A revolução tecnológica e as redes sociais mudaram o conceito de
notícia. Isso segundo o diretor da BBC World, Hernández Álvarez,
que lançou a pergunta: as pessoas se importam se a informação
recebida chegou através de um jornal reconhecido ou de um amigo no
Facebook?
Para responder essa e novas perguntas sobre os desafios do
jornalismo, a Fundação
Gabriel García Márquez para o Novo Jornalismo Ibero-americano e
o CAF -Banco de Desenvolvimento da América Latina-
reuniram, pela primeira vez, 13 diretores de agências e de meios de
comunicação de alcance global que se dedicam à cobertura da América
Latina em uma atividade prévia à Conferência Anual do
Diálogo Interamericano, em Washington, D.C.
Os diretores concordaram que a informação está nas mãos
de todos e já não é mais uma exclusividade dos canais tradicionais
de jornalismo, representando quatro desafios para os
jornalistas: escutar o que se diz nas redes, participar nessa
conversa, verificar as informações provenientes dessas redes e lhe
dar contexto.
- Escutar. Se antes os editores esperavam que as
opiniões dos leitores sobre as reportagens publicadas dias ou
semanas antes chegassem através de cartas, hoje os leitores
respondem ou criticam uma notícia no momento em que esta é
publicada na Internet. No mundo jornalístico onde era costume
escutar pouco, o cenário da carta do leitor, que poderia ser
selecionada para ser publicada e respondida, mudou. As pessoas
influenciam as próprias pessoas e, com isso, o jornalismo fica um
pouco de lado. É necessário entender como participar dessa
conversa.
- Participar. Para Boris Muñoz, chefe da seção
de editoriais do The New York Times em Espanhol, é
participando da conversa nas redes sociais que o jornalista vai
encontrar o caminho a seguir. "Participar nessa conversa ajuda o
jornalismo a inclinar os ouvidos para o que a população estava
esperando, seja como opinião, desejo, expectativa e
necessidade".
- Verificar. Gustau Alegret, da rede de
televisão NTN24, destacou que o jornalismo vive um
momento paradoxal - quando as pessoas têm mais acesso à
informação, elas buscam mais referências que digam 'isso é
verdade' ou 'aquilo não é verdade'. Nas redes, o poder de
compartilhar e multiplicar o alcance de uma notícia ou de uma
mentira é incalculável; "o jornalismo tem muito mais trabalho", mas
é necessário fazê-lo. Alejandro Varela, da agência EFE, complementa essa ideia: um usuário da
Internet pode relatar um fato, mas "a contextualização, a
ética e o trabalho de investigação não são feitos pelos
cidadãos que emitem suas opiniões no Twitter ou no
Facebook; isso é o que nós -jornalistas- fazemos".
- Contextualizar. "Nunca como agora o jornalismo é tão
necessário para entender o mundo em que vivemos", disse o
diretor da revista Semana, Alejandro Santos. Perante a
quantidade de informações que nos chegam através da Internet, cabe
ao jornalista, com as suas fontes e o seu repertório, saber dar
contexto a uma história, explicar a sua importância e prever as
suas consequências. Para Eduardo Castillo, da agência Associated Press, essa é a chave para que
muitos jornalistas de agências e jornais se reinventem. "Devemos
passar de um jornalismo descritivo para um jornalismo
explicativo".