brasília, ao lado de importantes personalidades, especialistas e autoridades políticas.

Com a presença de figuras proeminentes e representantes de organizações nacionais e internacionais, a CAF -banco de desenvolvimento da América Latina e do Caribe, a Associação Latino-Americana de Integração (ALADI) e o Centro de Formação para a Integração Regional (CEFIR) organizaram o Fórum Internacional "Integração e Solidariedade Regional - Desafios do Consenso de Brasília", realizado na sede da ALADI em Montevidéu.

O evento contou com um painel intitulado "América Latina diante dos desafios da integração", que contou com a participação do Secretário-Geral da ALADI, Sergio Abreu; o Presidente da CAF, Sergio Díaz-Granados; o Presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) Aloizio Mercadante; e os ex-presidentes uruguaios Julio María Sanguinetti e José Mujica.

"Este é um encontro de integração e harmonia. A região precisa de harmonia e diálogo. Não mais amigos e inimigos do ponto de vista da estratégia comercial, porque se não há investimento, não há comércio; se não há comércio, não há emprego; se não há emprego, não há paz social; e se não há paz social, não há instituições," disse o Secretário-Geral da ALADI, Sergio Abreu, que apresentou o painel.

Díaz-Granados disse que "precisamos ver o desafio da integração regional como uma encruzilhada. Estamos em um momento de grandes tensões globais, com mudanças tecnológicas aceleradas, a realidade da mudança climática e as questões pendentes de desigualdade e pobreza. É um mundo marcado pela incerteza."

Nesse contexto, ele chamou a trabalhar por uma "integração efetiva" e lembrou que isso não foi alcançado nem mesmo durante a pandemia. "Precisamos tomar as lições recentes para reforçar novamente os laços da integração na região," enfatizou.

Díaz-Granados mencionou que, segundo estudos da CAF, "poderia haver pelo menos um crescimento de 1,8% se pudéssemos integrar melhor a região." Nesse sentido, ele propôs reforçar os vínculos com outras organizações e bancos, "não a partir da competição, mas da colaboração e tentando alinhar as equipes e as capacidades financeiras na mesma direção."

Enquanto isso, Mercadante advertiu que, no contexto atual de tensão entre o Ocidente e o Oriente, "a democracia está sob ataque. É um sistema que precisa incorporar novos direitos das pessoas e não está fazendo isso. A polarização crescente é uma ameaça à democracia, que é um sistema tão poderoso que até aqueles que a negam podem se candidatar às eleições." Além disso, há o protecionismo dos Estados Unidos e da União Europeia que afeta os países da América Latina, além dos desastres naturais resultantes da mudança climática.

Para enfrentar todas essas ameaças, Mercadante afirmou que é importante "ter mais ousadia na integração educacional na região. Precisamos quebrar a burocracia e aproximar mais a inteligência regional para termos uma comunidade intelectual comprometida com a integração."

Sanguinetti sugeriu que, para avançar na integração, devemos apelar às instituições e mecanismos jurídicos já existentes. Em um mundo assolado por guerras e mudanças climáticas, ele considerou que "o grande desafio é político. A própria democracia está ameaçada," pois é "excludente internamente e, a partir daí, começa a ser excludente também no âmbito internacional."

Sanguinetti referiu-se ao processo do Mercosul desde a sua fundação, que foi "cheio de ânimo, otimismo e esperança" até surgirem "desentendimentos políticos entre os governos". No entanto, esses "não separaram os povos. A liberdade deve continuar nos unindo, e para isso, a liderança política é imprescindível e deve buscar consensos."

Mujica concordou com Sanguinetti, afirmando que "não é necessário criar coisas novas. Devemos usar o que já existe, pedir aos governos da nossa América que utilizem os recursos e instituições que já estão lá. Precisamos tomar cuidado para não ideologizar o senso comum e focar em coisas concretas que o povo possa entender. Muitas dessas coisas nem precisam de dinheiro, apenas de vontade política."

Por outro lado, ele alertou que, embora devamos buscar a integração, isso não significa "ficar prisioneiros do consenso. Se continuarmos assim, ficamos paralisados. Vamos construir. Precisamos continuar construindo, pressionando moralmente, pedindo aos governos e apoiando-os sem julgá-los."

Essa última atividade do fórum, coordenada por Christian Asinelli, vice-presidente da CAF, incluiu mensagens do presidente do Chile, Gabriel Boric, e do ex-presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos.

Boric disse, "Desde o Consenso de Brasília, avançamos em questões como os fenômenos migratórios, a segurança e as ações conjuntas em resposta a desastres climáticos. Estas são maneiras concretas de alcançar a integração entre os povos latino-americanos. Temos todas as condições para nos integrarmos. Existem diferentes mecanismos nos quais podemos trabalhar de forma mais colaborativa. Vamos continuar trabalhando na integração latino-americana com ações, não apenas com palavras."

Santos destacou a importância de "promover uma integração profunda e sustentada na América Latina. A integração agora é uma questão de sobrevivência, não apenas por causa da mudança climática, que está atingindo nossa região duramente, mas também devido ao risco crescente de guerra nuclear, à revolução da inteligência artificial e à possibilidade de novas pandemias. As ameaças presentes e potenciais tornam imperativo dialogar, cooperar e fazer mais, sempre unidos."

Durante o evento, também foram realizadas as reuniões de trabalho "Consenso de Brasília: Rumo a um Protocolo de Cooperação em Desastres Socioambientais" e "O Consenso de Brasília na Encruzilhada da Integração Regional", no formato de diálogo aberto, com notáveis palestrantes nacionais e internacionais.

O objetivo do fórum foi desenhar o roteiro que será apresentado na COP16 sobre biodiversidade, a ser realizada em outubro na cidade de Cali. Para se envolver e contribuir para a elaboração desta agenda, a ministra do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Colômbia, Susana Muhamad, participou do evento.

Este esforço responde a um dos desafios da integração regional para enfrentar riscos e desastres naturais, como os vividos recentemente com os incêndios no Chile, a seca na bacia do Prata ou a devastadora situação após as inundações no sul do Brasil.

Além disso, o objetivo geral do evento foi promover o diálogo sobre os desafios para a integração regional, especialmente aqueles incluídos no Consenso de Brasília, celebrado em maio de 2023 por iniciativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e que conta com um roteiro aprovado posteriormente pelos chanceleres da região.