CAF, Feira Preta e Plano CDE lançam estudo inédito sobre afroempreendedorismo na América Latina
13 de novembro de 2024
O CAF, em parceria com o Instituto Feira Preta e o Plano CDE, lançou um estudo pioneiro sobre o afroempreendedorismo na América Latina, que revela dados essenciais sobre os desafios enfrentados por três mil empreendedores afro na Argentina, Brasil, Colômbia, Peru e Panamá, sendo mulheres a maioria deles (80%). As descobertas destacam a necessidade urgente de apoio para superar as barreiras que dificultam o crescimento de seus negócios.
O CAF, o Instituto Feira Preta e o Plano CDE lançaram um estudo pioneiro sobre o afroempreendedorismo na América Latina, que analisa o perfil e os desafios de três mil afroempreendedores na Argentina, Brasil, Colômbia, Peru e Panamá. O estudo evidencia a necessidade de apoiar esses empreendedores, majoritariamente mulheres (80% dos entrevistados), que enfrentam barreiras significativas para o desenvolvimento de seus negócios.
O estudo mapeia as realidades desses negócios, focando em questões como identidade, autoestima, acesso ao crédito, gestão e funcionamento das empresas, além dos impactos da racialidade no desenvolvimento desses empreendimentos.
Entre os dados, destaca-se que o acesso ao crédito é um obstáculo crítico, dificultado pela burocracia excessiva, altos juros e práticas discriminatórias. No Brasil, por exemplo, 51% dos afroempreendedores já vivenciaram algum tipo de discriminação racial em seus negócios, limitando sua capacidade de crescimento e aprofundando a exclusão financeira. No entanto, o Brasil lidera a formalização de empreendimentos afro com uma taxa de 71%, enquanto outros países, como Colômbia, Peru e Panamá, registram empreendedores afro com perfis acadêmicos mais elevados, o que destaca seu potencial para contribuir com o desenvolvimento de suas comunidades.
Para exemplificar, o estudo revela que 44% dos afroempreendedores no Brasil tiveram seus pedidos de crédito negados, enquanto entre pardos essa taxa é de 35% e, entre brancos, de 29%. Essa situação leva muitos afroempreendedores a recorrer a fontes informais de crédito, como amigos, familiares ou microcréditos produtivos, o que reforça a exclusão financeira estrutural enfrentada por essa população.
"Esses dados são importantes, porque ajudam a entender os desafios e a identificar as oportunidades do empresariado afro nesses países, impactando, é claro, todo o bloco. Com base nesses resultados, os governos podem implementar ações para apoiar programas e projetos voltados a essas populações", afirma Eddy Bermúdez, coordenador da Agenda de Diversidade Étnico-Racial do CAF.
Abertura e propósito dos negócios
O estudo revela que cerca de 60% dos negócios afro na América Latina foram estabelecidos durante a pandemia, com o objetivo principal de aumentar a renda e, em muitos casos, gerar benefícios diretos para suas comunidades. No ecossistema afrolatino, o Brasil se destaca com a maior taxa de formalização de empreendimentos (71%), seguido do Panamá (56%). Além disso, em países como Colômbia, Peru e Panamá, os afroempreendedores geralmente possuem nível acadêmico elevado, o que facilita uma melhor gestão de seus negócios.
As mulheres representam 80% dos afroempreendedores entrevistados, destacando seu papel predominante nesse ecossistema empresarial. No entanto, enfrentam desafios significativos em relação à renda: 48% dos negócios liderados por mulheres possuem rendimento de até um salário mínimo. Apesar dessas limitações, 59% desses empreendimentos constituem a única ou principal fonte de renda para suas famílias, o que ressalta seu impacto econômico e social.
"Este estudo nos permite estimar como os conhecimentos tradicionais dessas comunidades contribuem para a mobilidade social e econômica", destaca Adriana Barbosa, diretora executiva do Instituto Feira Preta. "As contribuições das afroempreendedoras são notáveis, por isso, qualquer iniciativa deve incorporar um forte enfoque de gênero", acrescenta.
Autoestima e identidade
O estudo revela uma confiança sólida dos afroempreendedores na qualidade de seus produtos e serviços. No Brasil, 76% dos empreendedores afro confiam muito em sua capacidade de oferecer serviços ou produtos de alta qualidade, embora esse percentual diminua para 44% em relação à confiança para vendê-los. Em outros países, os níveis de confiança são de 66% para produção e 53% para vendas. Adriana Barbosa destaca que essa confiança não só fortalece uma identidade cultural, mas também desafia estereótipos e preconceitos que podem influenciar negativamente a percepção do mercado sobre empresas lideradas por afrodescendentes.
Apesar da confiança em seus produtos, existe insegurança em relação à criação de redes de parceiros, especialmente no Panamá, onde apenas 35% dos empreendedores se sentem seguros ao gerenciar associações comerciais. Ainda assim, 89% dos entrevistados acreditam que seus negócios devem se envolver em questões raciais e muitos os consideram como empreendimentos antirracistas. O Brasil lidera com 50% dos afroempreendedores identificados como não brancos, seguido pela Argentina (47%) e pelo Peru (40%). “A intenção de participar na transformação social, com um enfoque antirracista, indica que esses negócios estão conscientes das desigualdades estruturais e buscam combatê-las”, afirma Eddy Bermúdez, do CAF.
As empresas afroempreendedoras são consideradas antirracistas não apenas por suas intenções, mas também por suas práticas: são lideradas por afrodescendentes e atendem principalmente clientes não brancos. Isso não só promove a inclusão econômica, mas também contribui para a criação de espaços de consumo e pertencimento, fortalecendo identidades e comunidades historicamente marginalizadas. Por meio de produtos e serviços que atendem necessidades específicas e valorizam práticas culturais, essas iniciativas refletem um forte compromisso com a melhoria das condições de vida da comunidade afro.
Negócios sustentáveis e o que está por vir
Em resposta a esses desafios, o CAF reafirmou seu compromisso de promover a inclusão financeira e social na região. Integrando perspectivas de gênero, inclusão e diversidade em suas operações, o CAF busca eliminar barreiras de acesso a recursos financeiros e técnicos para a população afroempreendedora. Esse esforço inclui acompanhar os países parceiros na implementação de políticas que promovam a igualdade e o exercício pleno dos direitos, facilitando a expansão de práticas sustentáveis. Alinhado a esses objetivos, o estudo também destaca que 80% dos afroempreendedores brasileiros e 61% dos peruanos operam sob critérios ESG (ambientais, sociais e de governança), demonstrando o compromisso desse ecossistema empresarial com o desenvolvimento sustentável e a transformação social.
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