Os papéis de gênero que tradicionalmente relegavam a mulher ao
cuidado dos filhos e do lar estão mudando na América Latina. Prova
disso é que, nos últimos 20 anos, mais de 70 milhões de
mulheres se somaram à força de trabalho da região, fato que ajudou,
entre outros, para a redução significativa da pobreza e para
impulsionar o crescimento da classe média.
De todos os modos, as
desigualdades de gênero continuam sendo persistentes: as
mulheres ganham menos que os homens pelo mesmo trabalho;
sua representação nas instituições públicas também é menor;
a violência doméstica cobrou 1.678 vidas em 2014;
e as mulheres continuam sofrendo desproporcionalmente com a
pobreza, a discriminação e a exploração.
A igualdade de gênero
significa não apenas benefícios para as mulheres e para a
sociedade, mas também para a economia. Calcula-se que
se as mulheres tivessem o mesmo nível de emprego e
empreendedorismo que os homens, o PIB da região poderia subir
14% (se for igual ao país com melhor desempenho na
região).
A seguir apresentamos os cinco
desafios que a América Latina enfrenta para obter uma real
igualdade entre homens e mulheres:
- Empoderamento
econômico: as mulheres têm um imenso potencial para
dinamizar a economia dos países, mas a discriminação de gênero, em
muitas ocasiões, dificulta essas expectativas. Muitas vezes as
mulheres acabam realizando trabalhos não remunerados e pouco
seguros, e continuam ocupando menos cargos de diretoria nas
empresas. Além disso, seu menor acesso aos sistemas
financeiros limita sua participação na vida econômica.
Neste aspecto é importante promover a criação de mais produtos
financeiros para aumentar a alfabetização financeira entre essa
população, e a criação de programas de empreendedorismo para a
independização da renda.
- Mais representação
política: embora a proporção de vagas parlamentares
ocupadas por mulheres na região seja de 24% -a mais alta do mundo-
ainda existem barreiras culturais e econômicas que evitam uma maior
representação das mulheres em cargos públicos. A
representação das mulheres nos parlamentos nacionais passou de 15%
em 2000 para 23% em 2012, mas vários países da região
mantêm porcentagens muito baixas. Em países como Brasil, Panamá e
Barbados, as mulheres têm menos de 10% do total de legisladores.
Estes números destacam que as mulheres continuam atrasadas ??em
termos de sua representação política, especialmente ao se tomar em
consideração que as mulheres são a maioria da população da
região.
- Igualdade trabalhista
e salarial: apesar dos grandes progressos nos últimos
anos, a população economicamente ativa é significativamente
mais baixa entre as mulheres em relação aos homens (54% e 72%,
respectivamente). Além disso, os homens continuam ganhando
mais do que as mulheres pelo mesmo trabalho. As mulheres tendem a
ter empregos no setor de serviços ou no serviço doméstico, e não em
áreas de alta tecnologia, ou em trabalhos qualificados. No Chile,
Brasil, México e Peru, profissionais do sexo masculino podem ganhar
até 25% mais do que as mulheres. Para melhorar este cenário, é
necessário contar com políticas públicas que incentivem a
participação das mulheres na força de trabalho, e o aumento da
participação das mulheres na tomada de decisões no setor
privado.
- Minimizar a violência
de gênero: em 2014 mais de 1.678 mulheres morreram simplesmente por
ser mulher. Um total de 20 países da América Latina e do
Caribe conta atualmente com leis de violência contra as mulheres,
embora apenas em oito existam recursos específicos no orçamento
nacional. O delito de feminicídio é crime em 14 países e dois o
estabeleceram como um homicídio agravado por motivos de gênero.
Quase todos os países da região têm leis contra a violência
doméstica, embora nos próximos anos os esforços devam ter como
objetivo a aplicação dessas leis.
- Fortalecimento das
instituições e da legislação de gênero: calcula-se que nos
últimos 50 anos as restrições aos direitos de propriedade da mulher
foram reduzidas pela metade, assim como os obstáculos legais que
impediam que se incorporassem integralmente à vida pública.
As leis são essenciais para alcançar a igualdade real entre
homens e mulheres. Por exemplo, eles podem obrigar o
aumento das quotas de gênero nas listas eleitorais; castigar com
mais firmeza o assédio sexual e violência de gênero; conceder
licenças maternidade mais coerentes com a realidade trabalhista; ou
garantir a representação das mulheres nas instituições
públicas.